Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 8 — Das
árvores reais e paus de lei
Capítulo
LXIV
Daqui por diante se vai dizendo das árvores reais e o
para que servem começando neste capítulo 64, que trata do vinhático e cedro.
Como temos dito das árvores de fruto, e das que têm virtude para curar enfermidades, convém que se declare as árvores reais que se dão na Bahia,
de que se fazem os engenhos de açúcar e outras obras, de cuja grandeza há tanta fama.
E parece razão que se dê o primeiro lugar ao vinhático, a que o gentio chama sabijejuba, cuja madeira é amarela e doce de lavrar, a qual é
incorruptível assim sobre a terra como debaixo dela, e serve para as rodas dos engenhos, para outras obras deles, e para casas e outras
obras-primas. Há também façanhosos paus desta casta, que se acham muitos de cem palmos de roda, e outros daqui para baixo, mui grandes; mas os
muitos grandes pela maior parte são ocos por dentro, dos quais se fazem canoas tão compridas como galeotas; e acham-se muitos paus maciços, de que
se tira tabuado de três, quatro e cinco palmos de largo. Esta madeira não se dá senão em terra boa e afastada do mar.
Os cedros da Bahia não têm diferença dos das Ilhas senão na folha, que a cor da madeira e o cheiro e brandura ao lavrar é todo um; a esta árvore
chama o gentio acajacatinga, cuja madeira se não corrompe nunca; da qual se acham mui grandes paus que pela maior parte são ocos, mas
acham-se alguns maciços, de que se tira tabuado de três e quatro palmos de largo.
Pelo Rio dos Ilhéus trouxe a cheia um pau de cedro ao mar tamanho que se tirou dele a madeira e tabuado com que se madeirou e forrou a igreja da
Misericórdia, e sobejou madeira; a qual é branda de lavrar e proveitosa para obras-primas e outras obras dos engenhos, de que se faz muito tabuado
para o forro das casas e para barcos; e faz uma vantagem o cedro da Bahia ao das Ilhas, que logo perde a fortidão do cheiro, e o fato que se mete
nas caixas de cedro não toma nenhum cheiro delas, e as obras do cedro das Ilhas nunca jamais perderam o cheiro, e danam com ele o fato
[roupa] que se nelas agasalha. |