Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XXXII
Em que se contém quantas igrejas, engenhos e embarcações
tem a Bahia.
Pois que acabamos de explicar a grandeza da Bahia e seus recôncavos, convém que lhe juntemos o seu poder, não tratando da gente, pois o fizemos
atrás.
Mas comecemos nos engenhos, nomeando-os em suma, ainda que particularmente se dissesse de cada um seu pouco, havendo que dizer deles e de sua
máquina muito, os quais são moentes e correntes trinta e seis, convém a saber: vinte e um que moem com água e quinze que moem com bois, e quatro que
se andam fazendo. Tem mais oito casas de cozer meles, de muita fábrica e mui proveitosas. Saem da Bahia cada ano destes engenhos passante de cento e
vinte mil arrobas de açúcar, e muitas conservas.
Tem a Bahia com seus recôncavos sessenta e duas igrejas, em que entra a Sé e três mosteiros de religiosos, das quais são dezesseis freguesias
curadas, convém a saber: nove vigararias que paga Sua Majestade e outras sete pagam aos curas os fregueses, e a maior parte das outras igrejas têm
capelães e suas confrarias, como em Lisboa; e todas essas igrejas estão mui concertadas, limpas e providas de ornamentos, nas quais, nos dias dos
oragos, se lhe faz muita festa.
Todas as vezes que cumprir ao serviço de Sua Majestade se ajuntarão na Bahia mil e quatrocentas embarcações: de quarenta e cinco para setenta
palmos de quilha, cem embarcações mui fortes, em cada uma das quais podem jogar dois falcões por proa e dois berços por banda; e de quarenta e
quatro palmos de quilha até trinta e cinco se ajuntarão oitocentas embarcações, nas quais pode jogar pelo menos um berço por proa; e, se cumprir
ajuntarem-se as mais pequenas embarcações, ajuntar-se-ão trezentos barcos de trinta e quatro palmos de quilha para baixo, e mais de duzentas canoas,
e todas estas embarcações mui bem remadas.
E são tantas as embarcações na Bahia, porque se servem todas as fazendas por mar, e não há pessoa que não tenha seu barco, canoa pelo menos, e não
há engenho que não tenha de quatro embarcações para cima; e ainda com elas não são bem servidos. |