Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 3 — Da
enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhos
Capítulo XXI
Em que se declara a terra e sítio das fazendas que há da
boca de Pirajá até o Rio de Matoim.
Por este Rio de Pirajá abaixo, e da boca dele para fora ao longo do mar da baía, por ela acima, vai tudo povoado de formosas fazendas e tão
alegres da vista do mar, que não cansam os olhos de olhar para elas. E no princípio está uma de Antônio de Oliveira de Carvalhal, que foi
alcaide-mor de Vila Velha, com uma ermida de São Brás; e vai correndo esta ribeira do mar da baía com esta formosura até Nossa Senhora da Escada,
que é muito formosa igreja dos padres da Companhia, que a têm muito bem concertada; onde às vezes vão convalescer alguns padres de suas
enfermidades, por ser o lugar para isso; a qual igreja está uma légua do Rio de Pirajá e duas da cidade.
De Nossa Senhora da Escada para cima se recolhe a terra para dentro até o porto de Paripe, que é daí uma légua, cujo espaço se chama Praia Grande,
pelo ela ser muito formosa, ao longo da qual está tudo povoado de mui alegres fazendas, e de um engenho de açúcar que mói com bois e está muito bem
acabado, cujo senhorio se chama Francisco de Aguilar, homem principal, castelhano de nação.
Deste porto de Paripe, obra de quinhentas braças pela terra dentro, está outro engenho de bois que foi de Vasco Rodrigues Lobato, todo cercado de
canaviais de açúcar, de que se faz muitas arrobas.
Do porto de Paripe se vai à terra afeiçoando à maneira de ponta lançada ao mar, e corre assim obra de uma légua, onde está uma ermida de São Tomé
em um alto, ao pé do qual ao longo do mar estão umas pegadas assinaladas em uma lage, que diz o gentio diziam seus antepassados que andara por ali,
havia muito tempo, um santo, que fizera aqueles sinais com os pés.
Toda a terra por aqui é mui fresca, povoada de canaviais e pomares de árvores de espinho, e outras frutas da Espanha e da terra, de onde se ela
torna a recolher para dentro, fazendo outra praia mui formosa e povoada de mui frescas fazendas, por cima das quais aparece a igreja de Nossa
Senhora do Ó, freguesia da povoação de Paripe, que está junto dela, arruada e povoada de moradores, que é a mais antiga povoação e julgado da Bahia.
Desta praia se torna a terra a afeiçoar à maneira de ponta para o mar, e na mais saída a ele se chama a ponte do Toquetoque, de onde a terra torna
a recuar para trás até a boca do Rio de Matoim, tudo povoado de alegres fazendas. Do porto de Paripe ao Rio Matoim são duas léguas, e de Matoim à
cidade são cinco léguas. |