Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 2 —
Descrição topográfica da Bahia
Capítulo VIII
Em que se declara o sítio da cidade, da Sé por diante.
A Sé da Cidade do Salvador está situada com o rosto sobre o mar da Bahia, defronte do ancoradouro das naus, com um tabuleiro defronte da porta
principal, bem a pique sobre o desembarcadouro, donde tem grande vista.
A igreja é de três naves, de honesta grandeza, alta e bem assombrada, a qual tem cinco capelas muito bem feitas e ornamentadas, e dois altares nas
ombreiras da capela-mor. Está esta Sé em redondo cercada de terreiro, mas não está acabada da torre dos sinos e da do relógio, o que lhe falta, e
outras oficinas muito necessárias, por ser muito pobre e não ter para fábrica mais do que cem mil-réis para cada ano, e estes muito mal pagos.
Serve-se nesta igreja o culto divino com cinco dignidades, seis cônegos, dois meios cônegos, quatro capelães, um cura e um coadjutor, quatro moços
de coro e mestre da capela, e muitos destes ministros não são sacerdotes; e ainda são tão poucos, fazem-se nela os ofícios divinos com muita
solenidade, o que custa ao bispo um grande pedaço da sua casa; por contentar os sacerdotes que prestam para isso, com lhes dar a cada um, um tanto
com que queiram servir de cônegos e dignidades, que os clérigos fogem, por não ter cada cônego mais de trinta mil-réis, e as dignidades a trinta e
cinco, tirado o deão, que tem quarenta mil-réis, o que lhes não basta para se vestirem.
Pelo que querem antes ser capelães da Misericórdia ou dos engenhos, onde têm de partido sessenta mil-réis, casas em que vivam e de comer; e nestes
lugares rendem-lhes suas ordens e pé de altar outro tanto.
Está esta Sé muito necessitada de ornamentos, e os de que se serve estão mui danificados; e de maneira que, nas festas principais, se aproveita o
cabido dos das confrarias, onde os pedem emprestados; de que Sua Majestade não deve estar informado, que se o estivera, tivera já mandado prover
esta necessidade em que está o culto divino, pois manda receber os dízimos deste seu Estado, cuja cabeça está tão danificada, que convém acudir-lhe
com remédio devido com muita presteza. |