Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA
TÍTULO 2 —
Descrição topográfica da Bahia
Capítulo VI
Em que se declara o clima da Bahia, como cruzam os ventos
na sua costa e correm as águas.
A Bahia de Todos os Santos está arrumada em treze graus e um terço, como fica dito atrás; onde os dias em todo o ano são quase iguais com as
noites e a diferença que têm os dias de verão aos do inverno é uma hora até hora e meia. E começa-se o inverno desta província no mês de abril, e
acaba-se por todo o julho, em o qual tempo não faz frio que obrigue aos homens se chegarem ao fogo, senão ao gentio, porque andam despidos.
Em todo este tempo do inverno correm as águas ao longo da costa a cem léguas ao mar dela, das partes do Sul para os rumos do Norte, por quatro e
cinco meses, e às vezes cursam os ventos do Sul, Sudoeste e Leste-Sudeste, que há travessia na costa de Porto Seguro até o Cabo Santo Agostinho.
Começa-se o verão em agosto como em Portugal em março, e dura até todo o mês de março, no qual tempo reinam os ventos Nordestes e Leste-Nordestes
e correm as águas na costa ao som dos ventos da parte do Norte para o Sul, pela qual razão se não navega ao longo desta costa senão com as monções
ordinárias.
Em todo o tempo do ano, quando chove, fazem os céus da Bahia as mais formosas mostras de nuvens de mil cores e grande resplendor, que se nunca
viram noutra parte, o que causa grande admiração.
E há-se de notar que nesta comarca da Bahia, em rompendo a luz da manhã, nasce com ela juntamente o sol, assim no inverno como no verão. E em se
recolhendo o sol à tarde, escurece juntamente o dia e cerra-se a noite; a que matemáticos dêem razões suficientes que satisfaçam a quem quiser saber
este segredo, porque os mareantes e filósofos que a esta terra foram, nem outros homens de bom juízo não têm atinado até agora com a causa porque
isso assim seja. |