Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS
GRANDEZAS DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS, DE SUA FERTILIDADE E DAS NOTÁVEIS PARTES QUE TEM
TÍTULO 1 — História
da colonização da Bahia
Capítulo I
Armada de Tomé de Sousa.
Atrás fica dito, passando pela Bahia de Todos os Santos, que se não sofria naquele lugar tratar-se das grandezas dela, pois não cabiam ali, o que
se faria ao diante mui largamente, logo depois que se acabasse de correr a costa, com que temos já concluído. Da qual podemos agora tratar e
explicar o que se dela não sabe, para que venham à notícia de todos os ocultos desta ilustre terra, por cujos merecimentos deve de ser mais estimada
e reverenciada do que agora é, ao que queremos satisfazer com singelo estilo, pois o não temos grave, mas fundado tudo na verdade.
Como el-rei d. João III de Portugal soube da morte de Francisco Pereira Coutinho, sabendo já das grandes partes da Bahia, da fertilidade da terra,
bons ares, maravilhosas águas e da bondade dos mantimentos dela, ordenou de a tomar à sua conta para a fazer povoar, como meio e coração de toda
esta costa, e ajudar e socorrer todas as mais capitanias e povoações dela como a membros seus; e pondo Sua Alteza em efeito esta determinação tão
acertada, mandou fazer prestes uma armada e provê-la de todo o necessário para esta empresa, na qual mandou embarcar Tomé de Sousa do seu conselho e
o elegeu para edificar esta nova cidade, de que o fez capitão e governador-geral de todo o Estado do Brasil; ao qual deu grande alçada e poderes em
seu regimento, com que quebrou as doações aos capitães proprietários, por terem demasiada alçada, assim no crime como no cível; de que eles se
agravaram à Sua Alteza, que no caso os não proveu, entendendo convir a si e a seu serviço.
E como a dita armada esteve prestes, partiu Tomé de Sousa do porto de Lisboa aos 2 dias de fevereiro de 1549 anos; e levando próspero vento chegou
à Bahia de Todos os Santos, para onde levava sua derrota, aos vinte e nove dias de março do dito ano, e desembarcou no Porto de Vila Velha, povoação
que Francisco Pereira edificou, onde pôs mil homens, convém a saber: seiscentos soldados e quatrocentos degradados e alguns moradores casados, que
consigo levou, e outros criados d'el-rei, que iam providos de cargos, que pelo tempo em diante serviram. |