Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo XLVIII
Em que se explicam os recôncavos do Cabo Frio.
O Cabo Frio está em vinte três graus; o qual parece, a quem vem do mar em fora, ilha redonda com uma forcada no meio, porque a terra, que está
entre o cabo e as serras, é muito baixa, e quando se vem chegando a ele aparece uma rocha com riscos brancos, por onde é muito bom de conhecer. E,
ainda que, pelo que se julga do mar, a terra do cabo parece ilha, e o não seja, por onde o parece, na verdade o cabo é ilha, porque o corta o mar
por onde se não enxerga de fora, mas é de maneira que pode passar um navio por entre ele e a terra firme à vontade. E tem um baixo neste canal, bem
no meio, de duas braças de fundo; o mais é alto, que basta para passar uma nau.
Perto do cabo estão umas ilhas, no meio das quais é limpo e bom porto para surgirem naus de todo porte, e não há senão guardar do que virem. Duas
léguas do cabo, da banda do Norte, está a Baía Formosa, e defronte dela ficam as ilhas, e entre essa baía e as ilhas há bom surgidouro. No fim dessa
baía para o Norte está a Casa da Pedra, perto da qual está um rio pequeno, que tem de fora bom surgidouro, e de dez até quinze braças de fundo,
afastado um pouco de uma ilha que está na boca da baía. E perto dessa ilha é alto para ancorar naus, mas perigoso, porque se venta Sudoeste e Oeste,
faz aqui dano no primeiro ímpeto, porque vem com muita fúria, como trovoada de Guiné, a qual trovoada é de vento seco e claro.
Costumavam os franceses entrar por este rio pequeno e carregar pau-brasil, que traziam para as naus que estavam surtas na baía, ao abrigo das
ilhas. Por essa baía entra a maré muito pela terra adentro, que é muito baixa, onde de 20 de janeiro até todo o fevereiro se coalha a água muito
depressa, e sem haver marinhas, tiram os índios o sal coalhado e duro, muito alvo, às mãos cheias, de baixo da água, chegando-lhe sempre a maré, sem
ficar nunca em seco. |