Trecho do capítulo, na edição de 1938 da Biblioteca Pública Alberto Sousa
PRIMEIRA PARTE - ROTEIRO GERAL DA COSTA BRASÍLICA
Capítulo V
Que declara a costa da ponta do Rio das Amazonas até o do
Maranhão.
A ponta do Leste do Rio das Amazonas está em um grau da banda do Sul; dessa ponta ao Rio da Lama há 35 léguas, a qual está em altura de um grau e
três quartos; e ainda que este Rio se chame da Lama, podem entrar por ele adentro e estarem muito seguras de todo o tempo, naus de 200 tonéis, o
qual rio entra pela terra adentro muitas léguas.
Deste rio à ponta dos baixos são nove léguas, a qual está na mesma altura de um grau e nessa ponta há abrigada para os barcos da costa poderem
ancorar.
Da ponta dos baixos à ponta do Rio Maranhão são dez léguas, onde chega a serra Escalvada, e entre ponta e ponta tem a costa algumas abrigadas,
onde podem ancorar navios da costa, a qual ponta está em dois graus da banda do Sul.
Até aqui se corre a costa Noroeste-Sueste e toma da quarta de Leste-Oeste; e dessa ponta do rio a outra ponta são 17 léguas, a qual está em altura
de dois graus e três quartos. Tem este Rio do Maranhão na boca — entre ponta e ponta delas para dentro — uma ilha que se chama das Vacas, que será
de três léguas, onde esteve Aires da Cunha quando se perdeu com sua armada nestes baixos; e aqui nessa ilha estiveram também os filhos de João de
Barros e aí tiveram povoado, quando também se perderam nos baixos deste rio, onde fizeram pazes com o gentio tapuia, que tem povoado parte desta
costa, e por este rio acima, onde mandavam resgatar mantimentos e outras coisas para remédio de sua mantença.
Por este rio entrou um Bastião Marinho, piloto da costa, com um caravelão, e foi por ele acima algumas vinte léguas, onde achou muitas ilhas
cheias de arvoredo e a terra delas alcantilada com sofrível fundo; e muitos braços em que entram muitos rios que se metem neste, o qual afirmou ser
toda a terra fresca, cheia de arvoredo e povoada de gentio, e as ilhas também. Neste rio entra o de Pindaré, que vem de muito longe.
Para se entrar neste Rio do Maranhão, vindo do mar em fora, há de se chegar bem à terra da banda de Leste por fugir dos baixios e do aparcelado, e
quem entrar por entre ela e a ilha entra seguro.
Quem houver de ir deste Rio do Maranhão para o da Lama ou para o das Amazonas, há de se lançar por fora dos baixios com a sonda na mão, e não vá
por menos de doze braças, porque esta costa até aqui dez léguas ao mar, vaza e enche nela a maré muito depressa, e em conjunção de Lua tem grandes
macaréus; mas para bem não se há de cometer o canal de nenhum destes rios senão de baixa-mar na costa, o que se pode saber pela Lua, o que convém
que seja, pelos grandes perigos que nesta entrada se oferecem, assim de macaréus, como por espraiar e esparcelar o mar oito e dez léguas da terra,
pelo que é forçado a chegar-se à terra de baixa-mar, pois então se descobre o canal mui bem; e neste Rio do Maranhão não podem entrar, por este
respeito, navios grandes. |