Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0276r.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/18/06 10:29:56
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - A MAIS ESPORTIVA
Remo, a primeira atividade esportiva santista

Leva para a página anterior
Este artigo foi publicado na edição especial comemorativa do cinqüentenário do jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), em 26 de março de 1944 (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Foi o remo o primeiro esporte a surgir em Santos

Antes da fundação do C.R. Santista, em 1893, já existiam dois outros grêmios - A primeira regata no Brasil efetuou-se em nossa cidade

Aos portugueses se deve a implantação do fidalgo esporte - Um documento histórico, a ata de fundação do Santista - Em 1905 já havia auterrigues trincados - Recebeu a curiosa denominação de "agulha" o primeiro "skiff" aparecido nos clubes de regatas - Campeões brasileiros e sul-americanos os santistas - Somente em 1920 apareceu o auterrigue a 4, de casco liso - Outras notícias interessantes

Qual o primeiro esporte a surgir em Santos? Não foi o futebol, por certo, este ano comemorar também o seu cinqüentenário de implantação no Brasil.

Muito antes do "association" pensou-se no esporte do remo. E nem era possível se encaminhassem as coisas de outro modo, com rumos diferentes. Santos aparecia como porto de mar esplêndido, onde a quietude das suas águas constituía ótimo motivo para as competições onde os músculos e a força, noutro tempo mais que outras quaisquer qualidades, faziam valer as vitórias dos tripulantes dos barcos.

A conformação do braço de mar, porto a dentro, era por si natural defesa para esses primeiros confrontos, para o desfile de embarcações diversas, e foi assim que se pensou desde logo na construção da primeira sede para um clube de regatas - a do Santista.

A Bocaina foi julgada o lugar ideal para o refúgio, ancoradouro das embarcações a remo que não podiam se aventurar ao mar aberto, malgrado a coragem dos tripulantes e a grande estabilidade das canoas e escaleres a 4 e a 6 remadores, as primeiras embarcações que se conheceram.

Antes do Santista já haviam dois outros clubes - Antes do C. R. Santista surgir oficialmente, dois outros clubes já existiam. Pontos de reunião dos vigorosos remadores da época, aos domingos regurgitavam também de famílias, que nesses dias encontravam, sem outras diversões, oportunidade para realizar alegres convescotes. Durante muitos anos, fundados mesmo outros grêmios, essas festas familiares nos clubes de regatas continuaram como bela tradição, marcando verdadeiros acontecimentos.

Não havia instalações senão a dos clubes de regatas, situados em lugares que, formando verdadeiros abrigos para os seus barcos, também apresentavam seus campos relvados para convescotes. O contato com a natureza, noutro tempo, representava algo de necessário, de imperioso, para viver, e viver com saúde, com alegria.


Uma das primeiras diretorias do Clube Internacional de Regatas, fundado em 1898
Foto e legenda publicadas com a matéria

Os dois clubes que já existiam - Pelo ano de 1893, existiam, na cidade, dois clubes de remo, o Clube Nacional de Regatas, composto de elementos nacionais e portugueses, e o Clube Internacional de Regatas, integrado, na maioria, por elementos das colônias britânica e alemã, entusiastas do esporte náutico.

Houve, todavia, certo descontentamento entre os associados de ambos os clubes, resultando, dessa contenda, negociações para a fusão dessas duas associações, tanto assim que, numa das reuniões efetuadas pelos interessados, havia sido combinado denominar-se a nova associação, por proposta do sr. José Maria de Queiroz Matos, de Clube de Regatas Sul-Americano. Esta denominação, no entanto, não agradou de modo geral, dando origem às mais animadas negociações, que aceleraram a fusão dos dois centros náuticos, marcando novo início para futuras glórias das cores azul e branco, que já eram os emblemas do Clube Nacional de Regatas, enquanto as do Internacional eram vermelho e branco, aliás conservadas mais tarde, quando da fundação do atual Clube Internacional de Regatas, surgido de uma dissidência no Clube de Regatas Santista.

Guardam os "azulões" uma relíquia desse tempo que já vai longe, um documento histórico de elevado valor, não fosse ele devido ao pincel do saudoso mestre, o genial pintor Benedito Calixto. Nessa tela, o grande Calixto representa a chegada de um páreo de "yoles-guiggs" entre o Nacional e o Internacional, em uma regata efetuada em 1893, data estampada na tela. (N.E.: Calixto pintou um quadro - pertencente ao acervo do Clube de Regatas Santista - que poderia ser assim descrito, mas que tem estampado na tela o texto "Regata de 1889").

Entre os antigos veleiros que aportavam em Santos e as características pontes dos velhos trapiches, divisa-se as duas embarcações, cujos tripulantes ostentam os seus uniformes de cores azul e branco e vermelho e branco. Finalmente, a 30 de abril de 93, realiza-se uma reunião dos associados daqueles clubes, empenhados na sua fusão, e, assim... nasceu o Clube de Regatas Santista.


A 20 de dezembro de 1901, o C. R. Santista reuniu, em sua sede, os associados
para homenagear o comandante do cruzador República.
Dessa reunião apresentamos esta curiosa fotografia
Foto e legenda publicadas com a matéria

Em Santos a 1ª regata no Brasil - Os gaúchos reivindicam para si a glória de possuir o clube mais antigo do país, o Guaíba-Porto Alegre, surgindo de uma fusão entre o Clube de Regatas Guaíba, fundado a 29 de outubro de 1892, e o Clube de Regatas Porto Alegre, fundado a 21 de novembro de 1888, portanto há 56 anos.

Em que pese tal fato, não se pode entretanto com firmeza assegurar se o esporte do remo, no Brasil, surgiu aqui, em Santos, ou em Porto Alegre, já que a ata de fundação do Clube de Regatas Santista, feita em 30 de abril de 1893, não estabelece os anos de existência dos dois clubes predecessores.

Há, porém, um fato de importância capital a provar que as primeiras regatas se efetuaram em nossa Santos. No Clube de Regatas Santista há o documento histórico do saudoso Benedito Calixto, uma tela pela qual se verifica que a primeira competição em águas do nosso porto se efetuou em 1893, enquanto que A Federação, jornal de Porto Alegre, edição de 26 de novembro de 1895, descreve a primeira regata ali efetuada entre os dois clubes existentes na época, Germânia (depois Guaíba) e o Porto Alegre.

Uma coisa, pois, parece certa, que a primeira regata a remo no Brasil foi efetuada em nossa cidade.

Eis um trecho da notícia da A Federação, edição referente à data a que aludimos:

"Realizou-se domingo a festa náutica esportiva em que tomaram parte os dois clubes de regatas desta capital, Germânia e Porto Alegre.

"Foi a primeira vez que se realizou nesta capital e teve brilhantismo e grande concorrência.

"Do chalé do clube Porto Alegre partiu, às 8 horas da manhã, o vapor S. Pedro, atopetado de cidadãos e de grande número de famílias.

"Entre os presentes, vimos representantes do comércio, na maior parte.

"A Gazeta da Tarde e A Federação enviaram representantes.

"As regatas tiveram lugar nos Navegantes, cuja praia estava também crivada de povo.

"O Clube Germânia não comportava a afluência de espectadores.

"No rio, além do S. Pedro e de outro pequeno vapor que conduzia os juízes da regata, cruzavam a todo o momento os ligeiros gigs que, no Brasil, apenas Porto Alegre e Florianópolis possuem.

"O tiro da regata foi de 1.650 metros.

"Saída - trapiche dos Navegantes.

"Chegada - Ruderverein Germânia.

"Comitê da regata: presidente, K. E. Mumssens; assistentes, S. Semler, H. Wensch, Eug. Sattler, L. Koehler, G. Wolcke.

"Juízes de saída: L. Koehler, E. Sassen.

"Juízes de chegada: Júlio Issler Filho, H. Tessdorf.

"1ª corrida, às 8 horas da manhã, disputada por dois gigs a quatro remos.

"Os dois clubes oferecem um prêmio, que deve ser ganho duas vezes pelo mesmo clube para que possa merecê-lo.

"Além desse, havia um prêmio de honra oferecido por diversos amadores.

"Levada a efeito a regata, foi vencedor o bote Undine, do Ruderverein Germânia, que levava como remadores os srs. E. Reupke, F. Gerlach, A. Barz, L. Semler, e como timoneiro o sr. H. Wensch.

"A corrida foi ganha em 6 minutos e 42 segundos.

"O segundo bote era o Agnes, do Ruderclub Porto Alegre, tripulado pelos remadores srs. A. Mundt, E. Lang, A. Bromberg, F. Bulau e timoneiro o sr. A. Bleckmann.

"Os botes partiram em regra. O Undine tomou a ponta, ficando Agnes cerca de 2 1/2 comprimentos de bote, mais ou menos 20 metros, para trás, conseguindo retomar 1 1/2 comprimento.

"Apesar dos maiores esforços da tripulação, Agnes não conseguiu avantajar-se e, depois de forte luta, Undine venceu por três segundos.

"Ambas as tripulações estavam em boa forma, fazendo o Undine 36 e o Agnes 28 remadas por minuto.

"Ouvimos dizer que o Agnes estava sobrecarregado com o peso de seu timoneiro (85 quilos), superior 25 quilos ao peso do timoneiro rival.

"Parece, pois, de bom alvitre, serem preferidos os timoneiros mais leves. E, no caso, sabemos que venceu o desejo da tripulação do Agnes em ver o governo do bote nas mãos do referido e hábil timoneiro, apesar da impugnação dos instrutores do clube e principalmente do presidente do comitê de regatas, sr. Mumssen, que não podia desprezar a grande diferença do peso".

 

"Acredita-se, em geral, que o exercício da musculatura não aproveita senão à robustez da parte impensante da nossa natureza, à formação de membros vigorosos, à aquisição de forças estranhas à inteligência.

Grosseiro erro!

O cérebro, a sede do pensamento, evolve do organismo, e o organismo depende vitalmente da higiene, que fortalece os vigorosos e constitui os débeis"

Rui Barbosa

Aos portugueses se deve a implantação do remo - Não há dúvida alguma nesta faceta da história do remo em Santos. Foram os portugueses que o implantaram, que o trouxeram da velha Europa, tornando-o divulgado, conhecido e admirado. Muito antes de 1900, casas comerciais que aqui se estabeleceram contribuíram vigorosamente para a vitória do salutar esporte: Ferreira de Sousa, Sousa Santos e Bento de Sousa. A maioria dos seus funcionários, todos jovens, vindos da velha Lusitânia, não encontravam outro derivativo para o seu trabalho senão na prática, aos domingos, de manejar os remos. Foram eles os bandeirantes da modalidade que havia de trazer para a nossa cidade os mais rutilantes louros e que mais tarde, afastando-se uns e outros, falecendo mais alguns, permitiram que a feliz iniciativa declinasse.

E quantos sacrifícios, quanta boa vontade, que esforços titânicos não se empregaram para levá-la por diante em seus primeiros passos? Quanta descrença destruída! A colônia portuguesa, entretanto, fez vingar o esporte do remo. Trabalhou por ele. Mandou vir barcos da Europa. Deu-nos os primeiros ensinamentos. No entanto, que se vê hoje? Cabe-lhe alguma parcela de culpa na situação atual? Absolutamente. Cabia, sim, aos nossos elementos, considerar o remo como um dos mais salutares esportes, trabalhar por ele sem desfalecimentos, com zelo, enfim, como lição do passado, como exemplo vivificador da saúde perfeita.

Os portugueses empenharam-se a fundo, realmente, pela prática do remo, e aí está a história dos nossos clubes, cheia de exemplo, da boa gente lusitana, à frente dos seus destinos, nas administrações e nas realizações mais importantes.

Até o Tietê, em seus primórdios, contou com os lusitanos, para a sua instalação e conseqüente desenvolvimento, podendo citar-se, entre outros, Vitor Leite Mamede, que ainda hoje rema entre os veteranos; os irmãos Cortez, Francisco Dourado e Aurélio Machado. Alguns deles chegaram ao incrível esforço de destocar o rio Tietê para que ali pudessem ser efetuadas competições!


Fotografia interessante apanhada em frente à antiga sede do C. R. Santista, em 1902,
quando da visita das comissões dos clubes de regatas do Rio de Janeiro.
Os que se acham sentados são remadores da embarcação Rio Ave
Foto e legenda publicadas com a matéria

Funda-se oficialmente o C.R. Santista - A fusão do Nacional e do Internacional, clubes que já existiam em Santos no ano de 1893, redundou no aparecimento do Clube de Regatas Santista, cuja ata de fundação, belo documento histórico que se há de conservar gerações em fora, é a seguinte:

"Aos trinta dias do mês de abril do ano de mil oitocentos e noventa e três, na casa da Rua Amador Bueno, número oito, presentes os sócios: Olegário Rocha, Domingos Leite de Azevedo Rendo, Domingos Peixoto do Rego, Serafim Pereira da Silva, Silvino Augusto da Fonseca, Joaquim Ramos de Azevedo, Manoel de Carvalho Osório, A. P. Lopes Arouca, Joaquim Lopes Gouvêa, Miguel Vizeu e o sr. José Maria de Queiroz Matos, representando o Clube Nacional de Regatas. Por não estarem presentes os srs. presidente e vice-presidente do Clube, foi, pelos sócios, convidado a presidir à mesa o sr. Olegário Rocha, que, satisfazendo o pedido, convidou o sr. Joaquim Lopes Gouvêa para seu secretário, visto não estarem presentes nenhum dos secretários do Clube.

"Aberta a sessão pelo sr. presidente, foi pelo mesmo proposta a fusão do nosso Clube com o Clube Nacional de Regatas, o que foi unanimemente aprovado. Pediu, em seguida, a palavra, o sr. José Maria de Queiroz Matos, que declarou ser a fusão de sua vontade e de todos os sócios do Clube Nacional de Regatas, ficando desta forma a fusão definitiva dos dois Clubes em um só e a sua palavra empenhada para com o Clube Internacional de Regatas nesse sentido.

"Declarou mais o sr. José Maria de Queiroz Matos ter o tesoureiro do Clube Nacional de Regatas a quantia de setecentos mil réis (700$000), na casa Zerrenner Bülow e Cia., por uma encomenda feita aos mesmos senhores, de duas embarcações. Proposta do mesmo sr. José Maria de Queiroz Matos, que estando definitiva, como está, a fusão dos Clubes Internacional e Nacional de Regatas em um só, propõe que ao novo Clube se dê o nome de Clube de Regatas Santista, o que foi unanimemente aprovado. Proposta do sr. Joaquim Lopes Gouvêa, para que o número de diretores do nosso Clube seja elevado a sete, foi aprovada por unanimidade.

"Procedendo-se em seguida à eleição da nova diretoria, que deve substituir as duas diretorias passadas, e tomar a si a direção do Clube de Regatas Santista, foram eleitos os seguintes srs.: Abrahão Bitton, presidente; Arthur Skey, vice-presidente; Manoel da Costa Oliveira, diretor; Charles Wright, diretor; Joaquim Lopes Gouvêa, tesoureiro; João Ribeiro, 1º secretário; Domingos L. A. Rendo, 3º diretor; zeladores: José Maria de Queiroz Matos, Manoel de Carvalho Osório, A. P. Lopes Arouca, Serafim Pereira da Silva, Augusto da Fonseca, Domingos Peixoto do Rego e Júlio Cesar da Silva.

"Pediu a palavra o sr. Domingos Leite de Azevedo Rendo, propondo que a nova diretoria chame à prestação de contas as duas diretorias passadas, o que foi aprovado por unanimidade. Não havendo mais nada a tratar-se, foi pelo sr. presidente encerrada a presente sessão.

"Santos, 30 de abril de 1893.

"(a) Joaquim Lopes Gouvêa, secretário".

E assim foi fundado o glorioso Santista, que, o ano passado, comemorou o seu cinqüentenário de fundação - dez lustros de gloriosos feitos pelo esporte da nossa terra, qual a A Tribuna, que hoje vê decorrer o seu cinqüentenário -, dez lustros de lutas heróicas pela cidade de Santos. Ambos, dois monumentos da cidade, a cujo patrimônio pertencem.


Grupo de remadores de há 40 anos atrás, do Internacional,
na Ponta da Praia, em frente à fortaleza velha
Foto e legenda publicadas com a matéria

Em 1905 já havia auterrigues trincados - Há de se pensar que o auterrigue, hoje um barco de classe das competições, vem de ser apresentado há uns 20 anos atrás. Entretanto, sabe-se da existência de auterrigues, trincados, é verdade, desde 1905. Quase todos os clubes os possuíam, devendo destacar-se um do Santista, que se tornou famoso, cujo nome era Europa. Conquistou magníficos resultados.

Os barcos, como se sabe, sejam eles construídos nos melhores estaleiros, sob a vigilância de experimentados técnicos no assunto, sob provas constantes de resistência e navegação antes de serem entregues às competições, nem todos saem perfeitamente iguais e com seguimento igual.

Quantas e quantas embarcações não sofrem alterações depois de oferecidas garantias dos fabricantes, sejam eles dos estaleiros britânicos, alemães, franceses ou italianos? O auterrigue Europa era, entretanto, um desses barcos cem por cento perfeitos, construídos com felicidade única. O Saldanha possuía o Guaraciaba e o Internacional possuía do mesmo modo um auterrigue que se tornou célebre.

Os auterrigues de casco liso apareceram em Santos pelo ano de 1913.

Em 1920, somente, é que os remadores cariocas vieram a conhecer os auterrigues a 4, casco liso. Nesse ano é que tripularam pela primeira vez uma embarcação de tal categoria. Pouco tempo tiveram para treinos, pois ainda em 1920 representavam o Brasil nas olimpíadas de Antuérpia com a guarnição composta por Ernesto Flores Filho (timoneiro), João Jorio, Guilherme Lorena, Alcides Short Vieira e Abrahão Saliture.

O auterrigue a 4 ainda não havia sido adotado oficialmente no Brasil, porém, não obstante, a atuação dos brasileiros naquelas olimpíadas foi magnífica. Perderam eles por escassa diferença, numa eliminatória, para os norte-americanos, já adiantadíssimos no esporte do remo e em todos os tipos de barcos internacionais. Com tal resultado, os brasileiros foram desclassificados. A guarnição nacional teve, contudo, o prazer de vencer a forte guarnição do Antuerpia Rowing Clube, num certame à margem do torneio.


Um auterrigue a 8, o barco de classe internacional,
usado nas mais famosas competições e adotado também nas olimpíadas.
Os dois primeiros remadores são Edgard Perdigão e Luís Soveral
Foto e legenda publicadas com a matéria

Skiffs? Não, apenas "agulhas" - O Internacional de Regatas, em Santos, teve a satisfação de possuir o primeiro skiff, não tão aperfeiçoado como os de hoje, mas afinal um skiff. A impressão causada pela apresentação do novo barco revolucionou o ambiente esportivo, daí nascendo os comentários para o afastamento, das competições, dos barcos pesados. Era a evolução. As construções passaram a dar especial atenção ao novo tipo de barco, que para os santistas não eram bem um skiff, mas simplesmente "agulha", devido exclusivamente à sua conformação esguia.

Embora as agulhas começassem a aparecer depois em outros clubes, somente mais tarde a Federação Brasileira das Sociedades do Remo o adotou nas provas oficiais, tanto que os campeonatos nacionais continuaram a ser disputados em canoés. O nosso José Ferreira, do Vasco, campeão individual do Brasil em três concursos efetuados na capital do país, ainda tripulou canoés. Somente em 1925 o campeonato brasileiro passou a ser disputado em skiff, enquanto que o carioca somente em 1927 o adotou.

Pode-se afirmar que e o skiff, em relação a outras embarcações de categoria internacional, foi o último a ser apresentado nas competições. E acreditamos que devido à sua delicada construção não mais possa ser modificado no sentido de se lhe tirar maior peso.

 

"O exercício metódico, executado sem exagero - porque toda demasia é prejudicial - fortalece e retempera.

A respiração larga areja os pulmões, o ritmo regula o coração, o movimento põe em jogo todas as articulações e o espírito repousa enquanto o corpo se agita, como se recolhem as asas do pássaro quando ele caminha.

A cultura física é o preparo do corpo, para que o espírito encontre meio próprio para desenvolver-se"

Coelho Neto

Em 1905 a primeira regata oficial - Fundados alguns clubes de Santos, entre os quais, por mais de uma vez, surgiram competições amistosas, urgia a fundação de uma entidade que pudesse reuni-los para as provas oficiais.

Existiu, inicialmente, a União Paulista das Sociedades do Remo de S. Paulo, mas a sua trajetória foi de curta duração. Sob a sua égide disputaram-se diversos páreos em 1905, figurando no programa escaleres a 4 e a 6 remadores. Um verdadeiro sucesso, autêntica festa para a cidade, cuja população se reuniu quase em peso para assistir e aplaudir as guarnições possantes, de titãs, dos diversos clubes.

Diversas embarcações, embandeiradas, apinhadas de povo, se colocaram à volta do ponto de chegada, vivando os competidores num entusiasmo que atingia o delírio.

A primeira regata da Federação Paulista das Sociedades do Remo, entidade que surgiu logo depois em substituição àquela, marcou, do mesmo modo, um acontecimento na cidade. Fato interessante na história do remo: o primeiro páreo da primeira regata, em canoas a 4 remos (tipo nacional), foi vencido pela seguinte guarnição: Leão Peixoto de Melo (timoneiro), Maneco Novita, Vilobaldo de Oliveira, Antônio Pedro da Silva e Luiz Soveral. Essa guarnição pertencia ao C. R. Santista.


Dois elementos da velha guarda do remo paulista, Edgard Perdigão e Luís Soveral, e que ainda sabem manejar o remo com uma desenvoltura de causar inveja aos moços de hoje
Foto e legenda publicadas com a matéria

Fase de progresso - Estabilizado o remo em Santos com a fundação de diversos clubes e da Federação Paulista das Sociedades do Remo, cuja sede, até há bem pouco tempo, permaneceu em nossa cidade, o remo santista atingiu uma fase de extraordinário progresso. Foram infrutíferas as tentativas feitas pelos clubes paulistanos para sobrepujarem as nossas guarnições e estabelecerem supremacia. Os santistas mantinham guarnições em forma impecável, turmas que brilhavam porque tinham o esporte do remo como dogma. Eram verdadeiros apóstolos do salutar esporte.

De 1915 a 1925, portanto, durante dez anos o remo santista manteve-se em situação deveras privilegiada, com absoluta superioridade sobre o da capital. No espaço de 1907 a 1925 os remadores da capital ganharam apenas um campeonato paulista e uma disputa da "Protetora", a prova máxima do remo no Estado.

O Saldanha, somente esse clube, conquistou 16 vitórias no campeonato e na "Protetora".

O Vasco nos deu um campeão brasileiro, José Ferreira, e o Internacional diversos e empolgantes triunfos com o conjunto que noutro tempo era apenas conhecido por "conjunto do Teodomiro". Formavam-no, Teodomiro F. Nascimento, Francisco Damásio e os irmãos Rocha Corrêa. Gaspar Tibau e Mário Seifer também completaram o conjunto em algumas ocasiões.

Nesse mesmo período tivemos a conquista definitiva do troféu "Marinha Mercante Brasileira", doado por Antônio Martins Lage. Concorriam sempre os clubes de São Paulo com as mais eficientes guarnições, porém jamais conseguiram um segundo lugar, sequer. Coube ao Saldanha levantar esse custoso troféu com a sua possante guarnição formada por Soveral, Perdigão, Herculano Pinto e o saudoso Policarpo Queijo.

O remo santista da geração passada encerrou sua trajetória impressionante com um largo número de triunfos obtidos por essa mesma guarnição, que mais tarde se desfez. E à despedida ainda venceu o campeonato de 1925.

Veterano esportista, há dias, falando-nos sobre o esporte do remo desde os seus primórdios, disse: o remo antigo "morreu" com a guarnição de Edgard Perdigão, Luiz Soveral, Herculano Pinto e Salvi Palmieri. Nunca mais apareceu um conjunto tão completo, que pudesse levar o remo tão a sério. Santos lamenta não poder assistir, hoje, a uma regata daquele tempo com tão decididos e experimentados elementos.

Um "quatro" que fez sucesso - Depois da geração passada, apareceu uma outra guarnição no Saldanha que empolgou. Dois dos seus elementos chegaram a tornar-se campeões brasileiros e sul-americanos. Foi a guarnição chamada "dos alemães", mas que não possuía, entretanto, nenhum alemão, ao contrário, possuía até um descendente de inglês, James Harding. Desse quarteto que se tornou famoso e invencível nas competições levadas a efeito pela Federação Paulista das Sociedades do Remo, faziam parte Carlos Perl Júnior (timoneiro), Fernando Barroso Rato, James Harding, Curt Haberland e Guilherme Furbringer.

Harding e Haberland ganharam o campeonato sul-americano de auterrigues a 2 remos, disputado no Rio de Janeiro.

Leva para a página seguinte da série