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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
Santa Casa de Misericórdia (7)

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Texto publicado na edição especial/comemorativa dos 460 anos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos, publicada em 1º de novembro de 2003 pela entidade, em formato tablóide, com edição de José Eduardo Barbosa, textos dele e de colaboradores, revisão de Isabel Machado e editoração eletrônica de Marinilza Barroso Bueno (com impressão A Tribuna e patrocínio Unibanco).

A foto abaixo explica a citação de ter o terreno frente para a Avenida Pinheiro Machado: a Avenida Cláudio Luiz da Costa só foi aberta em 1946, após a inauguração do hospital:


Foto anterior à abertura da Av. Cláudio Luiz da Costa em 1946, tomada desde o Monte Serrate,
com o Morro do Lima à esquerda e os prédios da santa Casa à direita, tendo no centro o estádio
da Portuguesa Santista e ao fundo os bairros do Campo Grande e Marapé
Foto: coleção Laire Giraud

Magestoso Templo da Caridade

Você que ficou impressionado com os detalhes que foram mostrados na matéria anterior, relatados através da ata feita pelo então Provedor Alberto Baccarat (11 de março de 1928), por ocasião do desabamento que soterrou parte da nossa Santa Casa, instalada na época no sopé do Monte Serrat, na Avenida São Francisco, pode agora acompanhar os pormenores do discurso proferido pelo Dr. João Carvalhal, orador oficial, sobre "O Assentamento da primeira pedra do novo edifício da Santa Casa da Misericórdia".

A REPORTAGEM - "Realizou-se, hontem, conforme estava designado, a solennidade do assentamento da pedra fundamental do novo edifício da Santa Casa da Misericórdia de Santos, que será levantada nos terrenos pertencentes àquelle pio estabelecimento e situados à avenida Pinheiro Machado, onde, actualmente, está o campo de esportes do S.P.R. E. Clube, e ao lado deste.

O acto, que se revestiu de toda a solennidade, contou com a presença dos srs Representantes do dr. Júlio Prestes, presidente do Estado; dr. Fábio Barreto, secretário do Interior; dr. Salles Júnior, secretário da Justiça; dr. Bastos Cruz, chefe de polícia; estando presentes as altas autoridades locaes, sua excia. d. José Maria Parreira Lara, bispo de Santos, os representantes das instituições beneficentes e de caridade de Santos, da imprensa local, os membros da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Santos, o representante da Santa Casa de São Paulo, representantes de muitas associações da cidade e dezenas de outras pessoas, cujos nomes estão na acta referente à solennidade.

Dando início ao acto, pouco depois de 14 horas, foi dada a palavra ao dr. João Carvalhal Filho, orador official, que pronunciou um brilhantíssimo discurso".

O DISCURSO - "Meus senhores. Vamos assentar os fundamentos do novo edifício da Santa Casa da Misericórdia.

Em nome da sua Mesa Administrativa, agradeço o comparecimento a esta solennidade dos srs. representantes das altas autoridades federaes, estaduais e municipais, de s. excia. revdma. o sr. bispo diocesano, dos representantes da imprensa, das associações e de todos aquelles que aqui accorreram, gentilmente, respondendo ao nosso convite.

"Patriam Charitatem et Libertatem Docui".

É o lemma que com tanta justiça se inscreve nos nossos brasões e de que esta cerimônia é uma solene affirmativa.

Sou, actualmente, o único filho de Santos que tem a honra de fazer parte da alta administração da Santa Casa da Misericórdia. Se a isso atribuo a immerecida honra que me conferiram os meus dignos companheiros de Mesa, de ser o orador desta cerimônia, de tão alto alcance para a vida da cidade, pois para tanto escasseiam em mim os merecimentos que nelles tão accentuadamente se accumulam e sobram.

Sob a invocação piedosa e excelsa de Santa Isabel, padroeira das casas de misericórdias, e sob o seu miraculoso patrocínio, em 1543, Braz Cubas fundou a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, a primeira do Brasil e de toda a América do Sul, confirmada por D. João III em Almeirim, aos 2 de abril de 1551, com a outorga de todos os privilégios concedidos por seu augusto pae, El-Rei D. Manoel, às casas de Misericórdia do Reino de Portugal.

Fundada a Irmandade, para logo os confrades e os habitantes do logar, dando barras aos sentimentos que se haviam de perpetuar recommendando a generosidade deste povo, ajudaram Braz Cubas a construir a igreja com o título de Nossa Senhora da Misericórdia e, junto a ella, um Hospital, com o appellido de "Santos". Este nome, que pertencia apenas ao hospital, por um verdadeiro desígnio de predestinação se fundiu com o nome da povoação, confundindo-se também, de então para sempre, na sua vida, nos seus destinos, nos seus desígnios e no seu desenvolvimento a cidade e a casa miraculosa e sagrada que lhe dera o nome e ambas marcharam para os seus destinos, aquella fazendo desta pelos séculos em fora o supremo enlevo de seus cuidados e das suas preocupações, o justo e envaidecido orgulho da sua manutenção nos moldes altruísticos em que nenhuma outra lhe excede, como Matter suprema e amorável que é do seu povo e dos que aqui aportam, de onde quer que provenham, acolhendo, acalentando, mitigando todos os gemidos, todas as lamentações, todas as dores que repercutam às suas arcadas veneráveis ou aos seus tectos hospitaleiros, esta - a Santa Casa - cumprindo a missão bem aventurada que fora sonhada pelo seu grande fundador. Assim idealizada pela alta e nobre figura do seu excelso fundador, o fidalgo português Braz Cubas, assim tem vivido e se tem desenvolvido e tem crescido para a glória, e tem creado a obra magnífica que é a sua história, hontem como hoje, mantida, vivificada pela tradição que a nobilita e a engrandece.

Assim foi e assim é a sua vida. Todos os credos, todas as idades, todas as raças, todas as nacionalidades, todos os matizes sociais, todas as dores, em summa, todas as misérias e todas as angústias humanas, ahí têm generosa acolhida e ahi deparam o bálsamo redemptor da cura ou a amorável consolação aos desesperos e aos desenganos da vida.

Os seus administradores tendo à frente as três figuras centraes da sua direção: Alberto Baccarat, o seu grande benemérito provedor, no qual se não sabe o que mais admirar, se a sua transbordante generosidade, se a sua serena energia e capacidade de comando, se a sua insuperável actividade, se o seu entranhado amor à Santa Casa; Arthur Alves Firmino e Augusto Marinangeli, respectivamente seu mordomo geral e seu thesoureiro, dignos da grave emergência pela sua inexplicável dedicação aos interesses da Santa Casa.

O seu ilustre e dedicado corpo clínico, todos os seus funccionários e auxiliares, do mais alto ao mais humilde, todos estiveram a postos no afanoso cumprimento do dever, ajudados, confortados, animados por essas sacerdotizas do Bem, as irmãs de caridade, que ali trabalharam e que espancam e mitigam, com as claridades da sua immaculada bondade, as sombras da Dor e as angústias e os desesperos que se acolhem àquela casa bemdita.

E a preocupação pela sua immediata reconstituição, de prompto repercutiu para fora das suas paredes seculares e a palavra do grande chefe da nação, sr. Washington Luis, logo se fez ouvir, numa tocante demonstração de solidariedade aos sofrimentos da cidade e da Santa Casa, e em formaes e animadoras promessas e estado necessário amparo à sua reconstituição.

E então sentimos de perto a velha solidariedade e o conforto do generoso commercio de Santos, a cuja frente se postou a figura sympáthica e sugestiva de Francisco da Costa Pires, prestigiada pela benemérita Associação Commercial de Santos. E a solidariedade das nossas co-irmãs na cruzada do Bem - a Beneficência Portuguesa, o Asylo de Orphãos, Asylo de Inválidos, o Asylo Anália Franco, a Gota de Leite, Cruz Vermelha Brasileira, o Hospital do Isolamento, o Hospital São José, e as nossas grandes empresas, a Companhia City, com a admirável figura de Bernardo Browne; a Companhia Docas de Santos, a Companhia Construtora de Santos, a Companhia União dos Transportes, a S. Paulo Railway, a Light and Power, e muitas outras, todas as nossas instituições, todas as grandes e pequenas empresas, que impossível é enummerál-as, as nobres colônias estrangeiras, todos, enfim, o prestaram no momento trágico o contingente do seu valor, e da sua generosidade, inspirados todos no mesmo sentimento, que afinal, o do lema que se esculpe como um mandamento religioso nos brazões da nossa terra e que daqui se tem irradiado como um aurifulgente e magnífico diadema a circumdar o nome immaculado do Brasil.

Da solenidade, foi lavrada uma ata, assinada por todos os presentes e colocada em uma urna pela autoridade diocesana.

"Acta do assentamento da primeira pedra do novo edifício do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Santos, fudnada por Braz Cubas em o anno de mil e quinhentos e quarenta e três.

Aos dez dias do mês de abril do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil novecentos e vinte e oito, nesta cidade de Santos, do Estado de São Paulo, República dos Estados Unidos do Brasil, sendo presidente da República o exmo. Sr. dr. Washington Luis Pereira de Sousa; presidente do Estado de São Paulo, o sr. dr. Júlio Prestes de Albuquerque; presidente da Câmara Municipal de Santos, o exmo. sr. comm. João Manuel Alfaya Rodrigues; prefeito municipal de Santos, sr. José de Souza Dantas, sendo bispo da diocese de Santos, s. exa. Revma. d. José Maria Parreira Lara; provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santos, o cidadão Alberto Baccarat; depois de preenchidas as formalidades do Ritual Romano por s. exa. Revma., o sr. Bispo diocesano com a benção da pedra fundamental do novo hospital que a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia resolveu construir com o terreno que faz frente para a avenida Francisco Manoel - canal 7 - construcção esta, em terrenos adquiridos de Guinle e Irmãos, achando-se presentes as autoridades abaixo assignadas, a mesa administrativa da Irmandade, grande número de Irmãos, representantes da imprensa local, da capital do Estado e da capital Federal, grande número de famílias e pessoas de todas as condições sociaes, procedeu-se à leitura desta acta que, depois de assinada, vae ser encerrada com os jornaes locaes e moedas nacionaes em circulação, em um envolucro de cobre que ficará fechado, para que todo tempo, conste, ficando uma cópia para o archivo da Irmandade. E para constar, eu George Rosenhein, 2º secretário da mesa administrativa, mandei lavrar a presente acta que depois de lida vai assinada pelos presentes.

A mesa administrativa da Santa Casa é composta pelos senhores Alberto Baccarat, provedor; deputado J. Carvalhal Filho, vice-provedor; Benjamin Mendonça, 1º Secretário; George Rosenhein, 2º secretário; commendador Augusto Marinangeli, thesoureiro e major Arthur Alves Firmino, mordomo geral."

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