Calamidade pública o problema social que a cidade vive

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Com o governador, prefeito e vereadores - O prefeito Antonio Feliciano foi, ontem, a São Paulo conferenciar com o governador Jânio Quadros a respeito das providências de amparo aos deslocados santistas. O governador paulista informou ao chefe do Executivo de Santos que uma semana depois que a administração santista pusesse à sua disposição uma área de terreno nesta cidade, determinaria o início imediato da construção de 250 casas populares.

Disse ainda o governador que é seu desejo criar uma pequena carteira, no Instituto de Previdência, especialmente para atender à situação de Santos e abrigar os flagelados das duas hecatombes.

Institutos de aposentadoria e pensões - O prefeito municipal fez ver ao governador do Estado a necessidade de se apelar para os Institutos de Aposentadorias e Pensões, autarquias federais que têm indiscutível obrigação de amparar, na medida de seus recursos, os flagelados que são seus associados.

Aliás, é bastante oportuna a lembrança do dr. Antonio Feliciano. Grande parte dos moradores dos morros são operários, quase todos filiados aos institutos que têm carteiras imobiliárias de largos recursos e, inclusive, vários terrenos em Santos. O governador prometeu entender-se, imediatamente, com o ministro do Trabalho a respeito do assunto.

Casas pré-fabricadas - Quando o prefeito de Santos ainda se achava no gabinete do sr. Jânio Quadros, uma comissão de vereadores santistas, acompanhada pelo deputado Athié Jorge Coury, também chegou aos Campos Elíseos a fim de conferenciar com o chefe do Executivo paulista.

A presença do dr. Antonio Feliciano e dos vereadores municipais Aristóteles Ferreira, presidente da Câmara; José Gomes e Remo Petrarchi, emprestou maior rapidez aos entendimentos.

Na ocasião foram tratadas medidas de emergência a serem adotadas concomitantemente pelas autoridades municipais santistas e pelo governo do Estado, no sentido de continuar dando a mais ampla assistência às famílias flageladas pelos desmoronamentos de morros, bem assim o de estabelecer planos para a construção de casas populares de emergência aos que ficaram ao desabrigo. Os recursos do Estado serão todos postos à disposição da municipalidade santista, atendendo, com a urgência que a situação exige, o estado de calamidade pública em que se encontra o nosso município.

Segundo informou o prefeito Antônio Feliciano, será desapropriada uma área que poderá permitir a construção de 1.200 a 1.500 casas populares. O governo do Estado, por intermédio do Instituto de Previdência, construirá, de início, 250 unidades para os flagelados das duas hecatombes que sacudiram a cidade. Contudo, dada a situação premente dos flagelados, há necessidade de se localizá-los imediatamente.

Os edis santistas levaram ao sr. Jânio Quadros uma sugestão para a solução do abrigo de emergência aos deslocados, através de casas pré-fabricadas, fazendo-lhe uma exposição sobre as três ordens de providências que a situação reclama: críticas, de emergência e definitivas.

Explicaram os vereadores que as providências críticas são as que estão sendo tomadas para abrigar os flagelados em todos os prédios disponíveis, inclusive nas entidades particulares, escolas etc. Esclareceram que tal situação não poderá se prolongar por muito tempo, pois as construções das casas populares demandariam, no mínimo, seis meses. Nesse ínterim, o problema de alimentação de todos os deslocados e o problema sanitário decorrente da promiscuidade a que foram atirados, forçosamente terão que se agravar. Sugeriram, então, a construção provisória de casas pré-fabricadas, para onde seriam transferidas essas famílias e onde elas mesmas se manteriam até a conclusão das providências definitivas, concretizadas nas casas populares.

Prefeito e vereadores irão ao Rio - O governador Jânio Quadros informou às autoridades santistas que já se comunicou, pelo telefone, com o ministro da Fazenda, com ele mantendo entendimentos sobre a possibilidade de um adiantamento da verba prevista pela emenda Rubens Ferreira Martins, ora em tramitação pela Câmara Federal.

Ficou resolvido que, na próxima terça-feira, o dr. Antônio Feliciano e a mesa da Câmara Municipal, levando especiais recomendações do sr. Jânio Quadros, dirigir-se-ão ao Rio de Janeiro, onde irão pleitear, do ministro da Fazenda, o adiantamento de 10% da aludida verba, ou seja, dez milhões de cruzeiros, e do ministro do Trabalho as providências que a situação reclama dos Institutos de Aposentadoria.

Reunião na Prefeitura - Na manhã de ontem, realizou-se, na Prefeitura Municipal, uma importante reunião, da qual participaram todas as autoridades da cidade, diretores de repartições estaduais e municipais.

Desse contato das altas autoridades de Santos com o prefeito Antônio Feliciano, várias resoluções de importância foram tomadas, entre as quais:

1) - Ocupação do Armazém 22, externo, cedido pela Cia. Docas de Santos para alojar desabrigados, estando já a Prefeitura providenciando a adaptação do local, instalações sanitárias para senhoras, telefone etc.

2) - Permanência dos engenheiros da Prefeitura nos serviços de vistoria e de assistência aos morros, com a seguinte distribuição, sob a orientação do engenheiro Otávio Cavalheiro Alves: (lista anexa).

3) - Reparo imediato, pela R. S. S., do canal 5, nas proximidades da Av. Bartolomeu de Gusmão.

4) - Desobstrução, pela R. S. S., do canal localizado no fim da Rua Santa Catarina, nos fundos do Campo dos Ingleses.

5) - Desinfecção, pelo S. A. S. C., das caixas de água subterrâneas, atingidas pela enchente.

Estiveram presentes à reunião as seguintes pessoas:

Cel. Augusto Otávio Confúcio, comandante da Praça de Santos, São Vicente e Guarujá; cel. Luiz de Cicco, comandante do 6º B. C. da Força Pública; major Costa Júnior, diretor da Polícia Marítima e Aérea; cap. Paulo Marques, comandante do Corpo de Bombeiros; dr. Hélio Pantaleão, delegado de polícia; dr. Fernando Guilherme Martins, superintendente do S. A. S. C.; dr. Antônio Lotuf, superintendente do S. M. T. C.; dr. José de Menezes Berenguer, inspetor da C. D. S.; dr. Rodolfo Consani, engenheiro da Cia. City; sr. Adelino da Silveira Roni, gerente da Cia. Telefônica; dr. Luiz Cursino, da Rep. do Saneamento de Santos; dr. Stefano da Colina, engenheiro-chefe dos serviços do D. E. R.; sr. Hugo Pacheco Chagas, presidente do Cons. Munic. de Assistência Social; dr. Charles Sandall, engenheiro do S. M. T. C.; dr. Hugo Benedito de Oliveira, diretor de Obras da Prefeitura; dr. Guilherme Dias Guillon, diretor dos Serviços Públicos da Prefeitura; dr. Otávio Cavalheiro Alves, chefe da Seção de Obras Públicas; dr. Hernani Botto de Barros, chefe da Seção de Serviços Contratados da Prefeitura; dr. Godofredo Spinola Dias, chefe das Repartições Externas da Prefeitura, e mais os seguintes engenheiros municipais: Humberto Lucato, Mário Covas, Joaquim Cabral Lopes, Luiz La Scala Filho, Osvaldo Aulicino Gomes, Cândido Barreto Vallejo, José Sanches Ferrari, Oduvaldo Otaviani Bernia e Orlando Ferraz Alves.

100 mil cruzeiros oferecidos pela Companhia "Três Leões" - O chefe do Executivo paulista recebeu ofício da presidência da "Três Leões", Cia. Industrial de Representações, encaminhando-lhe um cheque na importância de 100 mil cruzeiros destinado a amparar as famílias atingidas pela catástrofe que atingiu a cidade de Santos. O governador determinou expedir agradecimentos ao nobre gesto da empresa, enviando o cheque ao prefeito Antônio Feliciano.

Solidariedade e providências da Câmara Municipal de S. Paulo - S. PAULO, 27 (Asapress) - O presidente da Câmara Municipal, sr. Elias Shammas, sugeriu que os vereadores destinassem o "jeton" da sessão de hoje para auxílio aos flagelados da catástrofe de Santos. A idéia foi aceita por unanimidade.

Os vereadores Humberto Fanganielo, Américo Trabulsi e Nicolau Tuma, em nome da Câmara Municipal de São Paulo, estiveram esta manhã em visita a Santos, onde foram recebidos pelo prefeito e presidente da Câmara Municipal.

O sr. Nicolau Tuma prestou um relato sobre a visita, sugerindo o envio de mais dez caminhões e cinco ônibus para auxiliarem nos trabalhos de remoção dos entulhos e mudança de flagelados de Santos.

O sr. Américo Trabulsi destacou a boa vontade dos motoristas desta capital com ponto de estacionamento no largo do Ouvidor, e que prestaram relevantes serviços durante os socorros às vítimas dos trágicos desabamentos.

O sr. André Nunes propôs que o presidente da Câmara Municipal telegrafasse ao presidente da República solicitando providências imediatas e enérgicas para que os institutos de previdência prestem maior auxílio às vítimas da catástrofe.

Por fim, o sr. Freitas Nobre sugeriu que as homenagens a serem prestadas ao "Dia das Mães", nesta capital, fosse todas dedicadas à mãe santista, neste momento de dor e luto por que passa a população praiana.

Engenheiros municipais de S. Paulo - S. PAULO, 27 (Asapress) - Foi aprovado pela Câmara Municipal de S. Paulo requerimento do sr. José Aranha, sugerindo que o corpo de engenheiros da Prefeitura desta capital colabore na solução dos problemas dos desmoronamentos dos morros de Santos e S. Vicente. Por proposta do vereador Prestes Franco, os vereadores desta capital guardaram, na sessão de ontem, um minuto de silêncio, em homenagem às vítimas da tremenda catástrofe ocorrida no vizinho município.

Por outro lado, jornais, emissoras e várias entidades desta capital estão arrecadando donativos para serem remetidos para as vítimas da tragédia.

Recomendações à população

Medidas preventivas pelo bem da saúde pública recomendadas pela Secretaria da Saúde de São Paulo

O secretário da Saúde, dr. Marcílio Cunha Fonseca, esteve em Santos, com uma grande equipe de auxiliares, a fim de tomar as providências necessárias à proteção da saúde pública, diante do perigoso estado sanitário a que a cidade foi atirada pelas inundações.

Além das medidas de limpeza, vacinação e profilaxia, já tomadas pelo Estado, o secretário da Saúde pede a colaboração do povo, fazendo-lhe as seguintes recomendações:

- NÃO COMER VERDURAS CRUAS
- UTILIZAR-SE APENAS DE ÁGUA FERVIDA
- COMBATE SEM TRÉGUA ÀS MOSCAS
- REMOÇÃO DE TODOS OS DETRITOS
- NÃO TOMAR BANHO DE MAR.

A Delegacia de Saúde de Santos, tendo em vista o desmoronamento verificado em alguns morros adjacentes à cidade, e o transbordamento dos canais de saneamento, e tendo em mira prevenir o eventual aparecimento de infecções do aparelho gastrointestinal (tifo, disenterias), aconselha a população culta desta cidade, e das localidades vizinhas, principalmente aquelas em cujas habitações forem precárias as instalações sanitárias (falta de esgoto), procurar as unidades sanitárias, abaixo relacionadas, que estão providas de vacinas e medicamentos quimioterápicos destinados à prevenção das referidas doenças: - Sub-Centro de Saúde do Saboó, Avenida Nossa Senhora de Fátima, 177; Centro de Saúde de Santos; Centro de Saúde de São Vicente; Centro de Saúde do Guarujá e Sub-Centro de Saúde de Vicente de Carvalho. - (a) dr. Benedito de Castro Simões, delegado de Saúde".

Comunicado da Cia. City

Da "The City of Santos Improvements Company Limited" recebemos o seguinte comunicado, assinado pelo engenheiro Cyro de Carvalho Lustosa:

"Na madrugada de domingo, as chuvas torrenciais que caíram sobre a cidade, provocando trágicos acontecimentos, afetaram também, seriamente, as instalações da Cia. City.

No serviço de eletricidade registraram-se:

a) Grandes desmoronamentos na Vila Matias, especialmente junto à estação terminal.

b) Invasão pelas águas das instalações distribuidoras de Vila Matias, danificando e colocando fora de serviço vários setores da cidade, bem como impossibilitando o funcionamento dos geradores de corrente contínua para os bondes.

C) Invasão pelas águas das instalações das sub-estações de Rua Antonio Prado e Praça Azevedo Júnior, sendo que, nesta última, o nível da enchente atingiu mais de um metro.

d) Quedas, devido às barreiras, de postes e linhas em várias partes da cidade, sendo de notar que na Caneleira foram interrompidas as linhas de transmissão para São Vicente.

Apesar do vulto tremendo dos danos sofridos, foi possível à Companhia, graças à grande dedicação do seu pessoal, após 24 horas, restabelecer mais de 70% do serviço de iluminação pública e particular, e pouco tempo depois poder alimentar as estações conversoras do serviço de bondes.

No momento, todos os serviços estão quase normalizados, estando apenas interrompido o setor da Rua 15 de Novembro, devido às avarias de vulto havidas na subestação da Praça Azevedo Júnior, as quais, contudo, deverão estar reparadas dentro de 24 horas.

A alimentação de São Vicente, dadas as tremendas proporções do desmoronamento havido na Caneleira, exigirá ainda alguns dias para a sua normalização; no ínterim, São Vicente está sendo alimentada da Vila Matias, Via Nova Cintra, de maneira limitada, obrigando a Companhia a um racionamento por desligamentos em rodízio, dos vários setores. Neste particular, seria de alta valia a cooperação do público, reduzindo ao mínimo indispensável o seu consumo de luz.

Quanto ao sistema alimentador dos bondes, continuam fora de serviço os grupos geradores de Vila Matias, que exigirão 2 ou 3 dias para secagem e entrada em funcionamento.

Entretanto, todas as estações conversoras já estão sendo normalmente alimentadas e permitindo o funcionamento de boa parte do serviço de bondes.

O serviço de gás sofreu também danos e interrupção, dada a incursão de águas ocorrida na Fábrica de Gás e estação distribuidora da Rua Pêgo Júnior; nesta última, o nível muito elevado das águas atingiu o regulador de saída, invadindo as canalizações de baixa pressão, que abastecem o Centro da Cidade e parte das Avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, perturbando a distribuição de gás.

As canalizações estão sendo esgotadas e o serviço praticamente normalizado.

Termos da resolução baixada pelo governador Jânio Quadros

Transfere para a responsabilidade do Estado a segurança dos morros de Santos - A comissão encarregada da vistoria

De conformidade com o que ontem noticiamos, o governador Jânio Quadros, cumprindo o que prometera em Santos, no dia da catástrofe, transferiu para a responsabilidade do Estado a segurança e conservação dos morros de Santos. Para isto, baixou, na tarde de ontem, a seguinte resolução:

"Considerando a necessidade de serem tomadas medidas tendentes a evitar a repetição dos acontecimentos verificados na cidade de Santos, relacionados com os desmoronamentos de morros;

"Considerando o perigo que oferece a construção de moradias nesses locais sujeitos a escorregamentos e desmoronamentos do terreno ocasionados pelas contínuas precipitações pluviométricas;

"Considerando a necessidade de medidas de caráter excepcional referentes à segurança de prédios existentes nesses mesmos locais, resolve:

"Nomear uma comissão composta dos engenheiros professor Milton Vargas, Ernesto Pichler, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas; Jesuíno Felicíssimo Júnior e Augusto Durante, do Instituto Geográfico e Geológico, e Massinet Sorcinelli, do Departamento de Estradas de Rodagem, para, sob a presidência do primeiro, proceder a uma vistoria nos morros de Santos e apresentar, no prazo de quinze dias, o seu trabalho sugerindo medidas que devam ser tomadas pelos poderes públicos competentes, objetivando não somente a consolidação das áreas sujeitas a desmoronamentos, como as que se refiram à interdição e proibição de construções, bem assim outras que lhe parecerem recomendáveis".

Conseqüências do temporal sobre o café armazenado em Santos

O presidente do IBC veio averiguar a extensão dos prejuízos

Em companhia do dr. Joaquim Alves de Moraes, chefe do Escritório Estadual do I. B. C. em São Paulo, e do Agente interino de Santos, sr. Pedro Rocha Brito, esteve ontem em nossa cidade o sr. Paulo Guzzo, presidente do Instituto Brasileiro do Café, que veio averiguar, pessoalmente, a extensão dos danos sofridos pela praça de Santos, nos seus depósitos de café.

Tendo visitado várias empresas de armazéns gerais, acompanhado dos srs. Hercílio Camargo Barbosa e Álvaro de Freitas Guimarães, da Associação Comercial de Santos, demorou-se depois s. s. em reunião com os demais membros da Diretoria daquela entidade, à qual assegurou que, de regresso ao Rio, apresentará ao governo um relatório sobre o assunto e fará todo o possível, de acordo com os pontos-de-vista da nossa entidade de classe, para encontrar uma solução capaz de contribuir para amenizar os prejuízos causados ao comércio de café local pela calamidade que assolou a nossa cidade.