FECHADO há 7 anos, o Hotel Japonês, em Santos, pode ser vendido
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria
HOTEL JAPONÊS
Definição à vista
Antigo prédio tem chance de ser revitalizado a partir de proposta de compra por
parte da iniciativa privada, a ser apresentada na terça-feira
Luiz Gomes Otero
Da Reportagem
Fechado há quase sete anos, o antigo Hotel Japonês,
situado na Rua Braz Cubas, 239, no Centro, pode ter o seu futuro definido na próxima semana. Uma proposta de compra do imóvel srá apresentada aos
proprietários na terça-feira. O prédio se encontra em condições precárias de conservação, que podem ser notadas já nas janelas. As paredes dos lados
interno e externo do imóvel apresentam sinais claros de infiltrações em vários pontos. O prédio foi construído na década de 20 por José da Silva
Novita.
O edifício, que tem 76 quartos, foi um dos primeiros da cidade a contar com
elevadores, que hoje não existem mais.
Segundo uma herdeira contatada por A Tribuna e que prefere não se identificar,
há um consenso entre os proprietários quanto à venda do prédio. "Não temos recurso e nem disposição para reformá-lo. Chegamos a fazer uma pequena
intervenção nos dois primeiros andares. Mas a maior parte do edifício precisa ser recuperada".
A proposta pelo prédio será feita por representantes da iniciativa privada. "Acho que
na próxima semana devemos ter uma definição".
A maioria dos comerciantes e moradores próximos defende a recuperação ou o efetivo
aproveitamento do prédio, que poderia ser transformado até em uma atração para quem visita o Centro.
Funcionário de uma oficina situada ao lado do hotel, Antônio Gonçalves lembra os
tempos em que o local era ocupado por diversas famílias. "Havia sempre muita confusão e brigas. E o lixo acumulado prejudicava não só os próprios
moradores como também quem estava próximo".
Ele disse que a situação ficou mais tranqüila a partir da retirada das famílias. Mas
defende a recuperação do prédio, como forma de revitalizar a área. "Trata-se de um prédio muito bonito, mas está bastante deteriorado. Será
necessária uma grande reforma para deixá-lo em condições de uso comercial".
José Luís Sossai, que trabalha na mesma oficina, também é favorável à recuperação do
prédio. "Eu não acompanhei a fase em que ele era habitado. Mas espero que possa ser usado para fins comerciais. É o que todo comerciante daqui
deseja".
Denílson Gonçalves Ribeiro, que trabalha em um lava-rápido de veículos instalado ao
lado do hotel, também não chegou a ver o prédio habitado. Entretanto, não deixa de ficar impressionado com o seu estado precário de conservação. "É
uma pena, pois dá para perceber pelas janelas que é um edifício antigo e muito bonito".
Avaliação |
"Será necessária uma grande reforma
para deixá-lo em condições de uso comercial"
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Antônio Gonçalves
Funcionário de oficina
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Quer voltar - Maria das Neves morou durante quatro anos em um dos apartamentos
do Hotel Japonês. Ela ainda tem esperanças de retornar ao local. "A estrutura que eu tinha lá era maior do que a que eu tenho hoje. Se o
proprietário voltar a alugar, pretendo voltar para lá".
Herdeira diz que a família não tem recursos para recuperar o hotel,
que tem 76 quartos e foi construído na década de 20
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria
Prédio não está na área de proteção cultural
O prédio do antigo Hotel Japonês não se encontra na chamada área de proteção cultural
do Centro estabelecida pela Prefeitura. E também não está sendo avaliado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Santista (Condepasa), com o
objetivo de iniciar um processo de tombamento.
A informação foi dada pelo historiador do órgão, Arnaldo Ferreira Marques. Segundo
ele, o prédio tem características da chamada arquitetura eclética dos anos 20. "Esse tipo de arquitetura predominou sobretudo durante a fase áurea
do café no País. São dessa mesma época o Teatro Coliseu, o antigo Hotel Parque Balneário, que foi
demolido, e outras construções situadas na Rua XV de Novembro".
Ainda de acordo com Marques, não está descartada a hipótese de o prédio vir a ser
tombado no futuro. "Todas as edificações dessa época podem vir a ser analisadas. Mas até o momento não surgiu nenhuma solicitação no órgão".
As paredes, tanto externas quanto internas,
apresentam claros sinais de infiltrações em vários pontos
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria
Em 1998, 76 famílias tiveram de deixar o imóvel por ordem judicial
Em fevereiro de 1998, 76 famílias que residiam no Hotel Japonês foram despejadas por
ordem da Justiça, por causa de problemas relacionados com a locação do imóvel. Uma realidade bem diferente da imaginada pelo empresário José da
Silva Novita, responsável pelo empreendimento no início do século.
O imóvel passou a ser conhecido como Hotel Japonês pelo fato de abrigar, no início de
suas atividades, diversos imigrantes japoneses. Na entrada havia uma fonte com motivos ligados à cultura japonesa. O prédio também foi um dos
primeiros a possuir elevadores na Cidade.
Na década de 90, uma proprietária do imóvel entrou com ação de reintegração de posse
contra uma outra pessoa que sublocava os cômodos de forma precária. Os inquilinos, que conviviam com o acúmulo de lixo, ratos e ligações
clandestinas de água e luz, acabaram sendo despejados.
Os próprios moradores provocavam a maior parte dos problemas, atirando detritos e todo
tipo de objetos pelas janelas. O prédio ainda concentrava muitos viciados que costumavam se refugiar no seu interior.
Alguns inquilinos chegaram a colocar arame farpado na escada de acesso para impedir a
entrada de marginais.
Ainda em 1997, funcionários da Prodesan retiraram 48 toneladas de lixo do local,
serviço que exigiu o emprego de oito caminhões. |