Gerlaque sustenta a mulher e dois filhos com a
atividade, que lhe rende até R$ 800,00 por mês
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
LIXO RECICLÁVEL
PMS paga por serviço que poderia dar lucro
ONG tem proposta para alterar o atual modelo de coleta seletiva
Da Reportagem
Há um ano, todos os dias, João Gerlaque, de 48 anos, vai
para a rua recolher material reciclável. Começou revirando sacos de lixo em busca de latinhas de alumínio, mas hoje, dono de uma Kombi, o catador
vai diretamente nos prédios "de seus conhecidos", que guardam para ele todo tipo de produto que possa ser reaproveitado.
Gerlaque sustenta a mulher e dois filhos pequenos com a atividade, que lhe rende até
R$ 800,00 por mês, dinheiro suficiente para também pagar as prestações da Kombi usada, comprada há quatro meses.
O trabalho poderia render mais, não fosse a "enorme concorrência" relatada pelo
catador. "Tem muita gente pegando lixo com pequenos caminhões e caminhonetes pela Cidade".
Segundo a ONG Recicla Brasil, mesmo com tantas pessoas sobrevivendo do serviço, a
Prefeitura gasta R$ 1 milhão por ano para manter a Coleta Seletiva, realizada pela Terracom em toda a Cidade.
De acordo com Jaime Caettano, gerente da ONG, a coleta seletiva "oficial" recolhe
apenas 1,2% de todo o volume de material reciclável produzido na Cidade. O resultado é que, segundo estimativa da ONG, R$ 17 milhões em lixo
reaproveitável vão parar anualmente no Aterro Sanitário do Sítio das Neves.
Segundo números da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente (Semam), são recolhidas 150
toneladas de material reciclável mensalmente, quantidade prejudicada pelo serviço paralelo, segundo a própria Semam.
Gerlaque vende em São Vicente o lixo recolhido em Santos. "As equipes da Terracom
reclamavam que a gente coletava o material antes deles. Mas eu não ligava, o lixo estava na rua".
Diferente de Gerlaque, que mantém "colaboradores", muitos coletores aproveitam o
cronograma da Terracom para pegar o lixo reciclável deixado na rua pela população. Para isso, basta passar pelas ruas onde a coleta seletiva está
programada antes do caminhão da Terracom, aproveitando o lixo deixado na calçada pela população.
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milhões
de reais por ano, em lixo reaproveitável,
vão parar no Aterro Sanitário,
segundo cálculos da entidade
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Lixo em dinheiro - A ONG Recicla Brasil tem uma proposta para alterar o atual
modelo de coleta seletiva. A idéia é alternar dias recolhendo o lixo orgânico (restos de comida) e o material reciclável (papel, plástico, vidro e
metais).
O lixo orgânico seria recolhido às segundas, quartas e sextas-feiras. O reciclável,
terças, quintas e sábados. "Isso acabaria com a coleta seletiva, porque os mesmos caminhões da coleta normal recolheriam o lixo reciclável", diz
Caettano.
As pessoas que trabalham coletando o lixo nas ruas seriam aproveitadas na usina de
separação e reciclagem, que precisaria, segundo a ONG, de 700 funcionários para lidar com o aumento do volume recolhido nas ruas.
Além do melhor aproveitamento dos recursos, 70% do lixo deixaria de ser depositado no
aterro sanitário, o que aumentaria a vida útil do local de 20 para 34 anos.
Em 2005, a ONG vai começar a recolher assinaturas para que a coleta alternada seja
transformada em lei. "A Prefeitura poderá deixar de pagar pela coleta seletiva e ter lucro com a venda do material reciclável", conclui Caettano.
Caettano: coleta oficial recolhe apenas 1,2% do material reciclável
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
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