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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (H)
Pensar Santos (8)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Em meio a essas mudanças, por um momento o santista se detém e observa a cidade de um ângulo diferente. Dessa observação resultou a matéria publicada pelo jornal santista A Tribuna em 14 de maio de 1993, no caderno AT Especial:
 

Hospedaria dos Imigrantes de fundação, Entreposto da Banana por uso. 
Belíssimo, na Rua Silva Jardim

Um olhar (diferente) sobre a Cidade

Ivani Cardoso
Editora
Fotos: Mingo

O santista desaprendeu a olhar sua Cidade. Apressado, distraído e preocupado com o cotidiano, ele anda sempre olhando apenas para a frente, sem reparar que a vista pode alcançar muito mais. O passado, felizmente, continua presente em vários cantos desta terra. Não apenas aquele passado mais conhecido, feito dos pontos históricos que fazem parte dos roteiros. Fragmentos daquela Santos que viveu a fase de ouro do café continuam marcando seu tempo.

Um passeio pela Cidade com a arquiteta Edméia Fioretti Mateu, e o historiador Marcos Braga, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, abre espaços desconhecidos e inesperados para muitos santistas. E o mais importante: serve de alerta para que cada um de nós incorpore no dia-a-dia um olhar diferente.

Marcos orienta: "O principal não é apenas recuperar as construções, porque com o passar dos anos elas estragam novamente. O resgate do santista com a Cidade passa pela relação com seu patrimônio cultural. A principal proposta do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Santos é justamente inserir todos os projetos na rotina de vida dos santistas. Claro que a Bolsa do Café, o Outeiro de Santa Catarina e outros pontos como esses são importantes, mas temos muitas outras construções que devem ser valorizadas. Os armazéns do cais, por exemplo. Quem repara melhor em sua beleza? No entanto, eles também representam a memória da Cidade".

Para Edméa, o momento é de revelar a outra face de Santos: "Precisamos começar a trabalhar com urgência, para que os santistas ampliem o olhar contemplativo de seus monumentos e aprendam a olhar para cima, para os lados... Há uma diferença grande entre o que é antigo e o que é velho. Sabemos que o trabalho é demorado, mas felizmente em Santos o processo já começou, e muitos comerciantes do Centro estão restaurando as fachadas de suas lojas, mantendo as características básicas da época. Restaurar também é colocar em uso. Veja o exemplo do Coliseu, de um modo ou de outro ele foi usado e não se acabou completamente".

A Prefeitura tem um programa especial vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Urbano para incentivar as restaurações dos prédios antigos, com a isenção do IPTU e do ISS da obra de recuperação, além de uma orientação da equipe especializada. Há todo um trabalho em termos de marketing que pode ser utilizado por esses lojistas, trazendo novos clientes de volta para o Centro.

Outro dado importante: antigo não é apenas o que todos conhecem como tal. Marcos dá vários exemplos de construções, como algumas casinhas de portas enormes e fachada original, muitas vezes escondidas em travessas sem importância da Encruzilhada, o Mercado Municipal, os prédios que abrigaram os barzinhos das esquinas. Até mesmo - quem diria - aquele prédio bem década de 60 instalado no início da Vicente de Carvalho, em frente ao mar. O edifício Parque Verde Mar é considerado um marco no desenvolvimento da construção civil. Tem cobertura vazada, rampa de acesso e um excesso de elementos e cores que merece uma observação mais atenta.

E os exemplos são muitos para quem está disposto a dar um passeio diferente: o Atlântico Hotel, na esquina da Ana Costa com a Praia, o prédio do Bar São Paulo, na esquina com o Canal 3, a Praça das Bandeiras, no Gonzaga, o ponto de bonde na esquina da Avenida Conselheiro Nébias com a praia, as coberturas dos jardins da praia no mesmo trecho. Até mesmo um conjunto de casas de madeira (peroba da boa, garantem os antigos moradores do local) no bairro do Marapé, que relembra um passado onde os imigrantes espanhóis e portugueses construíam esses chalés.

O antigo restaurado pode ficar cheio de charme. A tradicional loja Ao Camiseiro fez a restauração da fachada mantendo as características originais, e só ganhou com a idéia. O local ficou bonito e é um dos pontos em destaque na Praça Rui Barbosa.

Edméa e Marcos sugerem que cada morador desta Cidade abra seus olhos para o que está próximo. Muitas vezes, bem pertinho pode estar uma construção muito especial e que até agora não foi valorizada.

Afinal, qualquer canto faz parte da história e a história recicla esses cantos. O centro, que foi tão valorizado em outras épocas, entrou em baixa e agora voltou a ganhar destaque. O que importa mesmo é a luta conjunta para não deixar que apaguem esses rastros.


Banco Noroeste, na esquina das ruas D. Pedro II e Rua XV,
com fachada imponente e restaurada com a recomposição de elementos


Portas enormes, uma característica de mais de 50 anos,
em uma pequena casa na Rua Luiza Macuco


Moinho Santista, na faixa portuária, uma construção típica art-deco, das décadas de 20 e 30


Diariamente muitos passam por este edifício em frente à Praia, no Boqueirão,
mas poucos reparam em suas linhas


O Mercado Municipal, que muitos jovens não conhecem e que merece uma visita


Ao Camiseiro, exemplo de restauração que deu certo
e que deveria estimular outros proprietários de lojas no Centro


Os armazéns do cais, presença reveladora da relação do porto com a Cidade


Em frente ao Mercado, na Praça Iguatemi Martins, um conjunto de casas, 
retrato de uma época de valorização do Centro


Marcos e Edméia revelam um local pouco conhecido:
o pátio central do edifício que fica na esquina da Rua XV com Rua do Comércio

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