A
idéia surgiu após alguma discussão: por que não entregar Santos a várias pessoas e saber o que elas pensam a respeito da Cidade onde vivem ou
trabalham? Foi assim que se fez. Sob o mesmo tema - Pensar Santos -, elástico e livre, deixamos nas mãos dessas pessoas e com suas cabeças a
incumbência de traçar um perfil desta Cidade de muitos contrastes. O que cada um fez a seu critério, dentro ou fora de suas profissões. Aqui está o
resultado. Veja o que pensam de Santos uma historiadora, um administrador de empresas, uma arquiteta, um advogado e poeta, um médico, um engenheiro
e um agente de viagens. Turismo, a grande opção
Vítor de Souza (*)
Menos por pertencer ao empresariado do Turismo e mais
por ideal que venho acalentando, entendo que a grande opção de Santos para os próximos 10 anos é o turismo.
Ao dizer turismo, não me refiro à existência de agências de viagens ou hotéis em
quantidade, como normalmente muita gente imagina. O turismo, bem analisado, é participação integral da totalidade da população de uma cidade ou
região.
Além de outros, são também componentes do turismo: a educação, cordialidade, higiene,
ordem pré-estabelecida, disciplina e carinho do povo. Dele participa toda a vida útil da Cidade, desde um gari, ou um pipoqueiro, até o banqueiro.
A realidade turística atual, entretanto, é bem diversa, porque o que está aí em termos
de organização não dá chance alguma à nossa região e à nossa cidade. Como primeira tarefa, cumpriria reformular-se de alto a baixo o entendimento
dos administradores em todos os níveis de comando e em todas as esferas do poder público municipal.
Sabemos que o turismo, de modo aparente, não traz um retorno visível ou palpável a
curto prazo. Não obstante, para se colher dele todo o potencial de indústria que é, precisamos planejá-lo. Ordenando um plano, passaríamos à
semeadura de forma gradativa pelos diversos campos da Cidade, colocando em prática as idéias, para uma colheita generosa em prazo certo. Podemos
tomar como exemplo o excelente trabalho do professor Miguel Colasuonno, presidente da Embratur, que, cercado de pessoas entendidas, esboçou um plano
e no momento oportuno passou a pô-lo em prática, com os resultados que todos conhecemos. Nem sempre uma idéia depende exclusivamente de verbas pra
sua consecução. E as verbas mal utilizadas consomem o dinheiro, não resolvendo ou agravando mais os problemas.
É este o caso de Santos, que carece de uma boa estrutura turística, precedida de um
sério planejamento da política a seguir. Homens capazes, creio que temos. Talvez fosse preciso imunizá-los contra os males do provincianismo, da
vaidade pessoal, de idéias e sonhos que já foram ultrapassados pelo tempo, dos planos utópicos e da política que não se coaduna com os interesses
maiores do verdadeiro turismo. Santos precisa, de verdade, de encarar a si mesma sem medo, sem vaidade, pois Santos não é mais a Terra da Caridade e
da Liberdade, Santos não é mais o seu Centro com a Rua 15, Praça Ruy Barbosa e Rua do Rosário.
É pôr mãos à obra: cabe aos homens de boa vontade, que se encontram no comando da
coisa pública, arregimentar o empresariado direta e indiretamente interessado, num estudo prévio para o turismo num bloco de todas as cidades da
Baixada Santista.
Antes desse estudo e da elaboração de planos - ou, se for melhor, durante ou depois de
concluídos os trabalhos - seria o caso de pensar-se num Conselho Intermunicipal de Turismo. As cidades em questão têm os mesmos problemas de Santos,
as mesmas dificuldades financeiras e administrativas. Cada qual com a sua concepção e espírito voltado para o turismo, poderiam unir-se para, em
conjunto, formarem um grande plano e sistema turístico da Baixada Santista. Neste plano seriam coordenados os trabalhos de todos, organizando-se
datas para programações, dando-se total apoio aos eventos do calendário estabelecido.
Queiramos ou não, a Baixada Santista é uma grande cidade com seus problemas comuns,
sobressaindo deles os dois maiores: falta de verbas e de organização. O que difere delas entre si são as motivações turísticas locais. O conselho
proposto poria ordem na confusão atualmente reinante, atuando com muito maior força e representatividade em termos de união junto aos órgãos e
poderes municipal, estadual e federal.
Por isso, acreditamos no turismo como a grande opção para a Baixada Santista como um
todo e não apenas para Santos isoladamente. É por demais sabido que da corrente turística que demanda a Santos, uns 70% do total, por uma razão ou
outra, visitam várias cidades deste conglomerado, deixando, em cada uma delas, com toda a certeza, uma parcela do seu dinheiro.
(*) Vítor de Souza é diretor comercial da
Agência de Turismo Vasco da Gama.
Santos, em 2002
Foto: Tadeu Nascimento, publicada no Diário Oficial de Santos em 20 de setembro de 2002
|