Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0230h2.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/05/04 22:41:38
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (H)
Pensar Santos (2)

Leva para a página anterior
Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Esta série de matérias especiais foi publicada nesse período pelo jornal santista A Tribuna, na edição em que comemorava seu 90º aniversário, em 26 de março de 1983:
 
A idéia surgiu após alguma discussão: por que não entregar Santos a várias pessoas e saber o que elas pensam a respeito da Cidade onde vivem ou trabalham? Foi assim que se fez. Sob o mesmo tema - Pensar Santos -, elástico e livre, deixamos nas mãos dessas pessoas e com suas cabeças a incumbência de traçar um perfil desta Cidade de muitos contrastes. O que cada um fez a seu critério, dentro ou fora de suas profissões. Aqui está o resultado. Veja o que pensam de Santos uma historiadora, um administrador de empresas, uma arquiteta, um advogado e poeta, um médico, um engenheiro e um agente de viagens.

Santos, expansão e patrimônio

Wilma Therezinha F. de Andrade (*)

"Pois jamais poderá viver fora de Santos, quem um dia bebeu água do Itororó!" (Martins Fontes)

Se os versos dizem a verdade, Santos corre o risco de vir a ser cidade abandonada. Quem se atreveria a beber a água do Itororó se, por acaso, pela bica jorrasse água? A cristalina fonte de outrora vertia água poluída antes de secar. Esse local ligado à geografia, à história, ao folclore de Santos, é bem um exemplo do estado geral do patrimônio histórico santista. Ruinoso e inaproveitado. Mas, ainda recuperável.

Patrimônio é o conjunto de bens culturais - incluindo os monumentos - que interessam à coletividade. Os monumentos e locais significam a história concreta: são referências importantes para as pessoas.

A noção de patrimônio para o habitante da Cidade depende de sua cultura e ajustamento ao meio. Para ele, o monumento tem função psicológica, pois ajuda-o a se orientar no espaço em que vive, a ajustar-se melhor às mudanças sociais e faz aumentar seu interesse pela cidade.

Ocupando hoje a maior parte da Ilha de São Vicente, durante mais de três séculos, Santos viveu no espaço das imediações do Outeiro de Santa Catarina até o Valongo. O chamado Centro é o núcleo histórico de Santos e foi construído nesse longo passado: a história do Centro foi a história de Santos. Essa área concentra a maior parte dos monumentos e sítios que interessam ao passado e presente santistas.

Na segunda metade do século XIX, com o impulso do café, a Cidade de Santos se estende e por caminhos abertos no meio do mato e entre os mangues alcança a Barra. No XX, a expansão se completa e a zona entre o Centro e a Praia foi sendo preenchida, aos poucos.

O Centro decai como área residencial nobre. Essa função passa para a orla da praia, onde surgem marcos novos de uma história nova: mansões "modernas", hotéis, cassinos, edifícios de apartamentos. A história da área praiana é rápida: das chácaras do século passado (N.E.: XIX), aos arranha-céus de agora, deixa alguns casarões, atestando esse passado recente. Com a saturação urbana na Ilha, temos o tráfego intenso, a poluição em vários níveis: sonora, atmosférica, visual. O variado patrimônio santista é parcialmente destruído ou desgastado.

O Centro é a área que concentra mais da metade do patrimônio histórico do Município: sua memória vem dos primórdios aos dias atuais.

A zona da praia é a segunda área de concentração de bens culturais e o espaço entre ela e o Centro é a de mais fraca densidade histórica. Outras áreas, como a Zona Noroeste, por causa da ocupação recente e falta de planejamento, não tiveram tempo, nem espaço, para sedimentar um patrimônio importante.

Todos que têm consciência histórica concordam com a valorização do patrimônio através da restauração e revitalização, mas há uma indefinição quanto às atitudes a serem tomadas. Só o tombamento de uma ou outra construção isolada não basta. É preciso uma política total que dimensione esse patrimônio e que amarre as pontas soltas de esforços isolados. Política voltada para a população e suas necessidades e não para os interesses de alguns grupos imobiliários e de motoristas sempre exigentes de vagas à porta.

É preciso assumir a herança recebida, valorizar essa cultura para melhorar a qualidade de vida, em Santos.

Ou, então, deixar ficar como está e sofrer de sede ou poluição junto à Fonte do Itororó.

(*) Wilma Therezinha F. de Andrade, historiadora, leciona História na Fafi e é vice-presidente do Museu de Arte Sacra de Santos.

Ao centro, o cruzamento das Avenidas Bernardino de Campos e Francisco Glicério, em 2003
Foto: Anderson Bianchi, publicada no Diário Oficial de Santos em 23 de agosto de 2003

Leva para a página seguinte da série