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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (F)
Solução vertical? (1)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. No início do século XXI, Santos experimentou um rápido processo de verticalização, que é comentado nesta matéria, publicada nas edições impressa e eletrônica do jornal santista A Tribuna em 17 de abril de 2006:
 


ESPIGÃO - Com mudanças nas regras de uso e ocupação do solo,
os prédios com mais de 20 andares se firmam como tendência em Santos
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Segunda-feira, 17 de Abril de 2006, 07:54
CONSTRUÇÃO CIVIL
Nas alturas

Edifícios com mais de 20 andares se consolidam como tendência na Cidade. Segundo engenheiros e arquitetos, os novos prédios, além de bonitos e esguios, garantem qualidade de vida aos seus moradores

Da Reportagem

Da janela de seu apartamento, em Santos, o empresário Roberto Brito, de 67 anos, vê, sem precisar de binóculos, se o dia está chuvoso em Praia Grande ou se o mar está revolto na Praia das Astúrias, em Guarujá. O privilégio do empresário, que mora no 24º andar, a quase 100 metros de altura, está cada vez mais acessível aos santistas, graças a um novo modelo de construção civil adotado na Cidade, que investe em edifícios com mais de 20 andares. "A vista foi fator fundamental na escolha do apartamento", diz Brito. "É ótimo poder ver o nascer e o pôr-do-sol todos os dias".

O empresário mora no Condomínio Jardins da Grécia, na Ponta da Praia, que tem, atualmente, as torres mais altas da Cidade, com 95 metros separando a calçada do topo da cobertura.

Por apenas dois metros, ele é o maior entre diversos prédios com mais de 20 andares já construídos em Santos. O Villa Condessa, na Vila Rica, por exemplo, tem apenas dois metros a menos.

Compensação

"É ótimo poder ver o nascer e o pôr-do-sol todos os dias"

Roberto Brito
Empresário

O privilégio de ser o mais alto, porém, está com os dias contados. A Prefeitura já aprovou o projeto de ampliação da Memorial Necrópole Ecumênica, no Marapé, que terá, ao todo, 33 pavimentos.

No último, ficará uma capela com abóbada de cinco metros, elevando o edifício a quase 130 metros de altura, segundo um dos arquitetos que assinam o projeto, Francisco José Carol.

Ele vai ultrapassar, por exemplo, a altura do famoso Edifício Copan, na Avenida Ipiranga, na Capital, que tem 32 andares e 115 metros, podendo ser considerado genuinamente o primeiro arranha-céu santista. De tão alto, o novo prédio da Memorial chegará quase a rivalizar com o Morro Santa Terezinha, ao lado, que mede 147 metros.


Imagem publicada com a matéria

Legislação - A mudança nos parâmetros da construção civil da Cidade foi possível graças à Lei nº 312, de 1998, que alterou as regras de uso e ocupação do solo.

Segundo a chefe do Departamento de Obras Particulares da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, arquiteta Sônia Alencar, a legislação liberou o gabarito dos novos projetos, eliminando a exigência de altura máxima dos empreendimentos.

Ela explica que os prédios mais antigos, especialmente os da orla, chegavam a 17 ou 18 andares, altura que, posteriormente, foi limitada em 14 pavimentos.
A nova regra não determina altura máxima, mas estabelece outros fatores que limitam os empreendimentos, que variam de acordo com a região da Cidade.

Os projetos atuais na orla, por exemplo, não podem prever taxa de ocupação superior a 40% da área do lote e também devem respeitar um coeficiente de aproveitamento, que determina o número de vezes que a metragem do terreno pode ser reproduzida em área construída.

"Na orla, o prédio pode ocupar 40% do terreno e, se o lote for de mil metros quadrados, a área construída pode ser de 5 mil metros quadrados", explica Sônia.
Segundo ela, a "liberdade para crescer" resulta em projetos de mais qualidade no trabalho dos arquitetos e engenheiros. "São prédios mais esguios e bonitos", avalia.


Novos projetos, muitos de alto padrão, têm piscinas e academias
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Segunda-feira, 17 de Abril de 2006, 07:57
Lazer e fundações profundas são comuns

Oito anos depois de aprovadas, as novas regras de uso e ocupação do solo espalharam pela Cidade dezenas de edifícios com mais de 20 andares, todos com duas características comuns: muitas áreas de lazer e fundações profundas, necessárias para manter em pé as construções no solo santista, considerado por especialistas um dos piores do mundo.

O primeiro empreendimento a se aproveitar das novas regras foi o Horizontes, na Rua Campos Mello, feito pela Construtora Phoenix. Com 87 metros da calçada ao mirante, no último pavimento, ele tem fundação de 44 metros de profundidade. O mirante, inclusive, foi um dos principais atrativos de venda do prédio, com apartamentos de um e dois dormitórios, e a promessa de vista de toda a Cidade.

Depois dele, o filão foi praticamente dominado por imóveis com preços acima de R$ 200 mil, sendo muitos de alto padrão e preço superando meio milhão de reais.
Os condomínios são equipados com piscinas, quadras, saunas, academias e, os mais sofisticados, com salas de cinema e quadra de squash.

87 metros

é a altura do Edifício Horizontes, na Rua Campos Mello

  

Os novos projetos também seguem o mesmo padrão de altura. Na área do antigo Cine Iporanga, por exemplo, as características serão potencializadas em um prédio de 27 andares e mais de 90 metros de altura, que abrigará residências, salas comerciais, mercado e salas de cinema.

Serão 17 andares de apartamentos e 10 divididos entre a área de lazer do residencial, escritórios, prestação de serviços e garagens. Além disso, o projeto é o primeiro da Cidade a prever o uso de três andares de subsolo.


Prédios altos (ao fundo), após liberação do gabarito,
são a opção para a falta de espaço na Cidade
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Segunda-feira, 17 de Abril de 2006, 07:58
Para urbanistas, modelo atual é melhor

Arquitetos e urbanistas ouvidos por A Tribuna defendem o novo modelo de edificações adotado na Cidade. Segundo eles, as regras para a construção dos prédios garantem que, mesmo com os arranha-céus, a qualidade de vida do santista está preservada.

"O código (Lei de Uso e Ocupação do Solo) é bom na defesa dos espaços", avalia o arquiteto Francisco José Carol, responsável, junto com o arquiteto Antônio Augusto Branco Corrêa, pelo projeto da Memorial. Segundo ele, a liberação do gabarito, com os mecanismos de defesa da área urbana, é uma boa opção para uma cidade como Santos, que historicamente sofre com a falta de espaços para se expandir.

"Mesmo os terrenos onde os prédios grandes estão sendo construídos já são de imóveis antigos que foram demolidos. Aqui falta espaço e o metro quadrado é muito caro", avalia Carol.

  

Lei suaviza efeito "paredão" da orla da praia

  

A mesma opinião tem o arquiteto e urbanista Maurício Azenha. Para ele, a legislação cria compensações para a altura dos prédios. "Quanto mais alto o projeto, mais recuo ele deve ter", explica.

O modelo, segundo ele, suaviza o efeito de um paredão de prédios, como o que existe na orla santista e, de forma mais aguda, em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde dezenas de prédios altos estão praticamente colados uns aos outros. "Este modelo é melhor do que o anterior porque cria espaços livres entre os prédios", diz, lembrando os milhares de condomínios santistas que parecem enormes caixotes, ocupando praticamente todo o espaço útil do terreno.

O resultado, para Azenha, é que o adensamento populacional acaba não existindo com os prédios altos. "O número de pessoas ocupando o lote não aumenta necessariamente", diz, explicando que os critérios de qualidade de vida urbana consideram a quantidade de pessoas vivendo por metro quadrado, não o número de pavimentos das edificações.

Carol também aponta como exemplo a Riviera de São Lourenço, em Bertioga, onde são erguidos condomínios altos, mas seguindo um rígido padrão de ocupação do solo. Segundo ele, o resultado é que os imóveis não geraram sufocamento como impacto para a vizinhança.

"Os prédios mais altos podem até ser mais adequados para o urbanismo pela distância entre eles", acredita. "Além disso, as necessidades técnicas para a construção podem trazer para Santos um pólo de avanço tecnológico no setor", conclui.


Riviera de São Lourenço segue padrão rigoroso que não causa impacto para a vizinhança
Foto: arquivo, publicada com a matéria

Uma carta-resposta foi publicada na seção Tribuna do Leitor da edição de 3 de maio de 2006 do mesmo jornal santista A Tribuna:

Verticalização - Como arquiteto, nascido e formado em Santos, foi com muita surpresa que li a reportagem sob o título "Nas alturas", publicada em 17 de abril, onde alguns renomados arquitetos da região defendem a verticalização radical que ocorre em Santos, garantindo inclusive que futuramente haverá uma melhoria na qualidade de vida em nossa cidade.

Minha modesta opinião é exatamente inversa. Como aconteceu em outras cidades, o setor da construção civil fez de tudo para aumentar o gabarito dos prédios em Santos e os políticos deram o aval sem nenhuma discussão mais abrangente sobre o problema. Infelizmente existem pessoas que visam apenas o lucro, sem medir as conseqüências futuras.

Foi usado o exemplo da Riviera de São Lourenço para justificar a verticalização, mas na verdade são coisas completamente diferentes. Na Riviera existem padrões rígidos de ocupação do solo; áreas de preservação da vegetação original e outras para construção; áreas comerciais e residenciais; áreas apenas para casas, outras mistas ou só para edifícios, sendo que esses têm um limite máximo de altura e de distância do outro. Em resumo, tudo o que não existe em Santos.

Infelizmente, a realidade dos fatos mostra que as megatorres de mais de 100 metros de altura sobem na razão direta dos problemas sociais e da diminuição da qualidade de vida. Seria uma enorme ingenuidade achar que a lei que liberou o gabarito dos prédios poderia ser anulada em um momento futuro, porém o povo de Santos ainda tem a possibilidade de observar, com atenção, o resultado desastroso que a verticalização sem limites e a urbanização acelerada provocaram em outras cidades brasileiras e em bairros de São Paulo.

Deveria ser debatido o problema e criados caminhos próprios para um processo de crescimento urbano controlado, visando à preservação do que resta de qualidade de vida em nossa cidade.

Walter Galindo Decker Filho
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