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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (C)
A qualidade de vida em questão (5)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Tal preocupação se mantinha, em 19 de maio de 2004, quanto esta matéria foi publicada no jornal santista A Tribuna:
 
Um pedaço do campo na cidade.
Mas, até quando?

Uma faixa de vende-se na frente do imóvel revela que aquele lugar bucólico, com árvores e plantas de várias espécies, pode estar com os dias contados. A Chácara Brasil, na Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, até agora resistiu ao tempo e ao avanço dos prédios.


Chácara Brasil
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Privilégio
Oásis urbano

Da Reportagem

Leonardo Corte Sant'Anna tem sérias decisões a tomar todas as manhãs. O que deve fazer primeiro: andar de bicicleta, aventurar-se numa trilha no meio do mato ou pescar no tanque perto da casa onde mora? Aos 7 anos de idade, as opções para o garoto são muitas, e talvez dê tempo de ele fazer tudo isso antes de se aprontar e descer o Morro da Nova Cintra para ir à escola, depois do almoço.

Para quem mora em centros urbanos, talvez seja difícil imaginar tanta atividade em pleno dia de semana. O máximo que se pode fazer é planejar um passeio em um sábado ou domingo e, mesmo assim, a criança terá que escolher entre um e outro tipo de lazer.

Sorte de Leonardo, cujos pais decidiram arrumar as malas e mudar para a chácara da família há cerca de um mês. "Antes, achava que não conseguiria me adaptar, mas, agora, não troco isso por nada". Engana-se quem pensa que essa frase é do garoto. Nada disso. Mara Sant'Anna, a mãe, também se rendeu aos encantos do mato.

Na Chácara Cantão, além de Mara, o marido e o filho, vivem ainda mais cinco pessoas (a sogra e um cunhado em uma casa e outro cunhado com o filho e a mulher, em outra). Ali a família também trabalha, na produção de mudas de plantas para vendas e execução de projetos de jardinagem.

Qualidade de vida - Além da tranqüilidade proporcionada pela distância (nem tão grande assim) da Cidade, longe de ruídos que para a maioria dos mortais já não causam estranheza, como buzinas, máquinas trabalhando e guardas apitando nos semáforos, a família de Mara ainda é contemplada com visitas inesperadas de sagüis, esquilos, tucanos e pássaros. Esses, responsáveis pela trilha sonora do local.

"Meu filho adorou mudar para cá", conta Mara. "Até o ar que a gente respira é melhor. Aqui, a água é de nascente, não tem aquela água de encanamento, é mais limpa, mais saudável", elogia a mãe de Leonardo.

Faz coro com ela o garoto, em cima da bicicleta, tendo ao lado o inseparável companheiro Tibor, um dos cães da família. "Estou adorando morar aqui. É bem melhor". Cheio de planos, ele conta que vai ter uma casa na árvore e um escorregador. Os "garotos da floresta", como se auto-intitularam Leonardo e os amiguinhos, ainda têm muito o que explorar.

Acesso - Engana-se quem pensa que morar assim significa ter de abrir mão de toda a comodidade oferecida pelos centros urbanos. Shopping centers (N.E.: centros comerciais), cinemas, restaurantes, escolas e hospitais não ficam a mais de meia hora de carro ou uma hora de ônibus.

"Quando precisamos de alguma coisa, é só pegar o carro, ou mesmo ir de ônibus. Temos acesso a tudo, não encontramos dificuldade nenhuma", garante Mara. "Até o celular pega aqui".


Há cerca de um mês, a família de Leonardo 
instalou-se na chácara e está encantada com as novidades
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Chácara Brasil está com os dias contados

No número 629 da Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, uma chácara resiste ao tempo e ao avanço dos prédios que tomaram conta de quase toda a Cidade. Trata-se da Chácara Brasil Ltda., conhecida pelas mudas de várias espécies de plantas que produziu e pelos projetos paisagísticos que executou ao longo de quase oito décadas, entre os quais na Riviera de São Lourenço (N.E.: situada no município de Bertioga).

Hoje, uma faixa de Vende-se na frente do imóvel indica que os dias da chácara estão contados. Dentre os interessados, muitas construtoras que poderão, no lugar das palmeiras imperiais, ficus, plantas frutíferas e ornamentais, erguer mais um edifício.

Quem está triste é o neto de Antônio Fernandes, português que chegou à Cidade em 1927 e criou a Chácara Brasil. Para Paulo Eduardo Fernandes Mathias, os R$ 3 milhões pedidos pelo imóvel não pagam as lembranças que ficarão ali. "Meus tios nasceram e cresceram aqui. Eles e o meu avô cuidavam de tudo isso", recorda Mathias.

 

Fundador da chácara chegou à cidade em 1927

 

Realidade - O valor da propriedade, embora pareça fora da realidade, está dentro do que é cobrado pelo metro quadrado na Cidade. Segundo o delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Santos, Dirceu Carlos Augusto, em regiões consideradas nobres, como Embaré, Ponta da Praia, Gonzaga e Boqueirão, o metro quadrado custa entre R$ 800,00 e R$ 1.200,00.

A Chácara Brasil, com 3.060 metros quadrados, está dentro da média cobrada. Mas poderia valer mais, já que é um dos últimos oásis que podem ser encontrados no centro da ilha. "Não existem mais imóveis como esse da Conselheiro Nébias à venda", afirma Augusto.

Perda - A venda da Chácara Brasil também deixa triste o paisagista Milton de Souza Júnior. "Será uma grande perda para a Cidade", declara Souza, lembrando que foram os tios de Mathias que lhe ensinaram as técnicas da profissão. "Tudo que eu aprendi, devo a eles", conta, referindo-se aos irmãos Francisco, Ismael (ambos falecidos), Cláudio e Antônio.

Enquanto o imóvel não é vendido, os proprietários atendem a clientes antigos. "A terra aqui é a melhor que tem", garante Mathias. "Eu não queria vender, mas sou a minoria", conclui.


Localizada na Avenida Conselheiro Nébias, 629, a Chácara Brasil está à venda por R$ 3 milhões
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Orquidário - A grande chácara
Se você não mora em uma chácara como as privilegiadas famílias de Mara Sant'Anna e de Paulo Eduardo Fernandes Mathias, ainda assim pode respirar um ar mais puro sem ter de sair da Cidade. Para isso, basta fazer uma visita ao Orquidário Municipal.

Localizado em uma área com 22.240 metros quadrados, os visitantes que ali chegam encontram jardins e vegetação semelhante à de florestas da região, além de répteis, aves e mamíferos, alguns soltos pelo parque e outros mantidos em recintos próprios (a maior parte nativos do Brasil).

Considerado uma ilha verde no meio da Cidade, é o terceiro parque mais visitado do Estado. O Orquidário (Praça Washington, s/nº) fica aberto de terça a domingo, das 8 às 18 horas. O ingresso custa R$ 1,00. Crianças e idosos não pagam.

Fonte: Prefeitura


Orquidário
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

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