HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
TRANSPORTES
A briga pelo troco
Critérios bem pouco (ou por demais) inteligentes (e
provavelmente nada técnicos (ou tão técnicos que se desvinculam da realidade cotidiana), nortearam muitas vezes a definição, pelas autoridades, dos
preços das passagens nos ônibus, causando sérios problemas de troco para os passageiros que as pagam em dinheiro.
A falta de moedas fracionárias na região completa o quadro de uma antiga briga entre o cobrador sem troco para
devolver ao passageiro (às vezes, malandramente escondendo o troco ou evitando tê-lo consigo, para forçar o passageiro a deixar essa diferença a mais no
ônibus) - e o passageiro, que já paga caro pela condução e, pela falta de troco, é compulsoriamente levado a pagar ainda mais do que o estabelecido. Se
o valor da passagem é R$ 1,80, acaba pagando R$ 2,00, e a diferença vai para o bolso do cobrador.
Não por acaso, uma das matérias publicadas pelo jornal santista A Tribuna em 31 de agosto de 1978 tinha
como título: "Troco e horário, as queixas contra a CSTC". No texto, críticas à atuação da Companhia Santista de Transportes Coletivos (CSTC), como esta,
que abre a matéria:
"A única queixa que tenho contra a CSTC é a respeito do troco. Os cobradores nunca têm os
20 centavos para dar ao passageiro e nem oferecem uma explicação. Simplesmente cobram Cr$ 3,00 pela passagem e até logo". Maria das Graças Fernandes,
que mora na Ponta da Praia e é passageira habitual dos ônibus da linha 42, embarca sempre no ponto da Praça Mauá. Para ela, "o serviço anda mais ou
menos bem. Os ônibus da 42 são novos, e bem mais confortáveis que os amarelinhos da Viação. Esses são horríveis, com bancos duros e totalmente
desconfortáveis. Não sei como a Prefeitura permite esses ônibus rodando dentro da Cidade".
Sobre esses problemas, a falecida professora Graziella Diaz Sterque publicou, na edição 25 do boletim
Informativo Cultural, de sua Associação Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande (Aceam), este comentário, em janeiro
de 1980:
Bilhete de passagem municipal emitido em 1978 pela Viação Santos-São Vicente
Imagem: acervo Novo Milênio
GRAZIELLA DIAZ STERQUE... INFORMA
Falta de troco nos coletivos, ou assalto à bolsa dos usuários
A falta de troco nos coletivos que trafegam na Baixada
Santista, e no Litoral Sul, se constituiu num autêntico assalto passivo à bolsa dos usuários. Tal deficiência de há muito vem ocorrendo; entretanto,
nenhuma medida foi tomada para coibir o abuso.
Quando o passageiro toma um ônibus, cuja tarifa é 7,50, 9,00 ou 13 cruzeiros, e entrega ao
cobrador uma cédula de Cr$ 50,00, quase sempre recebe o troco incompleto, sob a alegação da falta de moedas e cédulas divisionárias, o mesmo
ocorrendo quando se paga a passagem de 6,50, 7,50 ou 9 cruzeiros, com uma cédula de 10 cruzeiros.
Essa falta já se generalizou, e os proprietários das empresas que exploram esse setor de
atividade humana, apesar de terem conhecimento do fato, não tomam nenhuma medida capaz de disciplinar o sistema de troco, causando a impressão de
conivência no caso.
Essa irregularidade vem dando margem a sérios atritos entre passageiros e cobradores, pois o
passageiro nunca pode provar se o cobrador está dizendo a verdade sobre a inexistência de troco, cujas moedas e cédulas de menor valor poderão estar
noutro lugar, menos na gaveta.
O poeta J. Florindo, uma das vítimas deste embuste diário, escreveu especialmente para este
Informativo a sátira:
I
A população da Baixada,
Em fase de provação,
É duramente explorada,
Nos preços de condução.
II
Ônibus de itinerário,
Entre a Ilha e o Continente,
Dão lucro extraordinário,
Tarifa sempre crescente.
III
É serviço de utilidade,
Não se tem substituição,
Empresas agem à vontade,
Não há fiscalização.
IV
Movimento de passageiros,
Aumenta constantemente,
Empresas ganham dinheiro,
Empresários vivem contentes.
V
Além das tarifas altas,
Outra falha causa intrigas,
O troco sempre em falta,
Originando brigas.
VI
Quando aumentam as passagens,
Um fenômeno acontece,
O dinheiro para troco,
Sempre desaparece.
VII
Ninguém sabe explicar,
Das moedas o sumiço,
Mas é fácil de analisar,
Alguém lucra com isso.
VIII
Prejuízos aos usuários,
Povo honesto, educado,
Que no trânsito diário,
Constantemente é lesado.
IX
Empresários indiferentes,
À grave situação,
Será que são coniventes,
Nesse tipo de exploração?
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