Diretores das três agremiações encaram a proposta do vereador com reserva e demonstram
até alguma preocupação. Por isso devem se reunir com Fábio Nunes neste final de semana
Foto: arquivo, de 16/9/2004, publicada com a matéria
PONTA DA PRAIA
Tentativa de preservação
Para evitar demolições das sedes de três clubes (Regatas, Saldanha e Vasco)
vereador Fabião pretende propor ao Condepasa o tombamento dos prédios. Ele lamenta o ocorrido com o Clube XV
Da Reportagem
Uma proposta do vereador Fábio Nunes, o Fabião
(PSB) promete agitar os tradicionais clubes localizados na Ponta da Praia. O vereador pretende enviar um requerimento ao Conselho de Defesa do
Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) pedindo análise do valor histórico das sedes dos clubes Regatas Santista, Saldanha da Gama e Vasco da
Gama, para posterior tombamento dos imóveis.
As três agremiações passam por crise financeira e a idéia de Fabião é bloquear uma
possível especulação imobiliária que acabe destruindo o valor histórico das obras. "Não quero brecar investimentos na Cidade", destaca o vereador.
"Só não pode acontecer algo semelhante ao ocorrido com o Clube XV (na avenida da praia com o Canal 3). Acabaram com um clube tradicional para fazer
um prédio (hotel) de gosto duvidoso", ironiza.
O presidente do Condepasa, o arquiteto Bechara Abdalla Pestana Neves, lembra que no
caso do Clube XV também foi pedido o tombamento. "Mas, após avaliação, os conselhos (municipal e estadual) concluíram que o pedido não se
justificava", recorda.
INCÓGNITA |
"O pedido pode vir de várias formas
e se referir somente à parte externa, por exemplo"
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Bechara Abdalla Pestana Neves
Presidente do Condepasa
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Requerimentos com o pedido de análise do tombamento dos clubes da Ponta da Praia
também devem ser enviados ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat) e para o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
No entanto, deve haver dificuldades na negociação com os próprios clubes. Por esse
motivo, Fabião adiou a apresentação do requerimento que aconteceria na sessão de ontem da Câmara, para se reunir com presidentes e diretores
neste fim de semana. "O problema é que Saldanha e Vasco mudaram a diretoria recentemente (dia 1º), então vamos discutir melhor o assunto", garante o
vereador.
Mas o presidente do Condepasa avisa que os clubes, mesmo com um possível tombamento,
depois de várias análises e estudos, continuam com o direito de usufruir, alugar ou vender as sedes. "Não quero fazer comentários antes mesmo de
receber o requerimento. Mas o pedido pode vir de várias formas e se referir somente à parte externa, por exemplo", comenta. Neste caso, anexos como
ginásio ou quadras - desde que não façam parte do projeto inicial - podem ser alterados, reformados ou restaurados, após aprovação prévia dos
responsáveis.
Ciente da polêmica, Fabião adiou apresentação do requerimento
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria
Dirigente do Regatas vê como o início do fim
Pode parecer apocalíptico, mas a proposta de tombamento dos clubes - aparentemente
salvadora - é vista como o começo do fim pelo presidente do conselho deliberativo do Clube de Regatas Santista, Odayr Santos. "A princípio,
parece-me que irão engessar os clubes, o que vai acarretar no fechamento de todos eles", projeta o presidente do conselho.
O Regatas Santista, aliás, deve ser um dos principais alvos da discussão, segundo
conta o vereador Fabião. "De acordo com os arquitetos que consultei, o maior interesse deve mesmo ser em relação ao Regatas. Por seu valor histórico
e arquitetônico", afirma.
O futuro obscuro, não muito diferente do presente, é pressentido em virtude de
possíveis saídas estudadas pelos clubes. "O tombamento pode atrapalhar porque temos idéias de venda ou parcerias futuras (entre elas, uma com o
Santos F.C.). Quem sabe até uma fusão entre os três clubes (Regatas, Saldanha e Vasco da Gama). Mas não sei se algo do gênero (tombamento) poderia
nos atrapalhar", explica o presidente do conselho do Regatas.
O clube, que teve a energia elétrica cortada na última quarta-feira, não recebe
regularmente o fornecimento de água e carrega dívidas enormes, além de uma sede antiga e deteriorada, segundo Santos. Assim, está sendo estudada uma
fusão, "que seria a melhor alternativa. Mesmo porque está difícil conseguir um parceiro que invista no clube".
O ginásio de esportes, por exemplo, teve seu contrato de aluguel com a Prefeitura
renovado esta semana.
Dos quase 4 mil sócios que tinha em 1993, quando Santos era presidente, o Regatas,
hoje, tem aproximadamente 150 que pagam em dia.
Vasco: dívida - Segundo o ex-presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama,
Paulo Pimentel, que esteve no comando do clube até o último dia 30, "um possível tombamento pode até ajudar, mas é algo incerto". Motivo: o presente
e o futuro do clube não são muito animadores.
O presidente Cláudio de Matheus Júnior assumiu o comando do Vasco com planos
ambiciosos. "Vamos profissionalizar a administração e terceirizar as atividades, melhorando a qualidade e aumentando a oferta de modalidades
esportivas".
Segundo Matheus, os parceiros deverão ajudar a valorizar o que, para ele, é o
principal patrimônio do clube: seu nome, quase centenário. "Estamos trazendo uma renovação para o clube. A solução não é vender a sede aos poucos,
mas valorizar nossa estrutura, trazendo sócios freqüentadores e recuperando o título familiar".
A agremiação acumula cerca de R$ 1 milhão em dívidas e um quadro de sócios pagantes
que não chega a 150 (já foi de 5 mil).
Saldanha: incerteza - A situação do Clube de Regatas Saldanha da Gama também é
incerta. A nova diretoria, que assumiu no último dia 1º, ainda está avaliando a situação e aguarda contato do vereador Fabião para entender
melhor a proposta de tombamento.
"No entanto, pretendemos trabalhar para manter o clube e todo o patrimônio histórico,
que também pertence à Cidade", afirma o vice-presidente Valmir Charleaux Blanco Esteves. o presidente Wladimir dos Santos Matos, recém-eleito, não
respondeu aos contatos feitos por A Tribuna. |