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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Clube de Regatas Santista (3)

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Esportes náuticos e atividade social são as marcas dos dois grandes ciclos das atividades do Clube de Regatas Santista, um dos quatro grandes clubes da Ponta da Praia. Quando esta agremiação completou 88 anos de existência, o antigo jornal Cidade de Santos publicou, em 6 de abril de 1981:
 


A etapa inicial do Conjunto Aquático terá suas obras concluídas este mês
Foto publicada com a matéria

Piscinas, realidade no 88º aniversário

Texto: Rita de Cássia Caramez
Fotos: Tateo Ikura

Com todos os esforços voltados à conclusão do Conjunto Aquático "Manoel Neves dos Santos", uma obra orçada em cerca de Cr$ 40 milhões, o Clube de Regatas Santista completou, na última sexta-feira, 88 anos de fundação e de atividades esportivas na cidade. E o Azulão entra em mais um novo ano de existência implantando um extenso programa esportivo, voltado às categorias inferiores, com objetivo de criar seus próprios atletas.

Primeiro campeão brasileiro de remo (1934) e de hóquei sobre patins (1974), nesses 88 anos de vida o Azulão conseguiu manter-se sempre entre os mais tradicionais clubes, juntando uma numerosa coleção de troféus e títulos, principalmente nas modalidades de remo, hóquei sobre patins e futebol de salão. Fundado em 1893, da fusão dos clubes Nacional e Internacional, o Azulão conseguiu, em 18 de novembro de 1934, através de Luiz Ubaldo Gonçalves, David Martins e Dimo Romiti, o título de campeão brasileiro de remo.

Sendo o segundo clube de remo mais antigo do Brasil (o primeiro é o clube Guaíba, do Rio Grande do Sul, fundado em 1888), foi também o Azulão que obteve o primeiro título nacional do hóquei sobre patins, no certame realizado aqui em Santos, em 1974, conseguindo, dois anos mais tarde, em 1976, o bicampeonato brasileiro nessa modalidade, durante o torneio ocorrido em Recife.

Em algumas de suas salas, o Azulão da Ponta da Praia guarda seus inúmeros troféus, entre eles o mais importante troféu de remo já disputado no Brasil - o "Câmara Municipal de Santos", todo em prata maciça, em exposição num pedestal especial instalado logo na entrada do clube. Também pelo hóquei, o Regatas guarda com muito carinho os troféus "Rádio Jornal do Comércio de Recife", obtido pelo bicampeonato de hóquei; e o "Clube Municipal da Cidade de Buenos Aires", conquistado no Torneio Internacional de Buenos Aires, em 1972.


A atual sede do clube, construída a partir de 1961
Foto publicada com a matéria

Modalidades - Mas, desde sua fundação até os dias de hoje, o Azulão cresceu muito, e com ele o número de modalidades praticadas pelos associados. Atualmente, além dos jogos de salão, o Regatas mantém em atividade departamentos de voleibol, hóquei, judô, bocha, tênis de mesa, natação (atualmente com treinos na piscina do Internacional, cedida pelo clube vizinho), futebol de salão, futebol de campo, remo, além de ginástica rítmica, yoga, ballet e patinação artística.

E essas modalidades, desenvolvidas de uns anos para cá, também já deram vários títulos ao Regatas. O hóquei sobre patins do Azulão conseguiu os títulos paulistas em 1971, 72, 73 e 74. Enquanto isso, a patinação artística, através de Naiade Rocha Capello, trouxe ao Azulão o título de campeão paulista de 1977; campeão brasileiro em 1978 e 1979; e sulamericano em 1979. Outra modalidade em evidência, nos últimos tempos, é o futebol de salão, várias vezes campeão santista e que muito tem contribuído para a formação de selecionados da cidade.

Preocupação maior - Além de executar a segunda etapa do Conjunto Aquático "Manoel Neves dos Santos", que integrará três piscinas - uma infantil, outra de recreação para adultos e a de competição -, secretaria, salas departamentais, de administração, enfermaria e outras instalações, uma grande preocupação da atual diretoria do Azulão é dar força total às equipes inferiores do clube.

Principalmente a partir deste ano, o Regatas está procurando incentivar ao máximo os filhos de associados, com objetivo de, através de programas esportivos, formar equipes autenticamente do clube, acompanhando os atletas desde a categoria "fraldinhas" até os times principais. Nessa programação, já em andamento, as modalidades mais atacadas estão sendo o hóquei, o futebol de salão, o remo e o judô.

Algumas modalidades, como a bocha, por exemplo, ainda encontram-se em fase de formação de equipes, de melhor estruturação, ficando excluídas do programa de incentivo à criança esportista, pelo menos por enquanto. Mesmo assim, essas modalidades não deixam de ter atenção dos dirigentes do clube, empenhados em prestigiar o esporte.


A garagem do Azulão, lotada com embarcações de competição e recreação
Foto publicada com a matéria

Aniversário - Neste seu 88º aniversário, o Clube de Regatas Santista ganhou um presente aguardado já há algum tempo: a oficialização de Travessia de Veteranos. Este ano, dentro de sua programação esportiva de aniversário, o Azulão será o promotor de uma das provas constantes do calendário oficial da Federação Paulista de Esportes Aquáticos, a XIII Travessia do Canal a Nado.

Mas, além da travessia, até o começo do próximo mês, o Regatas desenvolverá torneios de bocha, futebol de campo, voleibol, promovendo encontros de futebol de salão, de judô e também jogos de salão. Também na parte sócio-cultural - que foi muito ativada no ano passado, quando o clube promoveu vários shows de patinação e de balé, angariando verbas para entidades assistenciais da cidade, através de seus grupos "Magia Sobre Rodas", "Corpus Ballet" e "Grupo Opção" - o Azulão programou muita coisa para este mês de comemorações.

Dentro desse programa, o destaque fica com a tradicional festa da "Flores ao Mar", prevista para o dia 21, quando após o hasteamento das bandeiras, e a missa na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, veteranos do Azulão jogarão flores no mar defronte ao clube e mais uma vez, como tradicionalmente ocorre todos os anos, participarão de um grande almoço de confraternização.

Diretoria - Os dirigentes do Clube de Regatas Santista, o Azulão da Ponta da Praia, liderada por Gilberto Giangiulio, já há quatro anos na presidência do clube e reeleito por mais dois anos, são os seguintes: Diretoria Executiva: secretário geral, Francisco Ricci Neto; 1º secretário, Waldemar Gonçalves Cruz; 2º secretário, José Paulo de Carvalho Cherubim; diretor de patrimônio, Paulo Vaz de Lima; social, José Carlos Frederico Alonso; de esportes, Odayr Santos; tesoureiro, Ronaldo Figueiredo; 2º tesoureiro, Francisco Nunes Cruz.

E ainda: diretor de propaganda, Sílvio Guimarães; jurídico, Walter Melício; relações públicas, Hugo Gomes Fereira; Cultural, Josias Loyola dos Santos. Na presidência do Conselho Deliberativo está Joaquim Alves da Costa Fonseca; Artur Rivau como vice; Adauto Marques de Lima como secretário e Hélio Helcias como 2º secretário.



Cabana do Pai Thomás, primeira sede do Azulão na Ponta da Praia
Foto publicada com a matéria

Com Raimundo, as lembranças

Há 35 anos, havia um grupo de esportistas em Santos que praticava, nos fins de semana, um esporte chamado açougue - denominação dada a um futebol rápido e bastante agressivo, disputado na areia. Os praticantes do açougue integravam os quadros associativos do Clube de Regatas Santista e Clube de Regatas Vasco da Gama, já instalados na Ponta da Praia.

Quem lembra do açougue e explica a modalidade é José Raimundo, um baiano de 62 anos de idade, e que desde 1946 trabalha no Azulão. Tio Raimundo, como é conhecido no clube, conta que "naquela época, nos fins-de-semana, nem sempre o número de sócios que compareciam à antiga sede do Regatas (a chamada "Cabana do Pai Thomás") era suficiente para a formação de duas equipes de futebol. Então, a gente chamava o pessoal do Vasco - naqueles dias não tinha separação entre os dois clubes - para completar uma equipe".

"O açougue nasceu assim. A equipe formada só pelo pessoal do Regatas não queria perder de forma alguma para a outra, mesclada com gente do Vasco. A outra equipe, com gente do Regatas e do Vasco, também fazia de tudo para não perder. Então, era um tal de tirar bife da canela do outro, à procura da vitória. Daí a gente chamar aquele jogo de açougue, já que era canelada para todo lado".

Raimundo, que conviveu "com os pais que hoje são avós, e com os filhos que hoje são pais", conhece muitas outras histórias do Azulão, e também da Ponta da Praia, que conheceu ainda na época em que o bonde 4 passava nos terrenos do Regatas e do Internacional. Entre elas a da "vez que o bonde se desgovernou e entrou no muro do clube, quebrando tudo e dando trabalho para ser retirado do atoleiro", ou das vezes que o helicóptero vinha abastecer defronte ao Regatas, antes de levar crianças a passearem pela baía de Santos.

E ele, uma pessoa muito especial, ajudou a construir o clube. "Quando o Regatas veio para cá, tinha só uma secretaria, uma garagem e um vestiário. Eu era responsável pela abertura da sede aos domingos, quando o pessoal praticava remo. Era só uma cabana. Lembro que a gente usava a cantina do Vasco, antes de construir a nossa, onde fizemos muitas peixadas e feijoadas, mas isso depois de ter aumentado o número de sócios. No começo, quando o Regatas veio da Bocaina, tinha só uns 30 associados".

E desse tempo, quando "muitas vezes para pagar as contas de água, luz e mesmo imposto, tinha que ser feito um rateio entre os sócios", o que mudou no clube, para José Raimundo, foi a sede e o número de associados. "A diferença daquela época para agora está no progresso do clube. A sede maior, com o Ginásio, a quadra de bocha e todas as outras dependências. E também o aumento da família, né? Antes eram só uns 30. Hoje são cerca de 20 mil pessoas, entre sócios e familiares. Mas a tradição é a mesma. Os costumes não mudaram. Ainda somos uma família, só que agora bem maior".

Como diz Raimundo, hoje vivendo num apartamento construído junto ao Ginásio do Azulão - onde na porta ele ainda utiliza um antigo capacho do clube, usado na época da sede da Bocaina -, "o tempo de hoje é bem melhor. Hoje, mesmo com todas as dificuldades, ainda temos como arrumar dinheiro para fazer melhorias no clube. Naquela época não, era um tempo de vacas magras, as dificuldades eram bem maiores".

Ele, que sabe muito bem a história de como o Regatas conseguiu o terreno da Ponta da Praia - "o Ministério da Marinha fez uma troca com o clube, que veio para a Ponta da Praia já com a combinação de ceder parte do terreno para a instalação do Internacional" - diz que o período atual é bom. "Agora temos instalações mais adequadas, e podemos atender melhor os associados".

Em meio a tantas histórias que guarda na memória, no decorrer desses 35 anos de Azulão, José Raimundo não gosta de contar uma. A que se refere ao pequeno play-ground "Tio Raimundo", construído recentemente. Mas mesmo assim, um pouco contrariado, ele fala: "Com a construção das novas piscinas, fomos obrigados a retirar os jardins onde a criançada brincava. Um dia foram inaugurar esse pequeno jardim (instalado junto ao muro direito do clube), e eu estava assistindo. Me pegaram de surpresa, quando descerraram o pano, e vi a placa com meu nome".

E nesse pequeno jardim, os sócios do Regatas Santista demonstraram o carinho e o respeito que têm pelo Tio Raimundo, um homem que "dava um duro danado com a molecada antiga e que continua a brincar e ralhar com as crianças de agora. Conheço todos eles - diz Raimundo. Vi todos eles crianças ainda, e eles eram terríveis. Essa meninada cresceu, casou, teve filhos e permaneceu no clube, trazendo mais gente, e aumentando nossa família. Mas hoje já não preciso ralhar tanto com as crianças. Hoje elas é que dão lições aos mais velhos, são muito vivas. E também, depois de tanto tempo aqui, já deixo passar muita coisa. Já me acostumei com as coisas do clube e faço vistas grossas com a molecada".


Tio Raimundo, considerado patrimônio histórico do Azulão
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