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Continua sem solução a greve dos empregados da Cia. City
Em assembléia de anteontem os grevistas formularam uma proposta rejeitada pela
gerência da empresa - Os trabalhos da reunião realizada na tarde de ontem também resultaram nulos - Os empregados da City não atenderam a
insistentes apelos das autoridades trabalhistas
Faz hoje seis dias que perdura a greve dos empregados da
Companhia City. Houve apelos, propostas e contrapropostas, porém o problema continua insolúvel, visto como os grevistas se mostram irredutíveis em
suas reivindicações, parecendo que a situação persistirá por outros dias, com sérios prejuízos para a população, que há 120 horas não dispõe do seu
principal meio de transporte.
Os grevistas não estão dispostos a renunciar às suas pretensões, mostrando-se
intransigentes, enquanto as autoridades buscam uma fórmula que concilie os interesses de ambas as partes e assegure a solução do problema, que já se
apresenta grave, muito grave.
A assembléia de anteontem - Anteontem, às 14 horas, a assembléia do Sindicato
dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos, que funciona em caráter permanente, novamente se reuniu para apreciar a questão.
Foi uma assembléia muito concorrida. O sr. Felipe Folganes, presidente do sindicato da
classe, expôs os entendimentos havidos nos Campos Elíseos com o interventor federal, quando o embaixador Macedo Soares insistiu em que os grevistas
retornassem ao trabalho como base essencial para o estudo e solução do problema que determinou o movimento paredista.
Estando presente à assembléia o dr. J. Ney Serrão, presidente da Junta de Conciliação
e Julgamento, analisou demoradamente a questão e apelou para os trabalhadores da City, no sentido de que reiniciassem as atividades, confiantes na
ação das autoridades.
Houve vivos debates em torno do assunto, mostrando-se os grevistas irredutíveis em
seus pontos de vista.
Afinal, a assembléia resolveu oferecer uma proposta à gerência da Cia. City
consubstanciada nos seguintes termos:
"1º - Concessão grátis do fardamento, a partir do mês de
janeiro de 1946.
2º - Devolução das importâncias descontadas do fardamento a partir de 1939, para os
que trabalhavam nesta data, e aos demais da data da admissão ao serviço, cujos descontos foram efetuados.
3º - Pagamento de Cr$ 200,00 anuais desde 1939, referente à gratificação aos
empregados da empresa, indistintamente, que nesta data eram funcionários da mesma, e aos demais a partir de cada ano da admissão.
4º - A gratificação de fim de ano, a partir de 1946, será estudada a fórmula entre as
partes interessadas (Sindicato e Empresa).
5º - Sobre o abono de Natal referente ao decreto-lei n. 8.421, os trabalhadores
aguardarão a decisão final do governo.
6º - Pagamento dos dias que estiveram parados.
7º - Desde que sejam aceitos os itens da proposta, ficará a empresa com a obrigação,
bem como o Sindicato, de darem por encerrado o litígio que se referem os itens 1º e 2º."
Essa proposta foi levada pessoalmente ao conhecimento do dr. H. T. Pilbeam, que não a
aceitou, sendo a decisão do gerente da City transmitida aos trabalhadores presentes à assembléia.
Sugeriu-se ainda a ida do sr. H. T. Pilbeam, de autoridades trabalhistas locais e do
presidente do sindicato dos empregados da City a São Paulo para um entendimento com as altas autoridades estaduais, entendimento que deveria
verificar-se na manhã de ontem. Essa viagem, entretanto, não se realizou.
E assim, negativamente, decorreram os trabalhos da assembléia de anteontem.
Como decorreu a assembléia de ontem - Ontem, às 14 horas, houve nova reunião,
na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos, verificando-se a presença de perto de mil grevistas.
Tomaram assento à mesa os srs. Angelo Zanini, delegado do
Ministério do Trabalho em São Paulo; Cristiano Solano, delegado regional do Trabalho em Santos; dr. J. Ney Serrão, presidente da Junta de
Conciliação e Julgamento; Felipe Folganes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos; prof. J. Taibo Cadorniga, da
União Geral dos Trabalhadores de Santos, e representantes da imprensa e das estações emissoras.
[...]
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Alguns bondes recomeçaram a circular na noite de ontem
Trafegaram cerca de 25 elétricos, conduzidos por bombeiros de S. Paulo, com
escolta da força policial - Hoje continuarão em circulação os veículos, em número de 50, nas linhas de maior percurso - Ocupadas militarmente as
dependências da Companhia City
Desde as 21 horas de ontem os bondes voltaram a trafegar na cidade de Santos. A
situação não foi ainda normalizada, mas, procurando auxiliar a população, as autoridades locais fizeram com que saíssem à rua alguns elétricos,
conduzidos por bombeiros de São Paulo, todos eles com alguma prática de dirigir esses veículos.
De acordo com o comunicado oficial do sr. prefeito municipal, que publicamos à parte,
nada tendo sido resolvido até ontem, resolveram as autoridades buscar uma solução para o grave problema.
Os bondes voltam à rua - Procedeu-se inicialmente à ocupação militar de todas
as dependências da Cia. City. Depois, garantidos por soltados da Força Policial, de armas embaladas, os bombeiros iniciaram o serviço. O primeiro
bonde saiu à rua por volta das 21 horas. Outros elétricos seguiram-se ao primeiro. Trafegaram ontem à noite cerca de 25 bondes, sendo dada
preferência às linhas de percurso mais longo, por serem de bairros mais afastados e mais populosos.
Grande alegria da população - O povo recebeu com grande entusiasmo os bondes
que apareceram. Os veículos logo ficaram repletos de passageiros, para todos os bairros. Guardas-civis, que auxiliavam também o serviço, faziam a
cobrança das passagens. Os populares manifestavam de todas as formas o seu contentamento pela volta do meio de transporte mais utilizado em nossa
cidade.
50 bondes circularão hoje - Hoje, segundo informações oficiais que nos foram
prestadas, trafegarão cerca de 50 bondes. Servirão os bairros mais afastados e entrarão em serviço às 6 horas, funcionando até as 23 horas.
Estão trabalhando nos bondes cerca de 100 bombeiros da capital.
O serviço está sob a supervisão geral do dr. Aguinaldo de Góis, diretor do Serviço de
Trânsito de São Paulo.
Os bombeiros continuarão dirigindo os bondes em Santos, até que se normalize a
situação.
Podem retornar ao trabalho - Declarou-nos o sr. prefeito municipal que os
motorneiros e condutores que quiserem retornar ao trabalho poderão fazê-lo, tendo todas as garantias da parte das autoridades.
O primeiro bonde que ontem circulou em Santos, conduzido por um bombeiro.
A guarda é feita por soldados da Força Policial
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À população santista
A Prefeitura Municipal de Santos torna público que, esgotados todos os recursos suasórios,
no sentido de pôr termo à greve declarada pelos empregados no tráfego urbano da The City of Santos Improvements Company Limited e ante a atitude de
intransigência dos grevistas, não obstante a boa vontade e a solicitude manifestada pelos Poderes Públicos, pelas autoridades trabalhistas, pelos
presidentes de Sindicatos e pela gerência da Cia. City, no sentido de solucionar satisfatoriamente e dentro de um espírito de ordem e de justiça a
pendência, são as autoridades competentes obrigadas a intervir, no propósito de assegurar à população santista o serviço de transporte em carris
urbanos, que por contrato com o município é a Cia. City obrigada a realizar.
Essas medidas, de caráter excepcional, visam tão somente defender os altos e
superiores interesses da população de Santos, de seu comércio e indústria, a fim de que o ritmo de trabalho e de ordem não continue a sofrer os
graves inconvenientes oriundos da imprevista suspensão do tráfego de bondes.
Santos, 31 de dezembro de 1945.
Francisco Paíno
Prefeito municipal
Com o bonde repleto de gente, o bombeiro faz a cobrança das passagens
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