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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE!
Bombeiros, no lugar dos motorneiros em greve

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O ano de 1945 terminou com os empregados da Cia. City em greve, e no último dia desse ano os bombeiros (soldados da Força Pública encarregados do combate a incêndios) foram chamados para assumir o lugar dos motorneiros dos bondes santistas, como registrou o jornal A Tribuna em sua edição de 1º de janeiro de 1946 (grafia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria

Continua sem solução a greve dos empregados da Cia. City

Em assembléia de anteontem os grevistas formularam uma proposta rejeitada pela gerência da empresa - Os trabalhos da reunião realizada na tarde de ontem também resultaram nulos - Os empregados da City não atenderam a insistentes apelos das autoridades trabalhistas

Faz hoje seis dias que perdura a greve dos empregados da Companhia City. Houve apelos, propostas e contrapropostas, porém o problema continua insolúvel, visto como os grevistas se mostram irredutíveis em suas reivindicações, parecendo que a situação persistirá por outros dias, com sérios prejuízos para a população, que há 120 horas não dispõe do seu principal meio de transporte.

Os grevistas não estão dispostos a renunciar às suas pretensões, mostrando-se intransigentes, enquanto as autoridades buscam uma fórmula que concilie os interesses de ambas as partes e assegure a solução do problema, que já se apresenta grave, muito grave.

A assembléia de anteontem - Anteontem, às 14 horas, a assembléia do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos, que funciona em caráter permanente, novamente se reuniu para apreciar a questão.

Foi uma assembléia muito concorrida. O sr. Felipe Folganes, presidente do sindicato da classe, expôs os entendimentos havidos nos Campos Elíseos com o interventor federal, quando o embaixador Macedo Soares insistiu em que os grevistas retornassem ao trabalho como base essencial para o estudo e solução do problema que determinou o movimento paredista.

Estando presente à assembléia o dr. J. Ney Serrão, presidente da Junta de Conciliação e Julgamento, analisou demoradamente a questão e apelou para os trabalhadores da City, no sentido de que reiniciassem as atividades, confiantes na ação das autoridades.

Houve vivos debates em torno do assunto, mostrando-se os grevistas irredutíveis em seus pontos de vista.

Afinal, a assembléia resolveu oferecer uma proposta à gerência da Cia. City consubstanciada nos seguintes termos:

"1º - Concessão grátis do fardamento, a partir do mês de janeiro de 1946.

2º - Devolução das importâncias descontadas do fardamento a partir de 1939, para os que trabalhavam nesta data, e aos demais da data da admissão ao serviço, cujos descontos foram efetuados.

3º - Pagamento de Cr$ 200,00 anuais desde 1939, referente à gratificação aos empregados da empresa, indistintamente, que nesta data eram funcionários da mesma, e aos demais a partir de cada ano da admissão.

4º - A gratificação de fim de ano, a partir de 1946, será estudada a fórmula entre as partes interessadas (Sindicato e Empresa).

5º - Sobre o abono de Natal referente ao decreto-lei n. 8.421, os trabalhadores aguardarão a decisão final do governo.

6º - Pagamento dos dias que estiveram parados.

7º - Desde que sejam aceitos os itens da proposta, ficará a empresa com a obrigação, bem como o Sindicato, de darem por encerrado o litígio que se referem os itens 1º e 2º."

Essa proposta foi levada pessoalmente ao conhecimento do dr. H. T. Pilbeam, que não a aceitou, sendo a decisão do gerente da City transmitida aos trabalhadores presentes à assembléia.

Sugeriu-se ainda a ida do sr. H. T. Pilbeam, de autoridades trabalhistas locais e do presidente do sindicato dos empregados da City a São Paulo para um entendimento com as altas autoridades estaduais, entendimento que deveria verificar-se na manhã de ontem. Essa viagem, entretanto, não se realizou.

E assim, negativamente, decorreram os trabalhos da assembléia de anteontem.

Como decorreu a assembléia de ontem - Ontem, às 14 horas, houve nova reunião, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos, verificando-se a presença de perto de mil grevistas.

Tomaram assento à mesa os srs. Angelo Zanini, delegado do Ministério do Trabalho em São Paulo; Cristiano Solano, delegado regional do Trabalho em Santos; dr. J. Ney Serrão, presidente da Junta de Conciliação e Julgamento; Felipe Folganes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Carris Urbanos; prof. J. Taibo Cadorniga, da União Geral dos Trabalhadores de Santos, e representantes da imprensa e das estações emissoras.

[...]


Imagem: reprodução parcial da matéria

Alguns bondes recomeçaram a circular na noite de ontem

Trafegaram cerca de 25 elétricos, conduzidos por bombeiros de S. Paulo, com escolta da força policial - Hoje continuarão em circulação os veículos, em número de 50, nas linhas de maior percurso - Ocupadas militarmente as dependências da Companhia City

Desde as 21 horas de ontem os bondes voltaram a trafegar na cidade de Santos. A situação não foi ainda normalizada, mas, procurando auxiliar a população, as autoridades locais fizeram com que saíssem à rua alguns elétricos, conduzidos por bombeiros de São Paulo, todos eles com alguma prática de dirigir esses veículos.

De acordo com o comunicado oficial do sr. prefeito municipal, que publicamos à parte, nada tendo sido resolvido até ontem, resolveram as autoridades buscar uma solução para o grave problema.

Os bondes voltam à rua - Procedeu-se inicialmente à ocupação militar de todas as dependências da Cia. City. Depois, garantidos por soltados da Força Policial, de armas embaladas, os bombeiros iniciaram o serviço. O primeiro bonde saiu à rua por volta das 21 horas. Outros elétricos seguiram-se ao primeiro. Trafegaram ontem à noite cerca de 25 bondes, sendo dada preferência às linhas de percurso mais longo, por serem de bairros mais afastados e mais populosos.

Grande alegria da população - O povo recebeu com grande entusiasmo os bondes que apareceram. Os veículos logo ficaram repletos de passageiros, para todos os bairros. Guardas-civis, que auxiliavam também o serviço, faziam a cobrança das passagens. Os populares manifestavam de todas as formas o seu contentamento pela volta do meio de transporte mais utilizado em nossa cidade.

50 bondes circularão hoje - Hoje, segundo informações oficiais que nos foram prestadas, trafegarão cerca de 50 bondes. Servirão os bairros mais afastados e entrarão em serviço às 6 horas, funcionando até as 23 horas.

Estão trabalhando nos bondes cerca de 100 bombeiros da capital.

O serviço está sob a supervisão geral do dr. Aguinaldo de Góis, diretor do Serviço de Trânsito de São Paulo.

Os bombeiros continuarão dirigindo os bondes em Santos, até que se normalize a situação.

Podem retornar ao trabalho - Declarou-nos o sr. prefeito municipal que os motorneiros e condutores que quiserem retornar ao trabalho poderão fazê-lo, tendo todas as garantias da parte das autoridades.


O primeiro bonde que ontem circulou em Santos, conduzido por um bombeiro.
A guarda é feita por soldados da Força Policial
Foto publicada com a matéria


À população santista

A Prefeitura Municipal de Santos torna público que, esgotados todos os recursos suasórios, no sentido de pôr termo à greve declarada pelos empregados no tráfego urbano da The City of Santos Improvements Company Limited e ante a atitude de intransigência dos grevistas, não obstante a boa vontade e a solicitude manifestada pelos Poderes Públicos, pelas autoridades trabalhistas, pelos presidentes de Sindicatos e pela gerência da Cia. City, no sentido de solucionar satisfatoriamente e dentro de um espírito de ordem e de justiça a pendência, são as autoridades competentes obrigadas a intervir, no propósito de assegurar à população santista o serviço de transporte em carris urbanos, que por contrato com o município é a Cia. City obrigada a realizar.

Essas medidas, de caráter excepcional, visam tão somente defender os altos e superiores interesses da população de Santos, de seu comércio e indústria, a fim de que o ritmo de trabalho e de ordem não continue a sofrer os graves inconvenientes oriundos da imprevista suspensão do tráfego de bondes.

Santos, 31 de dezembro de 1945.

Francisco Paíno
Prefeito municipal


Com o bonde repleto de gente, o bombeiro faz a cobrança das passagens
Foto publicada com a matéria

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Veja também:

Greve. E os bombeiros viraram motorneiros (em julho de 1953)