Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0144k.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/169/13 17:56:31
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PROCISSÕES - 11
Procissão de Santa Isabel (A)

Leva para a página anterior

Todos os anos, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos homenageia com procissão no dia 2 de julho a sua protetora, Santa Isabel, marcando ainda as comemorações da colocação (em 1835) da pedra fundamental do terceiro prédio e da inauguração (em 1945) do quarto e atual prédio-sede de seu hospital. Estas fotos são da procissão de 2/7/2008, a partir das 16h45, quando foi iniciada nas escadarias frontais do hospital, até culminar com missa na capela de Santa Isabel, existente em suas instalações - e foram enviadas a Novo Milênio em 12 de junho de 2013 pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa, com este texto:


Às 16h45, início da procissão, na escadaria frontal do prédio hospitalar

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 

Festa de Santa Isabel de Portugal

Dia 2 de julho

 

Francisco Carballa [*]

 

O dia de Santa Izabel de Portugal [01] festeja a padroeira, cofundadora e idealizadora da Santa Casa, sendo o Hospital de Santos o mais antigo das Américas fundado por Braz Cubas em 2 de julho de 1543 com o nome de Santa Casa da Misericórdia de Todos os Santos, emprestando seu nome à cidade que resultaria da Vila do Enguaguaçu. Por isso, houve durante muito tempo certa querela entre o bispo dom David e o hospital santista, pois o dia da Santa é 4 de julho.

 

Mas, pendengas de sacristia à parte, a festa ocorreu sempre, menos no ano em que faleceu o provedor justamente no horário da procissão [02].

Quando a Santa Casa estava na terceira sede, a da Avenida de São Francisco (de Paula), o andor de Santa Isabel pela manhã era levado pelos corredores do hospital e depois da capela de São Francisco de Paula saía pelas ruas próximas do local, segundo o que narra o senhor Clovis Benedito de Almeida (que frequentou o local com sua família e chegou a acompanhar a festividade). Conta ele que havia a procissão na parte da tarde, que saia da capela de São Francisco de Paula, descia as escadarias e dava a volta ao prédio da Cadeia Velha, retornando para a capela; em algumas ocasiões havia uma missa na frente daquela detenção santista, e ali o povo se aglomerava, sendo que - ao término da celebração eucarística - dentro do prédio, no pátio da cadeia, os presos soltavam o balão junino que era uma atração e tradição do local. Em alguns anos, era soltado mais de um balão.

Também era e é costume que muitas inaugurações sejam feitas nesse dia, igualmente o almoço servido para os funcionários é muito especial no seu cardápio, havendo certa discussão quanto ao consumo dessa deliciosa comida
[03].

 

Antes, os refletores da Base Aérea nesse dia ficavam cortando o céu durante a noite e assim eram vistos de pontos distantes de nossa cidade; recordo-me que no ano de 1967 pude ver os mesmos e depois constatei que era a festa da Santa. Hoje esse costume caiu em desuso.

Já faz muitos anos que os festejos começavam cerca de 19h00 com a tradicional saída pela escadaria de acesso onde está o busto de Braz Cubas, a imagem da Santa dali levada sempre por militares; a procissão se dirigia para a capela em um grande espetáculo de velas, mas a partir do início dos anos 1990 mudaram o horário para 16h30, tendo meia hora de percurso, explicando que muita gente poderia tropeçar de noite e assim ficaria melhor que fosse mais cedo,

 

Podemos ver ainda hoje saindo pela alameda em frente ao hospital no sentido praia, vai desfilando até a Avenida Doutor Cláudio Luis da Costa, virando na Avenida Francisco Manuel e finalmente se recolhendo na capela onde será celebrada a missa. Ali, depois da benção e distribuição das rosas que são sacramentais [04] para os devotos, ocorre uma farta distribuição de pedaços de um bolo cor de rosa e branco com o desenho da Santa, que é colocado em frente à porta da capela.

A procissão segue uma hierarquia de associações segundo sua fundação: Cruz processional abrindo o sacro cortejo,
[05] levada pela Pastoral da Saúde e logo atrás o estandarte, seguem-se as Voluntárias da Santa Casa com sua tradicional cor amarela nos uniformes, depois vêm as Rosinhas da Associação de Santa Isabel de Combate ao Câncer com seu uniforme cor-de-rosa, a Comissão de Controle de Qualidade da Santa Casa com seus uniformes brancos com verde, e finalmente o andor com o povo e os padres Camilianos. Todos vão cantando os hinos de procissão e rezando o terço, e quem quiser recebe velas para usar na procissão.

Antes a banda militar acompanhava o pequeno percurso, mas depois ocorreu uma perda dessa tradição musical ficando apenas uma apresentação até a hora da procissão e assim se alterna entre a apresentação da banda do 6º Batalhão de Polícia Militar, da Base Aérea ou da Banda Carlos Gomes
[06].

A imagem de Santa Isabel era de grande porte, até quando trouxeram de Portugal (do convento das Clarissas de Coimbra) uma típica imagem da iconografia portuguesa, sendo a de Santos uma iconografia caipira muito popular do Brasil. Essa imagem tem uma interessante história contada pela irmã Melita
[07], dizendo ela que a outra peça teria se danificado; sendo muito antiga, foi substituída por uma nova que os portugueses devotos foram buscar em São Paulo e a trouxeram no colo no carro que os transportou - descendo pela Serra do Mar com todas suas curvas; ao chegar a Santos, foi benzida e entronizada na Santa Casa.

Até bem pouco tempo, a imagem ainda era enfeitada com correntes, adornos e pingentes de prata e ouro
[08], durante a festa que teve a participação do Pastoreio de Fátima.

 

Quando a missa acabava, a Irmã Brígida fazia questão de colocar na vitrola o disco do antigo Coral da Santa Casa, do qual ela foi a dirigente [09].

 

Em Portugal, como recordava o senhor Mateus [10] que muitas vezes visitou o corpo incorrupto venerado na igreja das irmãs Clarissas de Coimbra - a Santa Rainha Isabel está exposta em uma urna com cristais, por onde o povo passa e a contempla, havendo até uma quadrinha para ela dedicada pelos estudantes da Universidade de Coimbra:
 

Quando a estudantada canta;
Canções sentimentais;
Dizem que a rainha Santa;
Vem ouvir junto aos vitrais.


HINO DE SANTA ISABEL DA SANTA CASA DE SANTOS


Em teu regaço gentil;
Santa Izabel protetora;
Dos hospitais do Brasil;
Guarda aprece imorredoura;
Que de nossos corações;
Entre sonhos e ilusões;
Se evola para o infinito;
Onde teu trono bendito;
Tem luz de constelações.

Mãe de amor e bondade;
A Santa Casa é teu templo;
Onde sempre a caridade;
Que nasceu do teu exemplo;
Será um círio a brilhar;
Como farol sobre o mar;
Como estrela matutina;
Que surgisse entre neblina;
Para o naufrago salvar.

 


Às 16h50, a procissão já na Avenida Dr. Cláudio Luiz da Costa, com a Pastoral da Saúde,

 vendo-se o cruciferário, os lucernários e o estandarte

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 

Notas:

[01] Embora seja conhecida como lusitana a Santa é espanhola, natural de Saragoça (nascida em 1271 e falecida em 1336). Ainda jovem, foi dada em casamento a dom Dinis de Portugal, sendo que sua sogra dona Leonor fundara o primeiro hospital da Misericórdia. Uma vez na responsabilidade de dona Izabel de Aragão, ela o estendeu a todo o reino, onde houvesse portugueses.

[02] Nesse dia 2 de julho, com a morte do "Carvalhinho" a procissão desfilou pelos corredores térreos do hospital até a capela, onde ocorreu a missa, sem toda a cerimônia usual.

[03] Essa discussão ocorre por parte dos funcionários protestantes quanto a consumir ou não a refeição servida no dia, que vai desde pernil assado com batatas até outros pratos mais caros, sendo que acusam a Santa idealizadora da instituição de ser uma entidade ou ídolo (palavra designada para uma divindade), o que não é apropriado para a serva de Deus. Sendo assim, essa acalorada discussão não ocorre com o salário recebido pela mesma instituição.

[04] Sacramental é um objeto, palma, flor ou água benta que transporta uma benção. No caso das rosas, elas são usadas pelos fiéis em forma de chá feito com suas pétalas.

[05] Mais alta que as cabeças humanas, nos recorda que Jesus veio antes de todos os cristãos.

[06] Segundo as beatas, o grande número de protestantes nessas instituições musicais seria a verdadeira causa do fim da participação dessas bandas nas procissões, a despeito das várias desculpas apresentadas.

[07] A irmã Melita é muito conhecida: com a irmã Brígida, foram contemporâneas da fundadora de sua Ordem a Santa Madre Paulina, havendo nos anos 1980, quando trabalhei no laboratório da Santa Casa, uma brincadeira de algumas enfermeiras que sem ela saber a chamavam de irmã coador, por causa da marca Melitta de coadores de café feitos de papel branco.

[08] Costume da Espanha e Portugal, mantido também no Brasil até recentemente.

[09] Ainda hoje ela trabalha na capela. atendendo nas enfermarias os doentes, contando-se que, quando ela foi responsável pela maternidade, se escutasse uma criança chorar, rapidamente corria para o local e chamava a atenção das enfermeiras. Ainda, no laboratório de Patologia Clinica, perguntava antes dos exames serem liberados, para os novos patologistas, que se o exame fosse da genitora eles o liberariam. Mostrou assim grande responsabilidade para com o próximo.

[10] Foi o provedor nos anos 80 da Irmandade de Nossa Senhora de Fátima da Catedral, sendo natural de Portugal. Contava que em certa ocasião uma mulher, fora de si, abraçou o corpo com força; ao tentarem tirá-la dali, ela se manteve abraçada, puxando o corpo para fora da urna, causando má impressão no povo presente. Por isso, as irmãs passaram a ter certa cautela com as visitas dos devotos.
 

[*] Francisco Carballa é professor e pesquisador em Santos.

 


O estandarte em homenagem a Santa Isabel

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 


O andor iluminado, com a imagem de Santa Isabel adornada com colares de ouro, transportado por soldados do Exército na procissão

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 


Bandeira da Associação de Voluntários da Santa Casa (Avosc), na procissão

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 


Bandeira da Associação Santa Isabel de Combate ao Câncer ("Rosinhas"), na procissão

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 


Bandeira da Comissão de Controle da Qualidade da Santa Casa da Misericórdia, na procissão

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

 


Após o grupo dos voluntários (em amarelo e branco), passam (de acordo com a ordem cronológica de criação desses grupos), as "rosinhas" do combate ao câncer

Foto enviada a Novo Milênio pelo professor de História e pesquisador Francisco Carballa

Leva para a página seguinte da série