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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
O balão dos presos

Tradição que vinha desde o século XIX, pelo menos, mas acabou por volta de 1960 com o crescente risco de incêndios e a campanha para que não mais se soltasse balões nas festas juninas, a ascensão do balão dos presos era um evento importante na Santos do início do século XX. Da mesma forma como, em outros tempos, era comum ver presos empinando pipa (papagaio) através das janelas gradeadas de suas celas, numa simbologia do desejo de liberdade dos cativos.

Nos primeiros anos do século XX, era comum a imprensa santista abrir espaço para subscrições públicas, tanto para causas de interesse coletivo como as destinadas a pessoas necessitadas de auxílio para se manter (uma espécie de mendicância via meios de comunicação, que desapareceria depois, para só ressurgir na Internet no final do século passado). Assim, diariamente, por um bom período, era publicado o pedido e o balanço dos valores arrecadados, como na edição de 29 de junho de 1919 do jornal santista A Tribuna (mantida a ortografia da época):


Canto da Praça dos Andradas, entre a Cadeia Velha e a atual Rodoviária, no início do século XX. Ao fundo, a antiga Santa Casa no Monte Serrat
Foto: Poliantéia Santista, de Fernando Martins Lichti, 3º vol., Gráfica Prodesan, Santos/SP, 1996

Em obediência a um antigo costume, os presos da cadeia local enviaram a esta redacção a seguinte carta:

"Presados srs. Com a devida licença do dr. Ibrahim Nobre, é que lançamos mão da penna para vir pedir a vv. ss. guarida no vosso conceituado jornal para uma pequena subscripção, afim de ser confeccionado o tradicional balão, denominado dos presos, o qual será solto em honra do corpo de redacção do denodado jornal que tendes a honra de dirigir.

Crentes de que vv. ss não se negarão a ajudar-nos em nossa pequena tarefa, subscrevemos. Cds. Atts. Obrgds.

Cadeia Publica, 22 de junhno de 1919 - Os presos".

Attendendo a essa justa solicitação, esta folha promptifica-se a acceitar qualquer importancia que lhe fôr enviada.

Quantia já publicada .................................195$000
Tres anonymos......................................... 15$000
Seraphina de Carvalho...............................   5$000
                                            TOTAL....... 215$000
- A subscripção para o balão dos presos será encerrada no próximo dia 30 do corrente.

O balão mede 12 metros de altura por 11,20 m de diametro e seu bojo tem 30,45 m; esse grande balão será elevado aos ares do páteo da Cadeia Publica no dia 2 de julho proximo, dia de Santa Izabel, às 20 horas, e ao redor do mesmo serão collocadas 95 lanternas de varias cores.

Por occasião da subida do balão serão queimados fogos de artifício.

A fórmula "Cds. Atts. Obrgds." (abreviação de "Cordiais, Atentos e Obrigados") era praxe na correspondência comercial da época, só caindo em desuso por volta de 1970. E a Cadeia Pública era então situada na Praça dos Andradas, prédio depois conhecido como Cadeia Velha. Lembre-se ainda que até a tragédia de 1928 a Santa Casa tinha seu hospital no sopé do Monte Serrate, junto ao local onde em 1954 foi inaugurado o túnel duplo Prefeito Rubens Ferreira Martins.

Em 3 de julho de 1919, o mesmo jornal A Tribuna registrava a subida do balão (ortografia atualizada, mas mantido o erro de concordância no parágrafo inicial):


A Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, no início do século XX
Foto de cartão postal da época

O balão monstro dos presos

Segundo tradicional uso, os presos da cadeia local, com a devida permissão do dr. Ibrahim Nobre, fez subir ontem o balão monstro, para cuja confecção foi aberta subscrição pelas colunas desta folha.

Para assistir à ascensão, que estava marcada para as 20 horas, grande multidão afluiu à Praça dos Andradas, imediações do hospital da Santa Casa de Misericórdia, concorrendo para que o tradicional festejo se revestisse de grande imponência.

O balão foi solto, cerca das 21 horas, mais ou menos, ouvindo-se, antes de ser dada a ordem de largar, o estourar forte de uma bomba.

Ao divisar o balão, que foi solto no pátio da cadeia, a enorme multidão que se apinhava na praça prorrompeu em vibrantes e ruidosos aplausos.

A colossal esfera de papel de seda, cujas dimensões eram absolutamente fora do comum, estava toda iluminada por pequenas lanternas a cores, apresentando um aspecto feérico.

Após a ascensão, o dr. Ibrahim Nobre ofereceu aos presos uma mesa de doces, proporcionando-lhes, assim, agradáveis momentos de comunicabilidade e alegria.

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