Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0102z18.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/12/05 09:20:32
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
Cargas, da cremalheira para a esteira (1)

Leva para a página anterior
Esta matéria foi publicada na edição de 12 de junho de 2005 do jornal O Estado de São Paulo, na seção Economia (pág. B5):
 


ENGRENAGENS - Terceiro trilho dentado ajuda a locomotiva
a subir e descer a cremalheira na Serra do Mar
Foto: Valeria Gonçalvez, em 29/10/2004, publicada com a matéria

INFRA-ESTRUTURA
Antiga ferrovia vai virar esteira

MRS vai instalar novo sistema no lugar de trilhos abandonados, ligando a Serra de Paranapiacaba a Cubatão

Agnaldo Brito

Sete grupos industriais disputam neste momento um dos projetos logísticos mais ousados do Brasil. Todos entregam até o próximo dia 20 os envelopes com as propostas técnicas e os valores de investimento para poder construir a maior correia transportadora do País - uma esteira que serpenteará por 18 quilômetros a Serra do Mar e por onde descerão até 10 milhões de toneladas de carga. Será construída, principalmente, para o escoamento do minério de ferro que chega de Minas Gerais e é carregado sobre trilhos numa descida cara e lenta. A infra-estrutura interligará o alto da Serra de Paranapiacaba à Cosipa, em Cubatão.

O negócio será bancado pela concessionária de ferrovia MRS Logística, controlada por grandes siderúrgicas como Usiminas, CSN, Gerdau e Vale do Rio Doce. O valor não foi informado, mas avaliações indicam em dezenas de milhões de dólares. A companhia afirma que deve escolher o fornecedor, no máximo, até setembro deste ano.

"A construção começa no início de 2006 e a operação da correia transportadora está prevista para início de 2008", diz José Roberto Lourenço, superintendente da MRS em São Paulo. A correia será construída sobre a velha funicular, uma antiga estrada de ferro que funcionou com sistema de cabo de aço (veja ilustração) e que interligou o alto da serra à Baixada Santista. A estrutura foi abandonada depois da construção da cremalheira, em 1976. Hoje, é esta que chegou ao limite.

Atualmente, 11 locomotivas se revezam na descida e na subida da Sérra do Mar. A ferrovia, peculiar em relação às demais (tem inclinação de 10 graus, a nova Rodovia dos Imigrantes tem 6), usa um sistema com um terceiro trilho dentado. As locomotivas, desenvolvidas especialmente para o sistema, seguram ladeira abaixo 500 toneladas de carga por viagem. No mês passado, bateram um recorde: transporte de 710 mil toneladas, 402 mil de minério, 51 mil de soja trazida do interior paulista. A previsão para o ano é de uma movimentação de 10 milhões de toneladas.

Os trens de minério com até 130 vagões vêm de Minas Gerais, passam pelo centro de São Paulo até chegar a Paranapiacaba. A partir daí, a composição começa a ser fatiada para vencer o desnível de 800 metros até o pé da serra. Uma operação demorada e custosa.

A situação deve mudar com a correia transportadora. A esteira que serpenteará a Serra do Mar liberará capacidade da cremalheira. "A correia libera pelo menos 5 milhões de toneladas de capacidade do sistema cremalheira. Na verdade, libera os 5 milhões para serem usados com cargas destinadas ao Porto de Santos, hoje um limite suprido pelo transporte rodoviário", diz Lourenço.

 

Projeto ampliará a capacidade em pelo menos 
5 milhões de toneladas para Santos

 

Ferroanel - Não é o único projeto de relevância para o sistema logístico em São Paulo. A MRS acha que há boas chances de conseguir viabilizar o Ferroanel Norte, que ligará a região de Campinas a Itaquaquecetuba. A linha teria 70 quilômetros de extensão e amenizaria um grande "gargalo" da companhia: a necessidade de todos os trens vindos do interior de São Paulo terem de cruzar a capital paulista.

A MRS detém a concessão da Santos-Jundiaí. No entanto, é obrigada a dividir com os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) o uso da linha. A operadora tem liberdade de passagem apenas da meia-noite às 4h. No restante do dia, tem autorização para cruzar a Santos-Jundiaí em alguns horários. É minério, carga geral, que disputa com os frenéticos trens de passageiros que correm em São Paulo a insuficiente infra-estrutura. "Essa situação é uma grande limitação para o crescimento do fluxo de carga. Em breve, terá de haver alguma solução para este problema", diz Julio Fontana, presidente da MRS.

O Ferroanel Norte é um dos projetos incluídos nas Parcerias Público Privadas (PPPs). As projeções de custo indicam que a obra precisará de R$ 750 milhões. Ela é importante para as pretensões da companhia, ajudando-a a ampliar a captação da chamada carga geral. A MRS, embora controlada por empresas ligadas à cadeia do aço, quer ao longo do tempo reduzir a dependência de receitas desse setor. Já foi maior. Era superior a 90% e neste ano beira os 60%. Hoje, a MRS já é a maior operadora ferroviária no transporte de contêineres, um tipo de carga rigorosa em prazos. Tem contratos com o setor automotivo e começa a avançar sobre o mercado das concorrentes. Acha que a Brasil Ferrovias, uma concorrente, tem olhos exclusivos para o Centro-Oeste, não para o interior paulista.

"Queremos chegar com mais força ao interior de São Paulo", diz Lourenço. A incursão começou. Ela fechou com a Coinbra e Caramuru um contrato para transportar de Pederneiras (SP) até Santos 500 mil toneladas de grão de soja e farelo para exportação.


O antigo sistema funicular, abandonado desde 1976, quando foi inaugurada a cremalheira, vai ser usado para a nova esteira transportadora. O mecanismo de roldanas e cabos de aço usava contrapesos para a subida e descida dos trens
Imagem: ArtEstado/Hugo Carnevalli, publicada com a matéria

Até 2009, MRS investe R$ 2,5 bilhões

A MRS Logística - responsável por uma concessão de 1,7 mil quilômetros de ferrovia (que passa por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro), projeta investimentos de R$ 2,5 bilhões até 2009. Segundo Julio Fontana, presidente da MRS, até 2009 a meta da companhia é transportar 170 milhões de toneladas por ano. Neste ano, o objetivo é o de alcançar as 110 milhões de toneladas, crescimento de 12% sobre o volume de 2004. Em maio, a empresa bateu um
recorde - no total, transportou 9,3 milhões de toneladas.

São volumes que incluem minério de ferro, produtos siderúrgicos, contêineres, celulose, autopeças, madeira, fertilizante, soja, álcool e produtos químicos. "Sinto que o Brasil está redescobrindo a ferrovia", diz Fontana.

A estrutura de transporte inclui 11.698 vagões e 399 locomotivas. Outros 716 vagões foram comprados e serão entregues este ano, além de 32 locomotivas. [A.B.]


A transposição do desnível de 800 metros da Serra do Mar: como é e como ficará
Imagem: publicada com a matéria

Leva para a página seguinte da série