A Fepasa sai do desvio com trens no 3º trilho
1 - O grande corredor ferroviário de exportação Araguari-Santos será totalmente
eletrificado pela Fepasa nos próximos dois anos e está com recursos garantidos do BNDES para as obras, que incluem remodelação de trechos, aplicação
do 3º trilho para trens simultâneos de bitola métrica e de 1,6 metro, duplicação das linhas e sinalização eletrônica, operada à distância num
comando único centralizado;
2 - Será totalmente reaproveitado o trecho da Serra do Mar da ex-Sorocabana,
que engenheiros brasileiros de grande visão projetaram e construíram com arrojada técnica na década de 30. Os 125 quilômetros de linha férrea entre
Mairinque, região de Sorocaba, e o porto, terão o 3º trilho para duas bitolas, além de tração elétrica nas locomotivas, sem
necessidade de grandes obras. Pontes, viadutos e túneis estão prontos há mais de 50 anos, na expectativa dos trens da extinta Paulista, que devem
alcançar a Baixada no final de 1986;
3 - Comissão mista da Rede Ferroviária Federal e da
Fepasa estuda o tráfego simultâneo de trens com duas bitolas no trecho Cubatão-Santos, que será eletrificado. Com isso, a Fepasa conquistará acesso
ao porto também pela Alemoa, reduzindo substancialmente os trens de carga que cortam o perímetro urbano da Cidade, causando congestionamentos do
trânsito.
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Com a aplicação do 3º trilho na bitola métrica,
o transporte de cargas na Fepasa ganhará novas dimensões
Foto: Juan Esteves
Áureo de Carvalho
O transporte ferroviário no Estado está saindo do desvio
com o reinício, sexta-feira, dos trabalhos do Plano de Eletrificação da Fepasa, que abrangerá um total de 1.692 quilômetros de linhas e
proporcionará significativa redução nos custos operacionais da ferrovia.
A reativação dos serviços foi possível com a assinatura de um contrato de
financiamento entre a Fepasa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de 55 milhões de dólares. O empreendimento
reveste-se de grande importância também para a indústria ferroviária, que há dois anos e meio aguardava a retomada desse contrato para entregar as
encomendas de matérias feitas em 1983.
Dessa forma, serão reativados os canteiros de obras de montagem da rede elétrica aérea
e das subestações em diversos pontos da malha da Fepasa, bem como os projetos de sinalização e telecomunicações para o trecho Ribeirão Preto-Santos,
via Campinas. Na Europa, o contrato Fepasa-BNDES deu sinal verde para o embarque dos equipamentos e materiais fabricados sob encomenda, entre os
quais duas locomotivas, que deverão chegar em fevereiro ao Porto de Santos.
O empreendimento, objeto de outros contratos, é no valor total de 550 milhões de
dólares e envolve, além da eletrificação dos 550 quilômetros iniciais de Ribeirão Preto até Santos, também a instalação do sistema eletrônico de
sinalização e telecomunicações, para tornar as operações dos trens mais seguras e mais rápidas. Prevê, ainda, o reforço no sistema já eletrificado
da ferrovia estadual, em cerca de 1.142 quilômetros, através da modernização da rede energizada e subestações, inclusive com a implantação de
algumas unidades novas.
Serão adquiridas 80 novas locomotivas elétricas, sendo 70 de bitola métrica e 10 de
bitola de 1,6 m, o que permitirá à Fepasa ampliar de 42 para 76% a participação da tração elétrica em suas operações, garantindo uma redução da
ordem de 50 milhões de litros de óleo diesel, consumidos por um ano em suas operações.
Duas bitolas - A Fepasa, que absorveu entre outras a antiga Companhia Paulista
de Estradas de Ferro, dispõe de dois grandes troncos com bitola de 1,6 m que vão até Santa Fé do Sul e Panorama, junto às fronteiras de São Paulo
com Mato Grosso do Sul. Os dois troncos se fundem em Itirapina e chegam a Campinas, onde, por razões técnicas, a Fepasa se vê obrigada a entregar os
trens (e os fretes) à Rede Ferroviária Federal para alcançar o porto e a Baixada.
As razões técnicas: só a Rede Ferroviária Federal dispõe de bitola de 1,6 m entre
Campinas e Santos, um monopólio herdado da extinta SPR, encampada pela União em 1945. Mas essa situação vai mudar, segundo a Fepasa, com a
implantação do 3º trilho na ligação Campinas-Mairinque-Santos, que dispõe somente da bitola métrica: o 3º trilho, correndo ao longo da bitola de 1
metro, permitirá o trânsito simultâneo das duas bitolas, empregando os mesmos vagões e locomotivas.
"Parece um ovo-de-Colombo", explica o diretor de Transportes da Fepasa, João Roberto
Zaniboni, "mas não é. Há um pequeno vagão de adaptação, que a locomotiva de bitola de 1,6 m pode transportar e que lhe permite operar também com a
bitola métrica. Sem truques e nem é novidade, mas só agora está sendo introduzido, como solução racional e lógica".
O 3º trilho de Campinas a Santos, via Mairinque, beneficiará também o trecho
Campinas-São Paulo-Santos da Rede Ferroviária Federal, livrando a região metropolitana da Capital da incômoda presença dos trens de carga, cujas
linhas encontram-se permanentemente congestionadas pelas composições de subúrbio.
Por extensão, será substancialmente reduzido o número de trens de carga de
Paranapiacaba a Cubatão, onde a tração da cremalheira está chegando à saturação pelo minério transportado para a Cosipa.
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Vagões carregados para o porto, uma rotina na linha de Mairinque
Foto: Juan Esteves
Trilho adicional exigiu nova ferrovia. Ou quase
A Fepasa entregará ao tráfego no próximo dia 16 mais um trecho, agora de 33
quilômetros, da nova linha entre Botuxim e Guaianã, construídos no Município de Mairinque, no Planalto. É o segundo a entrar em operação na variante
Helvética-Guaianã (os primeiros 10 quilômetros foram liberados em agosto do ano passado) e integra o Plano de Modernização da Ligação Ferroviária
Campinas-Santos, que a Estrada de Ferro do Estado desenvolve, para aumentar a capacidade e a confiabilidade do tráfego de cargas do corredor de
exportação.
O novo trecho substituirá o ponto mais crítico da centenária Estrada de Ferro Ituana,
construída na última década do Século XIX, e que aos poucos vai sendo substituída pela variante Helvética-Guaianã. Localizada em região montanhosa e
apresentando curvas e rampas acentuadas, as condições geométricas da linha antiga limitam a capacidade de transporte nesse corredor, responsável por
cerca de 40% do volume de cargas movimentadas pelos trens da Fepasa.
Com a liberação do trecho Botuxim-Guaianã, haverá benefícios imediatos para o
transporte de cargas, no que se refere à economia de combustível, prevendo-se a redução do consumo de óleo diesel em uma média diária de 3.600
litros. O benefício da segurança virá na eliminação de inúmeras passagens de nível. Some-se a isso a redução do tempo de percurso, de uma hora no
sentido Campinas-Mairinque-Santos, e o custo de manutenção da via permanente e material rodante.
Nas condições operacionais o melhoramento do novo trecho está ligado ao aumento da
capacidade de tração por trem, que é de duas mil toneladas, rebocadas por três locomotivas, passando para três mil toneladas transacionadas por duas
locomotivas.
Além disso, a eletrificação de 17 dos 33 quilômetros do trecho, a partir do pátio da
Estação de Engenheiro Acrísio Paes Cruz, permitirá o acesso direto dos trens de bitola estreita do corredor de exportação à linha que liga São Paulo
a Presidente Epitácio (antigo tronco da Estrada de Ferro Sorocabana), eletrificada em 1950. A substituição da tração diesel para elétrica será feita
no próprio pátio de Engenheiro Acrísio.
As características - O trecho de 33 quilômetros entre Botuxim e Guaianã liga a
antiga Estação de Botuxim, da extinta Estrada de Ferro Ituana, ao ramal Mairinque-Santos. Em Pantojo, nas proximidades da Estação de Mairinque, a
variante cruza a linha da ex-Sorocabana em forma de viaduto, e tem ligação com essa linha, tanto no sentido Presidente Epitácio-São Paulo como no
inverso, através de duas alças.
A variante cruza também a Rodovia Castelo Branco, em forma de túnel, e a Rodovia
Raposo Tavares, através de viaduto. Conta ainda com cinco viadutos, três dos quais sobre o Ribeirão Mato Dentro, o Córrego Santa Rita e o Córrego do
Lago, e os demais para evitar aterros de meia encosta, que poderiam causar problemas futuros de estabilidade da plataforma. Possui ainda 26
passagens superiores e inferiores, construídas para eliminar passagens de nível, além de três estações com os respectivos pátios de manobras,
somando mais de 12 quilômetros de via destinada à troca de tração e cruzamentos de trens.
Além de substituir o percurso de piores condições técnicas da antiga Ituana, cheio de
curvas fechadas e rampas íngremes, a variante de 33 quilômetros descongestionará o pátio de Mairinque - que recebe por dia, em média, um trem de
carga de meia em meia hora -, sem prejuízo da circulação dos trens de passageiros e dos inúmeros subúrbios.
Sob o ponto de vista de segurança, haverá significativa redução nos índices de
acidentes registrados na antiga linha, principalmente descarrilamentos e ruptura dos engates, contribuindo para isso a eliminação de 101 curvas das
124 existentes no trecho, onde a velocidade passará dos 10 quilômetros por hora atuais para 60 quilômetros por hora no dia 16.
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Construído há 50 anos, trecho da Serra do Mar tem mais de 30 túneis
Foto: Juan Esteves
A região do cerrado, mais perto do porto, via corredor
O corredor de exportação da Fepasa tem a projeção de unir Araguari, no Sul de Minas,
ao Porto de Santos. Araguari fica junto de Uberlândia e Uberaba, no chamado Triângulo Mineiro, onde se concentram os maiores silos de grãos do
Brasil, produzidos ali mesmo, na região do Cerrado que, a médio prazo, se transformará no maior centro produtor agrícola da Nação, segundo o
Ministério da Agricultura.
Na expectativa da produção do Cerrado, a Fepasa vê a necessidade de adequação dos seus
trilhos, uma solução macro para o equacionamento do transporte ferroviário de cargas no Estado.
Mais do que a simples eliminação de um ponto de estrangulamento do trânsito de trens,
o plano de modernização da estrada de ferro paulista, que começou em 1982, objetiva também a substituição da bitola singela de um metro pela bitola
mista, que dá novas dimensões à ferrovia estadual, permitindo uma ampliação da competitividade com o seu mais direto rival, o caminhão. As obras
estão a cargo da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), e já receberam até agora recursos da ordem de US$ 121 milhões (cerca de Cr$ 242
bilhões).
O empreendimento, o maior no gênero em andamento no Brasil, foi concebido a partir de
minuciosos estudos de viabilidade, que mostram a necessidade de se introduzir nas linhas da Fepasa os melhoramentos necessários ao crescimento da
demanda de carga registrada nos últimos anos.
Parte da ligação ferroviária do Distrito Federal com o Porto de Santos e o Sul do
País, o corredor de exportação tem cerca de 900 metros sob a jurisdição da Fepasa (Araguari-Santos), dos quais grande parte já sofreu retificações
ao longo dos últimos anos.
Os trens da Fepasa, na grande maioria das linhas, ainda empregam o
obsoleto sistema de staf, que consiste num bastão que o chefe da estação entrega ao maquinista do trem. O bastão significa que o trem está
com a linha desimpedida à frente, até a estação seguinte, mas quando o bastão retorna às mãos da chefia da estação, o significado do staf é
diferente: o trem autorizado pára, dando vez para outro trem na linha única.
Tudo isso vai mudar, segundo o diretor de Transportes da Fepasa, João Roberto Zaniboni,
nos próximos dois anos. O staf será substituído por modernos semáforos, acionados eletronicamente à distância, e o equipamento também mudará
as chaves dos desvios e linha, sem nenhum serviço manual.
"Vamos instalar o CTC, ou Controle de Tráfego Centralizado", disse ele,
"compatibilizando todos os sistemas e subsistemas em uso, tirando um atraso de pelo menos 30 anos em relação às modernas ferrovias. Isso dará mais
mobilidade à Fepasa, aumentando a velocidade dos trens, que antigamente, para serem velozes, exigiam linhas duplas, de difícil conservação e de
construção proibitiva pelos altos custos. Com o CTC, em lugar da linha dupla e das múltiplas cabinas de operação, basta um conjunto de fios e luzes,
além de um operador atento, que vê no painel onde se encontra o trem, sabe a sua velocidade e pode detê-lo a qualquer momento, em poucos segundos.
Tudo isso a 100, 150 ou 200 quilômetros de distância. Com toda a segurança possível e imaginável, sem sair da cabina de comando".
Amanhã: os trens da Fepasa descendo a serra sem a
complexa e limitada cremalheira. A Cidade pode se livrar das manobras da Sorocabana, que cortam o trânsito das grandes avenidas. |