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Velhos flashes no reino do café - 67
Francisco De Marchi
Historiador
A Via Anchieta veio socorrer velha estrada, até então a
única substituidora dos perigosos caminhos do mar. Que era estreitíssima, semeada de curvas fechadas e de aclive de meter medo; os autos que
dela se serviam, incluídos os famosos Ford de bigodes, com freqüência paravam em meio do trajeto e nos raros acostamentos. Fervendo como
chaleiras!... Carros cujos motores eram resfriados a água e lhes entupiam os radiadores; não obstante, os motores superaqueciam-se, no ingente
esforço de galgar ladeiras vertiginosas.
A Anchieta foi inaugurada em 22 de abril de 1947 pelo governador do Estado, Adhemar de
Barros. Com pistas de sete metros de largura, curvas com raio máximo de 100 metros na Serra e 400 no Planalto. Rampa máxima de subida de 6% e de 7%
para descida. Constituía-se estrada-modelo, das mais belas do mundo, orgulho para nós. Estrangeiros maravilhavam-se com seus cenários; e mais
argentinos e uruguaios, acostumados a percorrer estradas intermináveis em seus países, monótonas, provocadoras de sono, deitadas em planícies áridas
sem fim!
Veja-se a espetacular vista parcial deste meio de comunicação - a Via Anchieta -
apanhada em 1965, que não deixava prever, para tempos muito próximos, a sua quase superação quanto ao volume de tráfego suportável. Tivemos, depois
de sua inauguração, o acréscimo de novas rotas de comunicação: a Mairinque-Santos (ferrovia), e a Rodovia dos Imigrantes, ousada, ultramoderna. E,
apesar de tudo, há que pensar-se em novos caminhos auxiliares.
No fim do século passado (N.E.: século XIX),
com menor movimentação, já se cogitava da construção de ferrovia, a somar à São Paulo Railway; sob a responsabilidade da Mogiana, seria construída
do lado de lá do estuário, na área da Juréia, se estamos certos. Foi até estabelecido canteiro de obras e feitos cortes, em morretes. Depois, tudo
foi paralisado; a Mogiana assustou-se com a sua ferrovia de simples aderência; os custos de construção dessa via e sua manutenção, ante problemática
movimentação de carga apreciável, induziram-na a desistir do empreendimento.
A ligação dos transportes Santos-São Paulo e vice-versa nunca será motivo de
atribulações se, desde já, passarmos a prever demandas em tempos mais próximos. Há algumas décadas sugeriu-se até o transporte complementar de
pessoas e pequenas cargas, através de composições deslocáveis em trilhos suspensos, fixados em sólidos e gigantescos pilares. O vagão dianteiro,
dotado de motor a hélice, tracionaria os demais. O sistema não exigiria grande faixa de terreno e, livre de obstáculos, as viagens Santos-São Paulo
e no sentido inverso se realizariam em 20 ou menos minutos.
Houve um cidadão nesta cidade, ferroviário, que apresentou projeto e plantas
pormenorizadas nesse sentido. Assunto por mim reportado em A Tribuna, na época. Uma companhia italiana, industrial, também se prontificou a
responder pelo empreendimento, utilizando técnica própria. Tudo, como acontece com os perfumes, se dissipou no ar...
Velhas idéias que poderão ressurgir, em qualquer momento, como soluções inéditas para
moderno e cruciante problema! |