Página 1 da edição de 17/2/1867 do jornal Correio Paulistano
Detalhe da página 1 da edição de 17/2/1867 do jornal Correio Paulistano
S. Paulo, 17 de fevereiro de 1867 - Está recebida pelo governo a estrada de ferro de Santos a Jundiaí.
Foi recebida condicionalmente, como sabe o público, isto é, com a cláusula de completar a companhia, dentro de certo prazo, os trabalhos ainda não concluídos.
O recebimento da estrada e sua abertura regular ao trânsito público não devia ser por mais tempo retardada.
Por um lado, porque o recebimento condicional, como foi feito, é perfeitamente razoável, e de nenhum modo pode ser taxado de menos refletido por parte do governo, atento o estado da
estrada, e ainda mais a cláusula do recebimento. Por outro lado, porque a abertura da estrada mais e mais tornava-se uma necessidade pública, sendo tal fato considerado, por todos, como o remédio único ao removimento dos obstáculos imensos com que
há muito luta o comércio e a agricultura no tendente à exportação de produtos e importação de mercadorias.
Já por várias vezes temos feito sentir a nossos leitores a importante e esperançosa revolução industrial, agrícola e comercial que a estrada de ferro entregue ao trânsito público tende
a produzir na zona da província que fica sujeita à sua influência.
Há de ser uma revolução benéfica e fecunda.
Encurtando as distâncias, tornando possível a economia e cabal aproveitamento do tempo, facilitando as comunicações de todo gênero, a estrada de ferro há de em pouco tempo reanimar,
senão criar e fecundar, os elementos de riqueza que no interior a província jazem inexplorados e como se não existissem.
Pode-se dizer que o espaço que medeia entre os terrenos ubérrimos do interior e o porto de Santos conta atualmente 80 milhas a menos.
É uma diminuição importante, e para muitos pontos circunstância suficiente para tornar lucrativa e vantajosa a grande cultura, até hoje impossível - porque o preço do transporte
absorvia o valor do produto.
Ao passo que a estrada de ferro há de dar vida e desenvolvimento aos grandes ramos da agricultura e comércio, deve por outro lado matar certas indústrias pequeninas, que vegetavam à
sombra do regime que vai morrer.
Muitos braços e muitos capitais empregados na condução e custeio das tropas que transitam entre Jundiaí e Santos; todo o capital e trabalho aplicado em pousos, pastagens e armazéns
espalhados pelas estradas, e mil outras pequeninas indústrias desaparecerão completamente.
Mas cumpre notar; esta perturbação aparente ainda é uma vantagem geral e importante: o retraimento dos braços e capitais empregados até hoje em tais indústrias não significa morte,
significa simplesmente deslocação de um terreno pequenino para um outro maior e mais fecundo.
Estes braços e capitais, inutilizados pela estrada de ferro, hão de ir forçosamente engrossar as forças produtivas da grande agricultura, e por esse modo utilizarem-se melhor e com mais
proveito quer para os particulares, quer para o interesse geral da agricultura.
O que convém é que todos compenetrem-se destes fatos, e resolvam-se a acompanhar a corrente de tais modificações, abandonando a pretensão de lutar esterilmente em favor da velha rotina.
A estrada de ferro aberta ao trânsito é um novo problema a ser estudado não só pelos habitantes de Santos, S. Paulo e Jundiaí, mas pelos de outras localidades do interior da província,
quer na linha de Campinas, quer na de Bragança, Atibaia, Nazareth etc., quer na de Itu e Sorocaba.
Nestas rápidas linhas que dirigimos ao público, simplesmente no propósito de chamar a atenção pública para o importantíssimo fato da abertura da estrada de ferro, vão rápidas e apenas
indicadas considerações dignas de estudo e reflexão.
Mais de espaço ocupar-nos-emos delas, visto que é incontestável o proveito de seu completo desenvolvimento aos olhos do público.
Por hoje, paramos aqui, felicitando cordialmente a província pela realização da grande obra que há muito é o alvo de todos os desejos e de todas as esperanças.
Página 3 da edição de 17/2/1867 do jornal Diário de S. Paulo
Detalhe da página 3 da edição de 17/2/1867 do jornal Diário de S. Paulo
GAZETILHA
Estrada de ferro - Está definitivamente aberta ao trânsito público a estrada de ferro; ainda bem, pois era uma necessidade para a lavoura e comércio da província.
O presidente, e um grande número de pessoas, foram até Santos no dia 15, sexta-feira, em um trem especial, que saiu da estação da Luz às 8 horas e um quarto, e chegou à primeira estação
à 1 hora da tarde.
A viagem foi demorada em consequência de muitas paradas com o fim de examinar o presidente o estado das pontes da estrada.
Não somos entendidos na matéria, porém dizendo que a estrada agradou a todas as pessoas que percorreram-na nesse dia, traduzimos a opinião geral.
O presidente da província e seu séquito ficarão em Santos, porém a maior parte das pessoas, que eram seguramente em número de 150, regressaram no mesmo dia, chegando a S. Paulo às 9
horas da noite. |