Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b79.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/24/10 14:49:15
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [29]
Nova Cintra

Leva para a página anterior da série

Publicado em 28/6/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


Novos tempos: paisagem junto à Lagoa da Saudade começa a mudar

EXPANSÃO MUDA HÁBITOS NA BUCÓLICA NOVA CINTRA - Por décadas, uma típica cidade do interior no alto do morro. Mas esta realidade está mudando. É a Nova Cintra, que já incorpora hábitos da parte plana de Santos. Assim, a tranqüilidade se esquiva e o silêncio é cada vez menos presente no cotidiano deste pedaço da Cidade. Para os habitantes, porém, morar no bairro ainda é privilégio

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 28/6/2010, com foto de Carlos Nogueira

Cidade Alta já sente os reflexos da expansão

Trânsito quebra o característico sossego

Da Redação

A tranqüilidade vai se esquivando no Morro Nova Cintra. O silêncio é cada vez menos presente no cotidiano deste pedaço de Santos que, até anos atrás, parecia alheio ao dinamismo urbano da cidade plana. Há indícios de que o lugar começa a ganhar o ritmo acelerado em que se vive lá embaixo.

Para os habitantes, é inegável que morar no bairro ainda é privilégio. Além do ar mais puro e dos cenários bucólicos, tem a melhor infra-estrutura e o terreno menos acidentado entre os morros santistas. Mas o tráfego cada vez mais intenso e o aumento iminente da população ameaçam a qualidade de vida na Cidade Alta em um futuro próximo.

Na falta de um túnel, a Nova Cintra é o acesso mais curto entre as zonas Leste e Noroeste. Mas a expansão econômica e o crescimento da frota de veículos têm causado transtornos, principalmente em horários de pico. "Está muito ruim. Tem motorista que passa como louco por aqui", reclamou Carlos Roberto Vasques, aposentado de 60 anos, 51 dos quais morando no Nova Cintra.

Ele tem uma banca na Praça Guadalajara, na esquina com a Avenida Santista, um dos pontos de passagem para quem vem do Jabaquara rumo à Zona Noroeste. Lá, pelo barulho dos motores, conversar em voz baixa é impossível. Carlos é de uma época em que tinha de descer o morro a pé para trabalhar. "Comecei como funcionário da Cosipa nos anos 70. Eu ia andando até a Estação Santos-Jundiaí (Valongo) para pegar o trem. Pra voltar, subia a pé também".

Hoje, o local é servido por quatro linhas municipais de ônibus e lotações para o Centro. O transporte público, portanto, levou uma solução a pessoas como Carlos. Já o transporte individual se encarrega de causar problemas.

"Os motoristas sobem o morro para fugir do congestionamento do Centro. Aí, congestiona aqui em cima", afirmou Adelaide Pereira, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Nova Cintra, que nasceu no bairro.


Av. Santista e Rua Torquato Dias ficam diariamente congestionadas

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Crescimento populacional - O trânsito também sofre o impacto da expansão demográfica no morro. Nos anos 90, a população girava em torno dos 3.600 moradores. O censo do IBGE de 2000 apontou uma população de 4.171 habitantes. O número está defasado: nos últimos cinco anos, dois conjuntos habitacionais levaram mais centenas de moradores para o Nova Cintra.

Um deles, inaugurado em 2005, fica na Rua Torquato Dias e tem 160 apartamentos com aproximadamente 600 habitantes. Já o Cruzeiro do Sul 2, entregue neste ano, abriga mais 160 famílias vítimas do incêndio da Vila Alemoa de 2008. Resultado: outras cerca de 600 pessoas passaram a viver no morro neste ano.

Até 2011, um polêmico empreendimento que mudou a paisagem na região da Lagoa da Saudade deve aumentar a população do Nova Cintra em mais 1.600 habitantes. O Engenho Nova Cintra, da Construtora Tenda, terá quatro torres com 14 andares cada, nos quais estão distribuídos 405 apartamentos. O empreendimento começou a ser erguido em 2008. Três dos prédios já estão construídos e todas as unidades foram vendidas.

A edificação foi alvo de protestos dos moradores em 2008. Eles temiam prejuízo à área de preservação da lagoa e ao sistema viário. O prédio deve impactar o trânsito na Avenida Antônio Manoel de Carvalho, via de acesso à Zona Leste. A CET, no entanto, afirma que uma das exigências para a aprovação do projeto na Prefeitura foi o alargamento da pista da avenida com a implantação de um recuo para veículos na entrada do condomínio. A alteração já foi realizada.

O morro tem outros terrenos à venda. Um deles, com quatro mil metros quadrados, fica na Rua Manoel Pereira e custa R$ 1,2 milhão.

Mas, por enquanto, nenhum projeto de edificação no Nova Cintra está sob análise da Secretaria de Infra-estrutura e Edificações, órgão responsável pela aprovação de empreendimentos.

Tráfego

"O movimento de carros aqui é intenso e aumentou muito nos últimos anos. Às 10 horas, o trânsito para"

Valmir José Santos, de 52 anos, morador e comerciante da Rua Torquato Dias

"Não tem mais hora: o trânsito é carregado o dia todo"

Carlos Roberto Vasques, de 60 anos, dono de uma banca na Praça Guadalajara


Prédios mudaram paisagem da lagoa e devem trazer 1.600 moradores

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Moradores querem comércio maior

A expansão demográfica experimentada pelo morro traz também a necessidade de maior oferta e diversificação do comércio. "A população está aumentando por causa dos prédios e ainda não temos supermercados, açougues ou padarias maiores. O comércio ainda é de bairro", destacou Adelaide Pereira, presidente da Sociedade de Melhoramentos.

"Aqui tem quase tudo. Mas sentimos falta de um supermercado porque, para fazer compras maiores, o jeito é descer", resumiu o comerciante Valmir José Santos, de 52 anos.

Nascido no local, ele acompanhou a urbanização do morro, a partir dos anos 70, e lembra dos extensos terrenos baldios, hoje ocupados por casas, onde costumava jogar futebol quando criança. Apesar das mudanças, as características de uma cidade do interior ainda prevalecem, ressaltou ele. "O ar é mais puro e o convívio é familiar. Aqui, muita gente se conhece".

Mãe de Valmir, a dona de casa Maria de Lourdes Santos, de 74 anos, é outra moradora que ali nasceu e dali nunca se mudou. No morro da Lagoa da Saudade, da Paróquia São João Batista, da tradicional festa junina e do Seminário São José, Maria de Lourdes viveu tempos de infra-estrutura precária.

"Isso aqui era só mato e lama", descreveu ela, sobre a região da Rua Torquato Dias, onde morava em um chalé. "Não tinha condução e o comércio era muito fraco. A gente descia pra fazer compras e trazia tudo na mão". O terreno do chalé deu lugar a três casas onde foram criados os três filhos e dois dos oito netos.

Apesar de satisfeita, ela faz uma ressalva: "O único posto de saúde é a policlínica (na Avenida Santista) e fica longe. Se a gente precisa de hospital, tem que ir pra Santa Casa ou pro da Zona Noroeste".

Da favela para o morro - O fogo consumiu o barraco de José Reginaldo da Silva em 2006. Depois de mais de três anos vivendo no alojamento da Prefeitura, porém, ele e as demais vítimas do incêndio da Vila Alemoa ganharam nova moradia há dois meses, no Morro Nova Cintra.

Instalado em um apartamento térreo do Conjunto Cruzeiro do Sul 2, o novo habitante do bairro está feliz com a mudança. "O ar é muito melhor. Tem ônibus na porta de casa. Isso sem falar na tranqüilidade".


Lourdes vive no bairro desde que nasceu, há 74 anos:

"Apesar das mudanças, morar aqui ainda é bom"

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Empreendimento polêmico

Moradores do Morro Nova Cintra iniciaram em 2008 um movimento contra a construção do empreendimento Engenho Nova Cintra, na Avenida Antônio Manoel de Carvalho, via de mão dupla, com duas faixas, de acesso à Zona Leste.

Organizado pela artista plástica Ingrid Fernandes Zamboni, moradora do Parque da Montanha (área nobre do morro), o SOS Lagoa coletou nove mil assinaturas contra a edificação, localizada em frente ao terreno da Lagoa da Saudade.

Temia-se prejuízo ao solo da área preservada da lagoa e impactos que a infra-estrutura urbana disponível não poderia suportar, segundo o movimento. O caso foi levado ao Ministério Público, mas o projeto passou por diversos órgãos, incluindo Sabesp, CPFL e CET, e foi aprovado pela Prefeitura. Exigiu-se uma mudança viária em frente à entrada do empreendimento, para minimizar os efeitos da demanda de veículos trazida pelo prédio, sobre o tráfego local.

"Pedíamos justamente um estudo mais apurado da Prefeitura, examinando as mazelas que teremos aqui. Essa avenida já é um local de passagem sem ter condições para isso. Como vai ficar com esse monte de novos carros?" Como 75% do empreendimento já está erguido e todas as unidades foram vendidas, Ingrid desativou o site do SOS Lagoa.


Ingrid Fernandes Zamboni

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Ocupação começou no séc. 16

A ocupação do Morro Nova Cintra teve início em meados do século 16. A área começou a ser usada para plantação de cana-de-açúcar. O produto era levado para o Engenho dos Erasmos, construído em 1533 no sopé do morro, na Vila São Jorge.

Desde então, o local foi sendo ocupado por imigrantes portugueses e, no século 19, foi batizado de Nova Cintra por nativos da cidade lusitana de Sintra, pela semelhança nas características topográficas.

Os moradores comemoram anualmente o aniversário da Sociedade de Melhoramentos, inaugurada no dia 3 de julho de 1955.

O túnel entre as zonas Leste e Noroeste, antigo projeto da Prefeitura, é considerado pelos moradores a solução para o trânsito cada vez mais carregado. idéia, ventada no início desta década, não deve sair do papel tão cedo.

O projeto está parado por falta de recursos, afirmou o secretário de Infra-estrutura e Edificações, Antônio Carlos Gonçalves. O secretário acredita que a obra completa deve custar, hoje, R$ 300 milhões. "A importância do túnel é indiscutível, mas precisamos de recursos que têm de vir de outras fontes, como os governos estadual e federal".


Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Nova Cintra

Leva para a página seguinte da série