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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [28]
Vila Nova

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Publicado em 21/6/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


VILA NOVA LUTA CONTRA O ABANDONO E A DEGRADAÇÃO - Endereço das famílias ricas de Santos no início do século passado, a Vila Nova é hoje o retrato de décadas de abandono. Moradores de ruas espalhados pelas calçadas, crianças pedindo esmolas, vias pouco iluminadas e assaltos integram seu cotidiano. Os moradores cobram mudanças. A Prefeitura tem planos para revitalizar o bairro

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 21/6/2010

Nem rica, nem nova: a vila agora está degradada

Bairro da região central sofre com o abandono e a insegurança

Tatiana Lopes

Da Redação

Conhecida como a vila rica da Cidade no início do século 20, a Vila Nova de hoje nem de longe lembra os tempos áureos daquele bairro repleto de finos palacetes, onde residia a elite santista.

O que se vê por lá, atualmente, é o retrato de décadas de abandono. Moradores de rua deitados nas calçadas, crianças pobres pedindo esmolas aos passageiros das catraias e aos poucos clientes do Mercado Municipal. Assaltos a tripulantes, muita sujeira, mau cheiro e ruas pouco iluminadas.

Mas nem sempre foi assim. O bairro começou a ser formado quando os moradores mais abastados da Cidade deixaram a região do Valongo, que se popularizava e se tornava comercial. As famílias ricas estabeleceram residência na área entre o Paquetá, a atual Avenida Campos Sales, o porto e a Avenida Senador Feijó.

A expansão comercial e portuária e a facilidade de acesso às praias motivaram a ocupação das principais avenidas, como Ana Costa e Conselheiro Nébias, além da orla santista.

Em meia década, os imponentes casarões deram lugar aos cortiços - habitações subnormais e insalubres onde várias famílias carentes dividem um mesmo teto.

Ao longo das últimas três décadas, a falta de estrutura e condições de habitabilidade nesses imóveis vem afastando a população do bairro. Em 1970, 7.834 pessoas moravam no local, segundo o censo realizado pelo IBGE. Em 2000, esse número baixou para 4.401 habitantes.

Atualmente, a Secretaria Municipal de Planejamento estima que 1.357 famílias vivam em cortiços nos bairros da Vila Nova e Paquetá.


Construídos no início do século 20 para servir de residência à população mais afastada da Cidade, os antigos casarões foram transformados em cortiços, habitações insalubres que abrigam famílias pobres

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Falta segurança - Uma das principais queixas de moradores, comerciantes e usuários do terminal de catraias é a falta de policiamento no bairro. "A Prefeitura se preocupa muito com o Gonzaga, com a praia, e nós ficamos esquecidos. Deveria olhar mais para cá", reclama a comerciante Rosimeire Moraes da Silva.

Para ela, o bairro tem grande potencial turístico, mas não é explorado por falta de segurança. "Tem muito roubo por aqui, principalmente a turistas estrangeiros e tripulantes de navios", relata.

O taxista Euzébio Queiroz tem a mesma opinião. "À noite, aqui, é um perigo. Tem muito assalto. Faltam policiais".

O secretário municipal de Segurança, Renato Penteado Perrenaud, diz que a situação do bairro melhorou com a sede da Guarda Municipal na região. "Temos dois homens 24 horas naquele local".

No entanto, ele acredita que a localização de equipamentos como o Plantão Social, o Bom Prato e de entidades assistenciais ajuda a atrair moradores de rua.

A Polícia Militar também foi procurada para comentar o assunto, mas não retornou.


Com 496.185 metros quadrados, a Vila Nova espera a revitalização

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Tentativas de revitalizar o mercado não surtem efeito

O prédio do Mercado Municipal de Santos foi restaurado e totalmente remodelado em 2003. Nos últimos anos, novos serviços, como floricultura, lanchonetes, antiquários e agência dos Correios, passaram a ser oferecidos nos boxes. Tudo na tentativa de atrair mais público ao local.

Mas, apesar dos investimentos do poder público no imóvel, a ausência de clientes permanece. A principal razão, segundo os permissionários, é a deterioração do bairro.

"Quando tem cinco pessoas no corredor já falamos que está movimentado", diz a presidente do Instituto Costa da Mata Atlântica, Arabela Carneiro Viana, que há um ano ocupa um dos boxes no prédio.

Para Arabela, uma alternativa para mudar esse cenário seria a Prefeitura divulgar o espaço como ponto turístico e incluí-lo no roteiro de linhas como a Conheça Santos. "Se os turistas viessem para cá, o permissionário se sentiria mais motivado a fazer melhorias".

Na madrugada

Durante a madrugada, a agitação é grande no entorno do prédio com a venda de frutas, verduras e legumes por atacadistas

 

Sucateamento - Concebido para ser um ponto de referência no abastecimento dos moradores da Cidade, o Mercado passou a sofrer a concorrência direta das feiras-livres e dos supermercados a partir dos anos 60, entrando num rápido processo de sucateamento. "Antes, isso aqui era o melhor negócio do mundo", lamenta o permissionário Luzinaldo Nunes da Silva, há 40 anos no Mercado. "Já tive vontade de abandonar tudo. Só não abandonei porque amo isso de paixão".

Silva criou os sete filhos e comprou alguns imóveis com o dinheiro que ganhava da venda de frutas. "Hoje, o que tiro mal dá para comer. Sorte que recebo aposentadoria e aluguéis".


Permissionários reclamam da falta de fregueses nos boxes

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Projeto prevê novo terminal e linha turística

A construção de um novo terminal de passageiros na Bacia do Mercado, em substituição ao atual atracadouro, com nova iluminação urbana, pavimentação e uma linha turística. Esse antigo projeto da Prefeitura, apresentado há mais de quatro anos, é apontado pelo secretário municipal de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves, como uma solução para revitalizar o bairro.

O terminal seria instalado em frente ao Restaurante Bom Prato e usado tanto por quem faz a travessia de catraias, entre Santos e Vicente de Carvalho, como por turistas em passeios numa linha até o Estuário. Um deck (N.E.: convés, tablado) com quiosques também seria construído em uma das rampas da bacia e, logo ao lado, um estacionamento para 100 veículos.

Conforme o secretário, o projeto está incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do Governo Federal, que disponibilizará verbas para as obras naquela região. Também serão contemplados projetos de inclusão social e requalificação profissional da população dos cortiços. "Não tínhamos recursos financeiros, por isso fomos atrás de verba da União. A idéia é assinar o convênio em julho para poder começar os trabalhos até o final do ano".

O secretário de Planejamento acredita que toda essa reformulação, aliada à reestruturação dos imóveis, através do Programa Alegra Centro Habitação, também fomentará o comércio do lado de fora do mercado.

"Meu pai era pequeno e já ouvia essa promessa", ironizou o catraieiro Valdilson da Silva Lima. "Os turistas vêm para cá, olham e nem descem do carro", completa o catraieiro Fábio de Oliveira.

Travessia

Diariamente, cerca de 5 mil pessoas usam as catraias para fazer a travessia entre Santos e Vicente de Carvalho, em Guarujá

 


A idéia é criar um roteiro, até o Estuário, com finalidade turística

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Personagem


LUCIANO MINADAKIS - dono de barraca de lanches

Há 15 anos instalado na Praça Iguatemi Martins, em frente à Bacia do Mercado, o MC Rampa já ganhou fama em toda a Cidade. Como funciona 24 horas, durante as madrugadas, principalmente aos finais de semana, o local atrai centenas de jovens que saem famintos das baladas santistas. "Vem gente de toda a parte, principalmente da orla", conta Luciano, que chega a vender 300 sanduíches por dia. O comerciante acredita que a revitalização do bairro irá atrair mais gente para a região, em especial os turistas

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Vila Nova

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