HISTÓRIAS DE PAIXÃO POVOAM O ESTUÁRIO - O Estuário, que antes da construção dos armazéns do cais
atraía muitos pescadores por causa de suas várias prainhas, reúne histórias apaixonadas. Entre elas, a de Maria Cristina Santos e Odair Alves.
Eles se conheceram em 1972 e namoraram por cinco anos. Depois, cada um seguiu seu destino. Reencontraram-se 30 anos depois, no Estuário, graças a
uma mãozinha da tecnologia
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 10/5/2010
Curiosidade |
Antes da divisão de bairros pelo Plano Diretor, o Estuário era chamado Pau Grande. O
nome curioso era herança dos tempos em que ali havia um imenso tronco de figueira. O bairro possui 6.087 habitantes, segundo o último Censo
do IBGE |
|
Com 6.087 habitantes, o Estuário é um bairro que mistura casas térreas, edifícios de médio e
grande porte e área destinada ao comércio e às atividades retroportuárias
Foto: Irandy Ribas, publicada com a
matéria
Entre casas, caminhões e amores eternos
O Estuário, bairro que se chamava Pau Grande, guarda histórias de sentimentos
antigos e de paixão por automóveis que virou negócio
Flávia Saad
Da Redação
Poderia ser na Verona de Romeu e Julieta, no
sul dos Estados Unidos de Rhett Butler e Scarlett O'Hara ou no sertão pernambucano de Lampião e Maria Bonita. Mas essa história de amor aconteceu
no Estuário.
A casa da família de Maria Cristina Santos ficava no final do Canal 5, bem junto ao cais. Ao
longo de sua adolescência, passou muitas tardes no bairro. "Passei a namorar um rapaz que morava ao lado do Colégio Moderno", relembra.
Essa instituição, aliás, foi uma verdadeira referência no ensino da região. A unidade Adalberto
Souza da Silva era mantida pelo Sindicato dos Estivadores e tinha fama de uma das melhores escolas da cidade. Diz-se que, quem estudava lá,
garantia vaga em qualquer concurso que prestasse.
Mas, voltando à
história de Cristina. A menina e as amigas, que estudavam no Colégio Auxiliadora da Instrução, viviam uma aventura diária para chegar até lá.
"Lembro que eu e minhas colegas caminhávamos pelo matagal existente no final do Canal 5. Ir ao
colégio era um passeio. Nós caminhávamos entre as árvores e o mato fechado, cantando o trajeto inteiro".
Em 1972, conheceu Odair Alves, o Dinho. Ela contava 14 anos e ele, 18. Logo, passaram a fazer
parte da mesma turma que freqüentava os bailes no bairro. O namoro durou cinco anos.
Saudosa, Cristina aponta que o bairro já passou por várias mudanças. Onde era terra, hoje existe
asfalto.
"Havia uma casa onde morava a família de minha amiga; seus pais eram portugueses. Adorava essa
família, a mãe fazia um café maravilhoso" No local da casa, hoje há um pátio para contêineres".
Em 1984, ela deixou Santos por São Paulo. Mas nunca esqueceu o Estuário, nem Dinho, o namorado
da adolescência. Depois de 30 anos, o reencontro aconteceu com uma mãozinha da tecnologia.
Em 2006, a filha de Cristina criou um perfil no Orkut para a mãe. A filha dele fez a mesma
coisa, na mesma semana. E foi pelo site de relacionamentos que ele a achou.
Depois da troca de mensagens na comunidade Santistas com mais de 40 anos, retomaram o
romance.
Hoje, com 53 anos, volta a Santos quase todos os fins de semana. Mesmo ficando em outro bairro,
não esconde o carinho pelo local onde cresceu e se apaixonou pela primeira vez.
A toda velocidade - Quem vê o intenso movimento de caminhões rumo ao porto no Estuário
nem imagina que, no próprio bairro, eles convivam com veículos bem diferentes.
Da oficina de pintura de Wilson Said Boudros, a Special Motors, saem carrocerias turbinadas e
coloridíssimas, prontas para disputar provas da Fórmula Truck.
Ele também trabalha com a restauração de carros especiais. No dia em que recebeu a equipe de
A Tribuna, estava prestes a entregar ao dono, impecável, uma Ferrari 1978, modelo Pininfarina. Uma reforma minuciosa como essa, de um carro de
colecionador, leva entre 30 e 50 dias.
Há seis anos na Rua Raposo de Almeida, Boudros acredita que o bairro oferece fácil acesso e boas
opções para os prestadores de serviço como ele. "Não posso dizer que falta nada aqui. É um ótimo lugar para instalar um negócio".
Confusão |
Os limites do Estuário são motivo de impasse há tempos. Em 1968, o abairramento deu ao
Estuário as antigas casas populares do Macuco |
Em matéria de 1982, A Tribuna relatou: "(..) A bacia e as Casas Populares do Macuco não
pertencem mais ao bairro que lhes eu o nome. (...) passaram a fazer parte do Estuário, que surgiu do retalhamento do Macuco e têm seus
limites dados pelas avenidas Siqueira Campos, Portuária e Afonso Pena". |
As casas voltaram para seu bairro de origem na última versão da
Lei de Ocupação e Uso do Solo, de 1998. As vias que delimitam o Estuário hoje são ALmirante Cochrane (Canal 5), Afonso Pena e Mário Covas
(Portuária) |
|
Wilson Said Boudros comanda oficina que conserta tanto carrocerias para a Fórmula Truck quanto
Ferraris
Foto: Irandy Ribas, publicada com a
matéria
Prainhas do cais atraíam pescadores
Parece difícil de acreditar, mas antes da construção dos armazéns do cais, o Estuário e suas
várias prainhas atraíam muitos pescadores. A realidade de hoje passa bem longe: os moradores têm que conviver com problemas causados,
principalmente, pelo trânsito de caminhões rumo ao porto.
Hélio da Cruz e Sérgio Massuno moram em uma simpática viela de casas geminadas na Rua Francisco
de Paula Ribeiro há, respectivamente, 28 e 22 anos.
"Tirando o barulho dos caminhões, gosto de morar aqui. Mas eles não têm horários. À noite ou de
madrugada, ao fazer manobras, os alarmes tocam e incomodam muito", relata Cruz.
Mesmo assim, está satisfeito com o Estuário. "Aqui estamos bem servidos de mercados, padarias e
outros estabelecimentos".
Às vezes, achamos que o bairro fica esquecido pelas autoridades", diz Massuno. Ele já fez
pedidos à Prefeitura de Santos, por meio da Ouvidoria Municipal, para a retirada de uma árvore em frente ao conjunto. Não é a única árvore da rua
nessa situação.
Com a trepidação causada pelos caminhões, ela se partiu ao meio e pode causar um acidente a
qualquer momento. O movimento também ocasiona rachaduras visíveis dentro e fora das casas.
Moradora há 25 anos, Cristina Batista concorda: o local precisa de cuidados. "A gente vê uma
diferença no tratamento da Prefeitura para o outro lado (da Afonso Pena)".
No entanto, ela acredita que a melhor parte de residir ali é a convivência com os vizinhos,
típica de cidade do interior. "Aqui não é raro ver crianças brincando e jogando bola na rua. Todo mundo sabe o nome dos vizinhos. Quando é época
de festa junina ou de Copa do Mundo, fechamos a rua para decorar e comemorar".
O Estuário tem |
Casas de alvenaria misturadas a prédios de alto padrão |
O Pronto-Socorro da Zona Leste, que atende todo esse setor da cidade |
Supermercados, sacolão, padarias e serviços |
Crianças que ainda brincam nas ruas do bairro |
Árvores centenárias que preocupam a população |
A Escola Estadual Suetônio Bittencourt, conhecida por Maracanãzinho, por conta de sua arquitetura
que lembra o ginásio carioca |
A sede da Libra Terminais, maior empregador da Cidade |
A igreja São Jorge Mártir |
|
Moradores antigos,Hélio da Cruz e Sérgio Massuno temem que árvore caia e provoque um acidente
Foto: Irandy Ribas, publicada com a
matéria |