A cada nova chuva as velhas cenas se repetem...
Chove. E as ruas viram mar
Bastam 15 minutos de chuva, não mais que isso, para a água
invadir casas das ruas Celestino Bourroul, Francisco Hildebrando de Moura e Pádua Sales, e deixar intransitáveis outras das imediações, como Nilo
Gonçalves, Miguel Kodja e Abib Elias.
O que se vê nessas ruas faria vergonha a qualquer administrador: valas cheias de mato, malcheirosas, espalhando
esgoto por tudo quanto é lado. Quando chove e as vias se transformam em um mar, só restam como sinal das valas as pontas dos monturos de capim.
Os moradores da Celestino Bourroul são os que mais reclamam, porque, mesmo sem chuva, a rua permanece inundada.
Basta a maré subir para o volume de água aumentar nas valas e, conseqüentemente, ocorrem extravasamentos. Assim, o ir e vir em meio à podridão e à
sujeira faz parte da rotina daquela gente, que não sabe para quem deve apelar.
"Já fizemos uns quatro ou cinco abaixo-assinados, mas não adiantou nada. Continuamos com esse mesmo sofrimento.
Olha lá a água dentro de casa", comentou Manoelina Gaspar Lopes - Rua Celestino Bourroul, 90 -, ao ver repetir-se o mesmo drama com as chuvas da
semana passada. José Aires, morador do número 71 da mesma rua, também não se conforma com a situação: "Já procuramos o prefeito umas 50 vezes. Ele
disse que até o final do ano passado resolveria o caso. Quem é que pode com uma situação dessas? E se morre alguém, como a gente vai tirar o
corpo?"
A situação dos populares beira o desespero. Quando menos se espera, a água invade, destruindo tapetes, móveis,
geladeiras e outros objetos. Ninguém pode manter a casa arrumada e nem suporta mais o descaso da Prefeitura. Observando o estado calamitoso da
Celestino Bourroul, seu José Aires desabafa: "O imposto está aí para pagar. E cada vez mais caro. Antigamente era trimestral. Agora, de
dois em dois as parcelas vencem. Dá para agüentar?"
Pois é. Cobrar, a Prefeitura sabe, mas reverter a verba para resolver os problemas da comunidade...
...Moradores ficam ilhados, reclamam e pedem providências que nunca vêm
Praças cheias de mato e um parquinho que virou um monte de ferro - Nem só de ruas horríveis vive o Jardim
Castelo. Apesar de dispor de seis praças, apenas uma é urbanizada. Trata-se da Praça José de Oliveira Lopes, que está totalmente ocupada pela
Escola Municipal Cely de Moura Negrini. Nesse caso, merece a designação de praça?
O pior de tudo é saber que o bairro já teve uma praça urbanizada, com árvores, jardins, bancos e muito mais.
Mas, devido à falta de conservação, acabou voltando às origens e se transformou em um brejo. A urbanização da Praça Bruno Barbosa custou nada
menos que Cr$ 6 milhões, o que significa que todo esse dinheiro foi jogado fora.
Nada restou dos ítens do projeto inicial, incluindo brinquedos, quiosques, quadras de esporte e campos de
futebol. Das 143 árvores plantadas na época da inauguração, apenas alguns chorões resistiram. Tudo o mais não passa de mato e lama.
O Parque de Diversões Manoel Nascimento Júnior também sucumbiu frente ao descaso da Prefeitura. Os interessantes
e diversificados brinquedos viraram um amontoado de ferro-velho e põem em risco a segurança das crianças. A piscina, uma das maiores alegrias da
garotada, foi fechada para reformas há mais de um ano e até agora a Prefeitura não a reabriu.
E as crianças? Bom, as crianças tentam aproveitar o pouco que sobrou das antigas áreas de lazer ou se arriscam
pelo meio da rua, brincando de pega-pega, de esconde-esconde, batendo uma bola ou correndo atrás do cachorrinho de estimação. Essa é a rotina na
vida de crianças como o Lauro, o Ricardo dos Santos, o José Ricardo, o Sidney, o Júnior, o Marcelo, o Tony e o Sandro. Imaginem se eles não sonham
em ver o parquinho inteiro cheio de atrativos de novo?
Como se não bastasse, o Jardim Castelo está cercado por canais imundos, assoreados e cheios de mato. Os das
avenidas Jovino de Mello e Hugo Maia não poderiam ficar em piores condições. Só perdem mesmo para o canal da divisa entre Santos e São Vicente,
que não é revestido.
O presidente da Associação dos Moradores Pró-Melhoramentos do Jardim Castelo, Aderbal de Godoy, vai quase todos
os dias à Prefeitura reivindicar em nome do bairro. A pilha de ofícios que encaminhou desde que assumiu, em outubro, não sensibilizou ninguém. O
núcleo continua sem perspectiva de ganhar saneamento básico: sem ônibus direto para a praia ou para São Vicente; sem abrigos nos pontos de ônibus;
sem melhoria na iluminação; com bocas-de-lobo entupidas e policiamento bastante precário.
"O prefeito assina e despacha. Assina e despacha. Mas resolver mesmo, que é bom...", comenta Aderbal de Godoy.
Um pronto-socorro, escolas e creches em número insuficiente - Como se pode constatar facilmente, o
abandono assume diversas facetas nesse bairro que ocupa uma área de 86,20 hectares e tem cerca de 10 mil moradores. Mas, de outra parte, o Castelo
dispõe de equipamentos que muitos outros bairros de Santos não possuem.
Além das quatro escolas - três estaduais e uma municipal -, há um Posto de Instrução de Bombeiros do 6º
Grupamento de Incêndio que, embora subordinado ao comando, tem vida independente. Dispõe de uma autobomba, tanque para lavagem de mangueira e
alojamento, bem como de uma guarnição por dia para atender as emergências.
Na Rua Ministro Agamenon Magalhães funciona o único Ambulatório Regional de Saúde Mental, que atende a uma média
de 100 novos casos por mês, sem contar os 900 retornos em igual período. Há ainda, na mesma rua, um Pronto-Socorro Municipal onde, a cada semana,
se reveza uma equipe de 21 médicos e sete dentistas, entre outros profissionais.
E, por incrível que pareça, o Jardim Castelo abriga a única creche construída pela Prefeitura. Está pronta há
vários meses, mas será inaugurada apenas em março e tem capacidade para 60 crianças, na faixa etária entre três e quatro anos.
Bem maior é a creche construída pela Sociedade São Vicente de Paulo no Conjunto Dale Coutinho. Atenderá a 120
crianças de um a seis anos e nela os vicentinos investiram cerca de Cr$ 16 milhões. No total, são 180 vagas nas duas creches, o que ainda
representa muito pouco para uma comunidade tão carente, onde tantas crianças ficam sozinhas enquanto os pais trabalham.
As crianças não têm opções de lazer e nem outra alternativa
se não brincar no meio da rua, em meio aos carros
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