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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO
Areia Branca nasceu de uma invasão (4)

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Publicado em 26/8/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


O canal da Divisa, além de bastante assoreado, ficou escondido sob o mato

Um conjunto precário e o pouco caso do BNH

Os moradores do Conjunto Habitacional Marechal Arthur da Costa e Silva estão dispostos a apelar para o presidente Figueiredo pela quarta vez. Eles enfrentam dezenas de problemas desde a inauguração das casas e não agüentam mais a negligência do BNH, que só soube iludi-los com promessas.

No documento a ser entregue a Figueiredo, em sua próxima visita a São Paulo, a equipe do BNH é simplesmente tachada de mentirosa e demagógica. A Comissão de Moradores, encarregada de redigir o texto, optou pela objetividade: "Senhor (referindo-se ao presidente), esta é a quarta vez que pedimos sua intervenção porque não temos mais a quem apelar. Não é de nosso interesse agitar os moradores, porém não é justo que esses mesmos moradores sejam enganados pelos tecnocratas de gabinete, que desconhecem a dimensão exata dos problemas que lhes chegam às mãos".

Prossegue ainda o documento: "Estamos cansados de pedir, implorar mesmo, uma solução para o caso, mas esbarramos em homens mentirosos, demagógicos, que pretendem usar-nos politicamente, homens que não conseguem encarar outro homem de frente porque na realidade o que lhes falta é vergonha na cara".

Com característica até de desabafo, o texto reflete o desespero de centenas de famílias que, de repente, se viram instaladas em construções inabitáveis e com dívidas para o resto da vida. Como se evitar o clima de revolta diante de 10 anos de inércia, descaso e insensibilidade por parte do BNH?

As casas do Costa e Silva foram edificadas em duas etapas e por construtoras diferentes. A Etapa I envolve 526 unidades, situadas entre o canal e a divisa com São Vicente; e a Etapa II, 278 unidades. As primeiras ficaram sob a responsabilidade da falida empreiteira Nacional e estão simplesmente desmoronando sobre as cabeças dos ocupantes.

As casas ameaçam e o BNH nada mais faz do que promessas - Pesquisa realizada pela Comissão de Vereadores encarregada de averiguar o assunto mostrou que, de 454 residências da Etapa I, em 89,86 por cento apareceram trincas e rachaduras nas paredes. Dessas, 51,10 por cento registraram trincas e rachaduras também nas lajes de forro.

Em 84,80 por cento dos imóveis, a argamassa de revestimento destacou-se em alguma parede e, em 70,26 por cento, caíram azulejos no banheiro ou na cozinha. Fora isso, 81,93 por cento apresentaram umidade bem acima do normal.

A verdade é que a área escolhida para a construção do conjunto, pantanosa e alagadiça, precisava ser devidamente aterrada. Só que a Construtora Nacional resolveu improvisar e, ao invés de realizar os necessários estudos de solo, começou a amontoar cascalho sobre a vegetação, o mangue e até animais como tartarugas. O apodrecimento de todo esse material e a conseqüente acomodação da camada de aterro só podia dar no que deu.

O morador da Rua Antônio Godoy Moreira, 45, gastou mais de Cr$ 30 mil em reformas logo que mudou-se para lá, isso há quase 10 anos. Há cerca de seis anos investiu mais Cr$ 56 mil e atualmente está executando outra grande reforma no imóvel. Ele não tem previsão de quanto gastará desta vez, pois em cada lugar que o pedreiro mexe a coisa parece piorar.

Na sala, havia apenas um pequeno buraco na parede. Ele foi bater para retirar o reboco solto e percebeu que a parede toda começou a se desmanchar. O cimento na certa "passou de avião", como costuma se dizer por lá.

Muitos outros também já estão cansados de fazer reparos, e quem não os faz corre o risco de ver o imóvel desabar sobre si. Longe de se constituírem em abrigo seguro, as casas representam intranqüilidade, insegurança e perigo.

O problema é tão sério e evidente que o BNH não teve outra alternativa se não admitir as falhas de construção. E partiu para uma decisão extrema: demolir todas as 526 casas da Etapa I e reconstruí-las em terreno contíguo, espólio de Francisco Pires Martins. A maioria, porém, não quer nem ouvir falar nessa hipótese. Afinal de contas, quem já investiu fortunas para sanar as falhas acha que merece um pouco mais de respeito.

DNOS e Prefeitura não atendem pedidos e o pessoal reclama - Como se não bastasse a má qualidade das moradias, os moradores enfrentam também problemas decorrentes da negligência de outros órgãos e autoridades.

O canal na divisa entre Santos e São Vicente, ao longo do qual se estende parte do conjunto, está uma verdadeira vergonha, com todo seu lodo malcheiroso e cheio de mato. A draga do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) que iniciou a limpeza permanece encostada há seis meses. Segundo os moradores, ela não quebrou e o DNOS não deu continuidade ao trabalho sob a alegação de que não tem onde depositar o lodo.

A Prefeitura, por sua vez, continua sem instalar as lombadas reivindicadas. Avenidas como a Paulo Filgueiras Júnior são transformadas em verdadeiras pistas de corrida e atropelamentos viraram rotina. Aos sábados e domingos acontecem rachas de tirar o sossego de qualquer um. O prefeito Paulo Gomes Barbosa prometeu instalar as lombadas até o final de julho e, como até agora nada foi feito, os moradores afirmam que vão responsabilizá-lo em caso de algum acidente com vítima fatal.

O pessoal continua aguardando também o retorno da Linha 31, que servia a faixa portuária. O pedido data de outubro de 1980 e até agora não houve providências. Mas todos se admiram mesmo de não ter sido instalado no conjunto um posto policial. Em contato com o prefeito, há quase três anos, tudo parecia definido. Barbosa afirmou que mandara fazer umas guaritas de plástico, móveis, dotadas de sanitário, lavatório e com espaço para abrigar dois guardas. Segundo disse, a tal guarita estaria pronta em um mês...

Veja as partes [1], [2] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Areia Branca

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