Uma das grandes atrações é o coleirinha
Boneca, que aqui aparece instalado em seu minúsculo barco a remo
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O homem que fala com os passarinhos e os peixes
Tem gosto para tudo. O de José Cid Cid, espanhol de 52 anos que mora no Morro do José
Menino, são os pássaros e os peixes. Seu José conversa com os passarinhos como se eles fossem gente, especialmente um coleirinha de 29 anos
de idade, que faz coisas inacreditáveis, como deitar numa pequena cama ou remar num barco de madeira - os remos são palitos de fósforos.
"Quem cuida de animais e presta atenção neles nunca pensa no mal", diz José Cid, resumindo o
motivo de sua mania. A maioria dos seus pássaros foi capturada ali mesmo no Morro do José Menino, provando que Santos ainda tem canários,
pintassilgos, patativas, pássaros pretos, papagaios, caboclinhos e sabiás, soltos por aí.
Só de coleirinhas, José Cid tem quatro tipos diferentes. Mas a estrela é mesmo
Boneca, o passarinho ensinado, que apesar do nome é macho. Ele é pequeno, cinza-escuro, e assim que sai da gaiola, no dedo de José Cid, começa a
beijá-lo e puxar com o bico fios do bigode do seu dono: "Só com muito carinho é possível ensinar um pássaro", assegura José Cid.
José Cid Cid revela sua paixão
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Boneca faz muitas outras coisas. Seu dono
construiu para ele uma cama, com cerca de 10 centímetros, com colchão e travesseiro. José Cid faz carinhos e conversa com ele, e o coleirinha
retribui: deita na cama e fica quietinho, mesmo quando é coberto com um lenço.
José Cid fez também um barquinho de madeira para Boneca. O coleirinha se senta lá dentro,
segura dois fósforos nas patas e fica como se estivesse mesmo remando. O pássaro e deu dono estão juntos há tanto tempo que parecem se entender
perfeitamente, entre conversas e beijos. José Cid garante que Boneca fala seu nome quando canta.
Funileiro aposentado, José Cid afirma que não vende Boneca por preço nenhum,
esperando que ele viva muitos anos, passando dos 30. Foi com este coleirinha que ele começou a criar pássaros. Hoje, são cerca de 40 gaiolas
espalhadas pelo chalé no alto do morro.
Se ainda é possível contar os pássaros de José Cid, o mesmo não acontece com os peixes, de
inúmeras espécies e tamanhos. No terreno da casa existem pequenas nascentes de água pura, que foram canalizadas para formar vários tanques,
constantemente renovados, em níveis diferentes. Em cada tanque, uma quantidade incrível de peixes, desde aqueles vermelhos de aquário até raros
peixes-gatos, que andam na terra.
Para provar, José Cid pega uma rede e tira do tanque um peixe-gato, soltando-o no chão. Ele
parece mesmo se arrastar pela terra: "Esse peixe consegue andar uma distância de até três quilômetros, procurando água", garante José Cid.
Por causa dos pássaros e peixes, qualquer criança do morro sabe indicar a casa de José Cid,
coisa que ele recebe com muito orgulho. Ele não sabe exatamente quanto gasta por mês para manter suas criações, mas informa que é muito. Embora
venda ocasionalmente alguns peixes, ele diz que seu interesse não é comercial: "É a coisa mais importante do mundo para mim, os animais". Só quem
não parece concordar muito com isso é sua esposa, dona Nieves, que só faz um comentário: "Dá trabalho demais para cuidar". |