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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Famosos relógios públicos da cidade (I)

Quem hoje tem a hora exata a um toque no telefone celular e vive cercado de meios de obter essa informação mal imagina como, em tempos idos, uma torre com relógio, os sinos de uma igreja dobrando nas chamadas horas canônicas, a sirene apitando para chamar os trabalhadores, tinham significação extraordinária para a população de uma cidade que mal contava com sistemas de telefonia razoáveis.

Quanto mais se recua no tempo, mais importância ganham as poucas opções disponíveis, como no princípio do século XX, quando não havia rádio, televisão, a eletricidade ainda começava a ser instalada nas ruas e casas e telefone era um luxo disponível por menos de uma dezena de pessoas.

A matéria a seguir retrata um período em que velhos sistemas desapareciam e novas formas de se obter a informação horária - como a hora certa por telefone - ainda eram novidades em Santos. Foi publicada na edição de 30 de janeiro de 1978 do jornal santista A Tribuna:


Relógio International com a marca SMTC, que estava instalado na Praça Mauá
Foto: Francisco Dias Herrera

HORA CERTA
(De onde vem a hora local?)

Carlos Pimentel Mendes (texto)
Francisco Dias Herrera (fotos)

"Que horas são?"

Diariamente, essa pergunta é feita inúmeras vezes, nos mais diferentes momentos e lugares. Geralmente, vem uma resposta que, se imediatamente comparada com a informação fornecida por outro interlocutor, permite a observação de diferenças de cinco, dez, quinze minutos ou mais entre os horários fornecidos.

"Em Santos, pontualmente... horas e... minutos". Essa expressão, usual nas transmissões de rádio, não corresponde à verdade na maioria dos casos, já que cada emissora acerta seus relógios de maneira diferente, baseando-se em informações nem sempre dignas de crédito. Com isso, é comum uma emissora transmitir uma "hora certa" e, momentos após, outra estação de rádio informar outra "hora certa" com diferença de vários minutos para mais ou para menos.

Há quem diga que se pode calcular a idade de uma pessoa pela forma como ela responde, ao lhe ser pedida a hora certa: pessoas idosas diriam, por exemplo: "São doze horas e pouco". Um indivíduo de meia-idade já diria: "São doze horas e vinte minutos". Um jovem seria mais preciso: "São doze horas e dezenove minutos".

Um relojoeiro constatou que o brasileiro é um povo que se afeiçoa muito ao relógio, mais do que a muitos objetos. Um automóvel, troca-se quase todo ano. Já o relógio, é comum o brasileiro conservá-lo no pulso durante décadas, como "objeto de estimação". Muitos - segundo o relojoeiro - preferem usar um relógio cujo conserto custa Cr$ 400,00, a usar um que custa esse valor e é jogado fora quando se desarranja. É o caso do Timex, de mecanismo cravado, que não pode ser consertado. Os americanos compram muito esse tipo de relógio e, ao surgirem defeitos, jogam-no fora, enquanto os brasileiros compram muito menos esse produto.

Apesar de haver quem considere que o brasileiro não se interessa pela hora certa, tal fato é desmentido pela vendagem de relógios cada vez de maior precisão. Isso leva a uma conclusão: o brasileiro quer ter a hora certa, embora não se importe muito em utilizá-la. Ao ver a disparidade de horas fornecidas, o santista pergunta: "Qual a hora certa oficial da cidade? Como é obtida?


Exposição de relógios na parede da antiga relojoaria Ao Regulador
Foto: Francisco Dias Herrera

Atualmente, o santista conta com os mais diversos meios de obter a hora certa: telefone, rádio, telex, relógios de instituições públicas, de igrejas, de estradas de ferro, da televisão, de empresas privadas, por sirenas, pelas relojoarias etc.

Entretanto, cada relógio é orientado por meios diferentes. Uns são acertados pela Telesp, outros pela Agência Nacional, outros por emissoras da Capital, muitos pela Rádio Relógio Federal do Rio de Janeiro, alguns pelo Observatório do Valongo e outros pelo Observatório Nacional do Rio. Pesquisando-se, entretanto, a origem da hora certa, observa-se que Santos é basicamente orientada pela Hora Oficial, fornecida pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro, exceto no porto, onde há informações de emissoras do exterior.

Sirenas - Uma das formas mais tradicionais de se obter a hora aproximada é pelas sirenas de várias entidades existentes na Cidade. A Companhia Docas de Santos tem uma sereia que toca às 6,45 e às 7 horas, pela manhã. Depois, volta a apitar às 12h45, às 13 e também às 17 horas. A sereia do jornal A Tribuna toca ao meio-dia. Já a Companhia Santista de Transportes Coletivos tem uma sirena que é acionada às 7, às 11, às 13 e às 18h30. Pode-se ouvir ainda a das Cervejarias Reunidas Skol-Caracu S.A., no Bairro de Vila Mathias, tocada às 12 e às 18 horas. Diversas empresas também possuem sirenas de menor alcance. Há alguns anos, deixou-se de ouvir o famoso "apito da pedreira", que costumava alertar a população momentos antes das explosões da Pedreira Atlântica, que funcionava no Marapé. O som desse apito era ouvido às 11 e às 17 horas.


Relógios na fachada da Drogaria Iporanga, no Gonzaga, 
depois substituídos por mostradores digitais
Foto: Francisco Dias Herrera

Os relógios públicos - Outra opção é a consulta aos relógios existentes nas estações ferroviárias, igrejas e algumas repartições, além de relógios promocionais. Acaba de ser inaugurado na Praça da Independência um relógio a quartzo, com três mostradores, na fachada da Drogaria Iporanga. Os proprietários do estabelecimento consideram o aparelho, marca Dimep, "o que há de mais moderno em relógio exposto na Cidade". É movido a eletricidade, mas possui uma bateria que lhe assegura o funcionamento ininterrupto por duzentas horas. Entre o custo do relógio e sua promoção, calcula-se um gasto de mais de Cr$ 50 mil. O relógio conta ainda com um relógio-comando interno, controlado pelo horário fornecido pela Agência Nacional, através da Hora do Brasil.

Pelo telefone 4.5011 também pode ser obtida a hora certa, pois os responsáveis pelo estabelecimento deslocaram um funcionário especialmente para prestar essas informações. Explicam os donos da Drogaria Iporanga que "em Santos existe um horário padrão de grande credibilidade popular, que é fornecido pela A Tribuna, Telesp e Agência Nacional. Vamos procurar ter no Gonzaga a mesma credibilidade dessas outras fontes".

Existem também os relógios da Bolsa Oficial do Café, na Rua XV de Novembro; da Igreja do Rosário (há muito tempo parado, com os ponteiros indicando 12 horas), na Praça Rui Barbosa; também o da Igreja Coração de Maria, visto a grande distância por estar colocado no alto da torre, com quatro mostradores.

Na mesma via, surgiu mais recentemente o da Igreja Ortodoxa de São Jorge, próximo à antiga Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, hoje denominada Ferrovia Paulista S.A.

Também nessa estação ferroviária existe um relógio exposto em sua fachada, ligado a um relógio-mestre da estação, o qual é acertado pelo relógio do Controle Geral de Tráfego Ferroviário, na estação de Barra Funda (Capital). Já o relógio da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí - hoje denominada Rede Ferroviária Federal S.A. - na estação do Largo Marquês de Monte Alegre, é acertado pela hora do Controle Central da Estação da Luz, na Capital (que por sua vez é regulado pela hora da Telesp, Capital).

Na Estação Rodoviária de Santos, todos os mostradores também estão ligados a um relógio-mestre. Segundo os funcionários da administração, ele era acertado pela hora fornecida pela relojoaria Ao Regulador. Desde outubro de 1976, entretanto, o relógio-mestre passou a ser de quartzo, motivo pelo qual raramente há necessidade de acerto (devido à sua precisão).

Na Praça Mauá, próximo ao antigo ponto inicial dos ônibus da linha 42 da CSTC, existe fixado num poste um relógio marca International, antigo, pertencente à empresa, embora traga ainda a inscrição SMTC. Acertado pela Hora Certa Telesp, por um dos fiscais que trabalham na praça, o relógio é usado para controlar o tráfego de ônibus da empresa e seus horários.

Antigos relógios - Até as 12 horas do dia 25 de abril de 1973, funcionou o relógio da Western Telegraph. Quando foi desativado, terminava também a exploração das comunicações telegráficas pelas empresas estrangeiras no Brasil. O relógio inglês de quatro mostradores, instalado numa torre de 15 metros de altura, no Largo Senador Vergueiro, começou a funcionar em 1914, sendo acertado pela BBC - British Broadcasting Corporation, com informação auxiliar da Rádio-Relógio Federal do Rio.

Outro relógio famoso que parou foi o da Companhia City, de grande precisão: era sustentado por dois trilhos de bonde, fincados num pedestal de cimento para impedir vibrações. Quando a City se mudou da Rua D. Pedro II para as instalações da Vila Mathias, em 1945, o relógio foi junto, funcionando também no tempo do Serviço Municipal de Transportes Coletivos.

Em junho de 1968 também foi instalado um relógio digital no Morro da Penha, para propaganda de uma empresa aérea. O ponteiro maior media 9,20 metros e o menor 7,50 metros. Nunca funcionou direito, motivo pelo qual anos depois foi retirado.

Nos jardins do Boqueirão ainda existe o mostrador de um relógio de sol, há muito abandonado, após a destruição das varas que permitiam a marcação horária.

Pelo telefone - "Telesp informa: ... horas, ... minutos". Repete-se a informação, e em seguida a ligação é cortada. Recentemente, a Telesp criou na Cidade a opção, rapidamente popularizada, de informação horária pelo telefone 130.

Conforme explicações da empresa, o sistema se baseia num aparelho, o Audichron, que se compõe de um cilindro que funciona como relógio elétrico, conectado a um segundo rolo onde estão gravadas as mensagens de "Telesp informa". De vinte em vinte segundos é acionada a gravação, podendo o código 130 atender até a 20 chamadas simultâneas, havendo possibilidade de ampliação do atendimento. O aparelho Audichron é aferido a cada 15 dias, quando os técnicos conferem a hora com a fornecida pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro.

Rádio e televisão - Embora grande parte das pessoas regule seus relógios por emissoras da Capital, em Santos muitos seguem a hora fornecida pela Rádio A Tribuna. Antigamente, a sirena e os relógios internos eram regulados por um cronômetro de marinha existente em suas dependências. Foi também utilizado nas rádios um cronômetro "Zenith" de grande precisão, com uma inscrição que denota sua antiguidade: "Grand-Prix-1900". O cronômetro havia sido cedido por Giusfredo Santini no início da década de 60, sendo entretanto retirado anos depois.

Atualmente, as rádios A Tribuna, Nova Atlântica, a sirena e o jornal se baseiam em relógios comuns de mesa, tipo Tagus, acertados pela Hora Telesp e pela Rádio Relógio Federal, às 6 horas (quando o operador entra em serviço), às 12 horas (quando é acionada a sirena pelo operador da Rádio A Tribuna), e às 19 horas, pela Agência Nacional. Também já foi utilizada a "Hora Certa" das relojoarias Simões e Ao Regulador.

Já a Rádio Cacique de Santos acerta seus relógios pela Rádio Ministério da Educação e Cultura, que pode ser captada em ondas médias por receptores mais sensíveis, na freqüência de 1.510 quilohertz. A Rádio Clube de Santos, PRB-4, controla a hora pela informação da Rádio Jovem Pan, da Capital, e da Telesp. As rádios Cultura de São Vicente e Guarujá Paulista acertam seus relógios pela Agência Nacional - Voz do Brasil. A Rádio Universal - ZYR-94 - acerta de manhã pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, conferindo à noite pela Agência Nacional.

A TV Globo também fornece aos telespectadores a hora certa durante todo o jornal Bom Dia, entre as 7 e as 8 horas, e durante a programação, no intervalo entre cada programa. Segundo a Assessoria de Relações Públicas da Rede Globo, todos os relógios da empresa são acertados pelo Centro Horário do Observatório do Valongo, no Rio de Janeiro. Outras emissoras de televisão também fornecem informação horária, menos procurada pelos santistas.

No porto - Enquanto o Serviço Semafórico localizado no alto do Monte Serrate e a Praticagem do Porto orientam seus relógios pelas emissoras de Santos, a Capitania dos Portos tem necessidade da hora exata, pois lida diretamente com os navios. Dentro destes, normalmente existem dois relógios: um com a hora do local onde está o navio e outro orientado pela hora GMT (Greenwich Mean Time - Tempo Médio de Greenwich), que é três horas mais que a de Santos.

A Capitania dos Portos orienta seus relógios por intermédio de uma hora média obtida por pesquisa entre as rádios norte-americanas WWV e NSS, e ainda a Rádio Relógio Federal, o Observatório do Valongo e o Observatório Nacional do Rio.


Hora GMT no telex, do Observatório do Valongo/RJ, após discar [0000]. Em vermelho, o prefixo do jornal Folha da Manhã, origem da chamada. NC = Não Conecta, pois não se pediu conexão com outro telex
Mês/dia + hora local, em sinal emitido
pela estação santista da Embratel, chamada desde aparelho de telex
do jornal A Tribuna

A estação WWV é uma estação radiotelegráfica, que transmite ininterruptamente em inglês a hora GMT, nas freqüências de 2.500, 5.000, 15.000, 20.000 e 25.000 hertz, emitindo também sinais-hora para o Laboratório Central de Propagação de Maryland, EUA. A Rádio NSS é do Observatório Naval de Washington, transmite a hora GMT em 5.870, 12.135 e 16.180 hertz. Estas estações são de difícil captação em Santos. Por este motivo, a Capitania dos Portos utiliza mais a Rádio Relógio Federal, que transmite em português a chamada Hora Papa (hora legal, local), durante sua programação normal, que pode ser captada em 4.900 hertz (faixa de 62 metros em Onda Curta).

O Observatório Nacional do Rio de Janeiro transmite de forma permanente a hora GMT em 4.244, 8.654 e 17.190 hertz, enquanto o Observatório do Valongo transmite a hora GMT por telex, pela Central Internacional da Embratel (no Rio de Janeiro), pelo código "00". Por telex, também pode ser obtida a hora local pelo código "0000", da Central de Telex da Embratel em Santos. Todas as estações consultadas pela Capitania dos Portos são consideradas as que informam a hora mais precisa em todo o mundo.

Radiotelefone - Existem ainda algumas estações de radiotelefonia ao longo da costa, que efetuam contato com os navios em trânsito. Em Santos existe a Santos-Rádio, localizada na Rua Joaquim Nabuco,77, 5º andar, que pode ser chamada pelo telefone 141, para comunicações com passageiros dos navios.

Raramente os navios solicitam a hora certa a essa emissora (que se regula pela Rádio Relógio Federal do Rio de Janeiro), porque a Rio-Rádio já transmite essa informação de forma permanente, a cada três horas, pelo rádio. Entretanto, não pode ser captada pelos receptores de rádio comuns, já que não transmite em AM - Amplitude Modulada, captada por esses receptores - e sim em SSB (Banda Lateral Singela) que somente aparelhos de radiocomunicação possuem.


Cartão da tradicional relojoaria, que posteriormente encerrou suas atividades

Relojoaria - O telefone 2.9021 é muito conhecido por grande número de empresas santistas. Pertence à relojoaria Ao Regulador, que está instalada há 44 anos na Rua Amador Bueno, atualmente no número 56. Por esse telefone são recebidos diariamente, no horário comercial, mais de 30 pedidos de hora certa, provenientes principalmente da Refinaria Presidente Bernardes, Union Carbide, Caixa Econômica do Estado, Companhia Docas de Santos, repartições oficiais e bancos. A Estação Rodoviária era um dos solicitantes de hora certa, até ser instalado o relógio de quartzo.

Crisantina Paulo Briceno, proprietária da loja, e seu filho Humberto Briceno Júnior, explicam que todos os dias o relógio padrão da casa é acertado às 6 horas pela Rádio Relógio Federal, por meio de um aparelho de rádio em contato permanente com aquela emissora. A relojoaria possui dois cronômetros, um elétrico japonês e um mecânico, alemão. Quando ainda funcionava o relógio da Western Telegraph, os proprietários da relojoaria tinham acesso ao relógio central da empresa. Entretanto, há quinze anos, quando houve um problema com o relógio da Western, a situação se inverteu e durante quatro dias o mais famoso relógio da cidade se baseou na hora certa fornecida pela relojoaria. Esta, além de utilizar o rádio, periodicamente utiliza o telefone (021) 288.0130 do Observatório do Valongo, que automaticamente dá a hora certa.


Relógio público na Igreja Ortodoxa São Jorge, na Avenida Ana Costa
Foto: Francisco Dias Herrera

O problema da hora

A hora nos diferentes pontos da Terra tem relação com a posição do Sol em relação a esses pontos. Dessa forma, quando o Sol está iluminando plenamente o Japão, sendo lá considerado meio-dia, o Rio de Janeiro, no extremo oposto da Terra, está na metade da noite. De acordo com a posição, em cada ponto do globo terrestre existe um horário diferente. Antes do disciplinamento mundial do horário, cada cidade tinha sua própria hora.

Entretanto, para resolver esse problema, em 1890 começou a ser adotado o sistema dos fusos horários. Embora nessa época a idéia fosse defendida por geógrafos norte-americanos, o mérito cabe ao italiano Quirino Filopanti, que a expôs pela primeira vez em 1859, não despertando grande interesse. Pelo sistema, o globo terrestre foi dividido em 24 fusos horários, correspondentes às horas do dia. Como a Terra tem 360 graus no Equador, cada fuso é de 15 graus, de forma que os 24 fusos completam a circunferência.

Tomando-se como base a cidade de Greenwich, na Inglaterra, onde existe um importante observatório, criou-se o meridiano 0, que passa por essa cidade. Em direção ao Oriente, de 15 em 15 graus, a região localizada no fuso horário correspondente tem seus relógios adiantados uma hora em relação ao fuso anterior, totalizando as 24 horas do dia. Assim, enquanto na cidade de Greenwich é meio-dia, no Rio de Janeiro são 9 horas. A hora da cidade de Greenwich é a conhecida hora GMT.

A divisão em fusos horários criou problemas dentro de países com vasto território, como o Brasil, que na parte mais larga tem cerca de 45 graus. Dessa forma, em nosso território existem três fusos horários. O primeiro corresponde a todos os Estados da Costa Atlântica, além das ilhas oceânicas brasileiras. Os estados do Pará e do Rio Grande do Sul, que seriam divididos ao meio, foram por conveniência englobados nesse fuso horário, que também compreende os estados de Goiás e Minas Gerais.

O segundo fuso, com uma hora a menos, compreende os estados do Amazonas e de Mato Grosso (do Norte e do Sul), além dos territórios de Roraima e Rondônia. O terceiro fuso compreende o Estado do Acre, que dessa forma tem seus relógios atrasados duas horas em relação aos do Rio de Janeiro. Antigamente existia um quarto fuso, adiantado de uma hora em relação ao do Rio, que compreendia o arquipélago de Fernando de Noronha, Atol das Rocas e Ilha de Trindade (hoje incluídos no fuso do Rio).

Observatório Nacional - Fundado em outubro de 1827 pelo imperador D. Pedro no Morro do Castelo (na cidade do Rio de Janeiro), o Observatório Nacional foi em 1920 transferido para o atual prédio, na Rua General Bruce, 586, no Bairro de São Cristóvão (Rio). Fornece a hora oficial do Brasil, pela qual se orienta o país, por todos os meios de comunicação.

Segundo os responsáveis pelo observatório, a hora oficial brasileira é determinada por relógios atômicos ali instalados, muito mais confiáveis do que os antigos padrões de acerto da hora pela posição da Terra em relação ao Sol. Foi devido à sua grande precisão que, na reunião de outubro de 1964 da Comissão Internacional de Pesos e Medidas, em Paris, foi decidido que a medição física do tempo seria baseada na freqüência da vibração que ocorre com a emissão ou absorção do átomo do césio-133.

Explica a Diretoria do Serviço de Hora do Observatório que não se usa mais controlar o relógio pela posição da Terra em relação ao Sol, uma vez que o movimento de rotação desenvolvido pelo planeta é ligeiramente irregular. Esse é, aliás, o motivo pelo qual todos os anos o público é avisado sobre um atraso ou adiantamento dos relógios, no dia 31 de dezembro: nesse momento é feito um acerto entre a hora atômica e a hora astronômica (do planeta). Nos últimos anos tem sido feito um adiantamento nos relógios, porque a Terra tem feito mais lentamente o movimento em torno do eixo (rotação terrestre).

O Observatório Nacional está subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisa, mas mantém seus relógios em comparação permanente com os observatórios de todo o mundo. Entre todos os observatórios espalhados pela Terra, a diferença de hora (descontando-se os fusos horários) é medida em alguns mícrons de segundo. Embora a hora-base seja a de Greenwich, o centro mundial da hora é o Bureau Internacional da Hora, sediado em Paris.

Como diversos países, o Brasil adotou por algum tempo o chamado horário de verão, quando se antecipava em uma hora os relógios durante alguns meses, para se aproveitar a luz do dia, economizando energia. No País, a hora de verão surgiu em outubro de 1931, pela primeira vez, prosseguindo até 31 de março de 1932, quando os relógios voltaram a marcar a hora normal. Durante muitos anos foi empregado o processo, tendo o último horário de verão ocorrido entre 1º de novembro de 1965 e 31 de março de 1966.

Entre os técnicos do setor, a hora legal (local) é também conhecida como hora papa, enquanto a referência horária para as comunicações internacionais é a hora GMT, também conhecida como Tempo Universal Coordenado (TUC): a Rádio-Relógio Federal transmite os sinais horários do Observatório Nacional com um atraso de 500 mícrons de segundo, devido à distância entre a emissora e o observatório. A mesma emissora também transmite às 18h30 o sinal horário, em inglês, francês e português, para aferição diária dos outros observatórios do mundo.

Valongo - Outro conhecido observatório brasileiro é o do Valongo, onde funciona a Escola de Astronomia da Universidade do Rio de Janeiro. Relógios atômicos regulam a hora-padrão do observatório, sendo aferidos por observações astronômicas e pela hora oficial do Observatório Nacional. O Valongo informa a hora local pelos telefones (021) 288-0043 e 288-0130, que podem atender até 40 ligações simultâneas, automaticamente. Pelo telefone (021) 288-0131, o observatório atende até cinco ligações internacionais, informando automaticamente a hora em inglês. O observatório do Valongo funciona na Ladeira do Pedro Antônio,43, área central da cidade do Rio de Janeiro.


Relógio da antiga Estrada de Ferro Sorocabana (Fepasa), na Avenida Ana Costa
Foto: Francisco Dias Herrera

Muitas mudanças ocorreram depois dessa matéria de 1978:

No mundo:
o Tempo Médio de Greenwich (GMT) foi substituído internacionalmente pelo Tempo Universal coordenado (UTC - Universal Time Coordinated), mantida a divisão do planeta em 24 fusos horários.

No Brasil:
os territórios de Roraima e Rondônia se tornaram estados, surgindo também o Estado de Tocantins, este acompanhando o fuso de Brasília, por ser um desdobramento do estado de Goiás. O território de Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Pernambuco;
depois da moeda cruzeiro citada nessa matéria de 1978, surgiram: o cruzado (em 28/2/1986), o cruzado novo (15/1/1989), de novo o cruzeiro (16/3/1990), o cruzeiro real (1/8/1993) e o real (1/7/1994), na esteira de um dos maiores processos inflacionários da história brasileira. Para efeito de comparação, um salário mínimo em agosto de 1978 valia Cr$ 1.106,40;
a Telesp foi privatizada e passou ao controle da Telefônica de Espanha;
Voltou a ser utilizado o horário de verão, desde 1984.

Em Santos:

Relógio da Hora Imóveis, na Avenida Conselheiro Nébias, que teve curta duração

o relógio da Igreja do Rosário foi consertado e voltou a funcionar regularmente, incluindo o toque de sinos a cada 15 minutos;
a administração do porto, que era exercida pela empresa privada Companhia Docas de Santos (CDS), foi estatizada como Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), em 7/11/1980;
as instalações da cervejaria Skol-Caracu na Vila Mathias foram desativadas;
o relógio da estação ferroviária da Sorocabana/Fepasa voltou a funcionar (o que parou foi a estação, transformada em parte das instalações de um supermercado, quando a ferrovia foi privatizada e deixou de transportar passageiros);
Também deixou de funcionar a estação de passageiros da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, e o prédio desde então foi fechado, permanecendo sem uso neste início de século XXI;
a relojoaria Ao Regulador não existe mais;
o Serviço Semafórico deixou o alto do Monte Serrate;
o aparelho de telex foi praticamente desativado, sendo usado quase que apenas em algumas agências marítimas;
um relógio bastante popular, especialmente nas temporadas de verão, estava instalado em um barquinho que percorria toda a extensão da praia, puxando um reboque promocional. Desapareceu também na década de 1970;
no início da década de 1980, a Hora Imóveis, na Avenida Conselheiro Nébias, instalou em seu terreno um relógio público promocional, com iluminação noturna, mas que já em fins de 1981 estava praticamente desativado;
o relógio International/SMTC da Praça Mauá foi retirado anos depois;
um relógio que na década de 1940 existia na esquina das ruas XV de Novembro e Visconde de São Leopoldo também foi retirado;
a City, depois SMTC, foi sucedida na área de transportes públicos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Nem seu relógio sobre trilhos de bonde, nem o da Western Telegraph (este, encaixotado nas instalações da administradora portuária) voltaram a ser instalados;
surgiram várias dezenas de relógios/termômetros digitais espalhados pelas ruas e avenidas que conseguem informar horários como 25:67 e temperaturas de -70º C...

E ainda:
o fotógrafo (saudoso Paco Herrera!) faleceu em 29/12/1987;
o redator dessa matéria de 1978 é agora o editor deste jornal eletrônico Novo Milênio;
Novo Milênio conta com três relógios: numa barra no alto das páginas, acionado por um programa de computador que depende inteiramente do relógio interno existente no computador do internauta visitante; na página principal e na página Santos, é o primeiro site santista a informar a Hora Legal Brasileira, com dados do Observatório Nacional. Nas páginas Santos e Porto, conta com um serviço de hora e temperatura fornecidos por uma central meteorológica internacional baseada nos Estados Unidos - a mesma que fornece as horas locais de todos os países, disponíveis no Atlas Interativo Novo Milênio.


Relógio e sinos da Igreja do Rosário, na Praça Rui Barbosa,
por muito tempo parado na posição 12h00: voltou a funcionar na década de 1980

 


Joia Brasil - Serviço de hora certa
Publicado no jornal santista A Tribuna, em 29 de setembro de 1950, página 2

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