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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - RADIOFONIA
Rádio Clube de Santos (2)

Prefixo: PRB-4 (ZYK-653)
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Sobre essa que foi a primeira emissora de rádio santista, o Almanaque da Baixada Santista - 1973, redigido por Olao Rodrigues e editado pelo Indicador Turístico de Santos, publicou este artigo do memorialista Bandeira Jr., membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS):
 
Rádio Clube de Santos - A pioneira

A 2 de novembro de 1920, a invenção do italiano Marconi deixava as experiências de laboratório para incorporar-se ao uso comum da humanidade. Nessa data o engenheiro americano Frank Conrad, de Pittsburg, EE.UU., punha no ar a sua estação transmissora KDKA, para alegria de uns 100 ouvintes possuidores de rádios-de-fone (galena).

Um ano depois (12 de outubro de 1921), em Menod, New Jersey, EE.UU., inaugurava-se a segunda estação de ondas hertzianas.

No Brasil, conquanto houvesse tido irradiações em circuito fechado no recinto da Exposição do Centenário de 1922, somente em 1923 a Rádio Clube do Brasil - instalada na Av. Rio Branco, nº 109, 6º andar - começou com broadcasting regular em 20 de abril, para inauguração definitiva a 7 de setembro da SQE que transmitia por aparelho Pekam ofertado pela firma Ketzner & Co., de Buenos Aires.

Em abril de 1924, grupo de santistas formou a S/A Rádio Industrial - que possuía escritório na Rua 15 de Novembro, nº 183, 2º andar, sala 2, e instalou emissora provisória na Rua Monsenhor Paula Rodrigues, nº 133 - segundo consta chegou a retransmitir a luta de box Spalla x Firpo, e pretendia, na oficina (Rua Braz Cubas, nº 241) fabricar aparelhos receptores para serem vendidos a 300$00 (hoje seriam 30 centavos) (N.E.: em 1973, quando um dólar valia Cz$ 6,18. Ou seja, o valor de cada receptor ficaria ao redor de US$ 0,04).

Não sabemos se pela grandiosidade do projeto ou a extemporaneidade da iniciativa, o fato é que a empresa não foi para a frente.

Em dezembro (26) desse mesmo ano era fundada por santistas - quase todos radioamadores - a Rádio Clube de Santos, que manteria estação não em base empresarial mas sim de forma amadorística, com os sócios pagando mensalidades como em qualquer clube.

Em caráter experimental, as irradiações começaram em acanhada dependência do Miramar, com Jovino de Melo na técnica, enquanto os sócios revezavam-se anunciando os discos, no período de 20 às 22 horas.

A 4 de abril era solenemente inaugurada a Rádio Clube de Santos - a primeira emissora do Litoral Paulista, que a 30 de novembro de 1926 recebia autorização do governo federal para funcionar, sob o prefixo de S.Q.A.I.


O Miramar à noite. 
Note-se as primeiras torres transmissoras de ondas hertzianas do Litoral Paulista
Foto publicada com a matéria

Com a contribuição dos sócios - principalmente do sr. M. Fernandes - dono do Cassino Miramar - a estaçãozinha do Boqueirão conseguiu sobreviver até que uma crise mais aguda obrigou a diretoria a chamar o rádio-amador Hermenegildo da Rocha Brito para salvar a situação.

O novo administrador - isto por volta de 1927 - começou por substituir o aparelho transmissor - doado pela Companhia Construtora de Santos - por outro mais potente, de sua "fabricação"; introduziu os anúncios de propaganda comercial - a princípio graciosamente, depois a 50$000 por mês -, e contratou o primeiro locutor da radioemissora, vale dizer, o primeiro locutor de Santos foi Paulo de Afonseca Faria, atualmente morando em São Paulo, onde é cirurgião-dentista.

Em janeiro de 1928, Rocha Brito teve outra iniciativa vitoriosa: convidou a Orquestra do Miramar para, numa sexta-feira, fazer um programa "ao vivo" (como primeiro número foi executado o tango Noche de Reys) e daí em diante toda noite-de-lobisomem a orquestra apresentava-se ao microfone da Rádio Clube de Santos.

Nessa altura, já a irradiação fazia-se em dois períodos: das 10 ao meio-dia e das 20 às 22 horas...

Na véspera da Revolução Constitucionalista (8 de julho de 1932), a P.R.A.S. despediu-se do Miramar, pois no dia seguinte deveria começar no novo estúdio da Rua José Cabalero nº 60, mudança que só se concretizou no dia 16 devido aos acontecimentos políticos.

No estúdio do Gonzaga começariam com regularidade as programações "ao vivo", havendo para isso uma Orquestra (dirigida pelo maestro Vetró), e um regional para acompanhar os cantores de música popular. Rocha Brito, que é a própria história da ex-PRB-4 - gosta de citar os artistas que por aí passaram: Zezé Lara, Araken Patusca, as irmãs Baptista (Linda e Dircinha), Silvino Neto (depois de cantar tangos tornou-se humorista), Hilda Campos (a futura Leny Eversong), Renata Fronzi, Heleninha Costa, Lamartine Babo, Sílvio Caldas, Lolita Rodrigues, Vicente Leporace, Gregório Barrios, Carmem Miranda e muitos outros.

O presidente da Rádio Clube lembra que o locutor Querubim Correa - ex-galã de teatro -, ao deixar o microfone aos sábados tinha sempre um amigo à sua espera. Era Ademar de Barros, o futuro governador de São Paulo.

Quando o governo da União proibiu as emissoras funcionarem em base de agremiações amadorísticas, Rocha Brito transformou a Rádio Clube numa sociedade comercial, por ações, que dividiu proporcionalmente entre os 96 remanescentes do quadro associativo.

Atualmente, entre os acionistas figuram Édison Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, o industrial Vasco Faé, e o ex-prefeito José Gomes que, na direção comercial da ZYE-344 vem dando novo impulso, tornando-a moderna e dinâmica - já que tradição ela tem de sobra: é a quarta estação radiofônica do Brasil.

Na antiga revista mensal santista Flama, foi publicado na edição de janeiro de 1944:

Foto publicada com a matéria
Olavo Martins, o dinâmico gerente da PRB4, fez anos no dia 20 do mês passado. E não disse nada! Os seus amigos souberam, entretanto, do grato acontecimento e os parabéns foram abundantíssimos.

Olavo Martins não chegou para as encomendas. Isto é, para os abraços, que ele merece, de fato, por ser um ótimo amigo e, sobretudo, o braço forte da Pioneira.

Muito tarde, embora, também Flama o abraça.

Meses depois, em abril de 1944, na mesma publicação:

Foto publicada com a matéria

Antonio Carlos - Antonio Carlos é um dos elementos mais estimados da PRB4. Mais estimado e mais competente na sua função de técnico operador.

É dos que trabalham sem contato direto com o grande público, devendo-se-lhes, entretanto, muito do que o rádio proporciona aos ouvintes, distraindo-os ou instruindo-os, nas suas programações diárias.

Antonio Carlos tem, no Rádio Clube, as melhores amizades, conquistadas pelo seu trato distinto e excelente camaradagem.

E ainda, em maio de 1944, também na revista Flama:

Foto publicada com a matéria
NOVOS PROGRAMAS DE TEIXEIRA FILHO - O Rádio Club de Santos vem apresentando nestes últimos dias um movimento animador. E isso, deve-se em parte aos esforços de Teixeira Filho, que muito tem se esforçado para o bem de sua emissora.

Assim é que nada menos que três programas semanais foram lançados por Teixeira, todos eles dignos da atenção dos ouvintes locais.

O primeiro deles é História da Humanidade, apresentado às terças-feiras, às 19,30 horas, focalizando a biografia romanceada dos grandes vultos da humanidade; o segundo, Palco Sonoro, mostra a ligação da música na literatura e tem como intérpretes Teixeira, Carmen Lídia e Horácio Guimarães; o último, Travessuras do Danilo, é um divertimento radiofônico, cheio de humorismo e graça, com a participação de todos os elementos do cast de rádio-teatro da Pioneira.

E, ao que se diz, Teixeira Filho não parará por aí. O jovem broadcasting está disposto a grandes coisas.

Em 26 de março de 1944, o diário A Tribuna registrou, em sua edição especial pelo cinquentenário do jornal:


No cliché acima vê-se, em interessante confronto, 
o pequeno aparelho transmissor, com o qual, há 20 anos, a pioneira iniciava suas atividades, no Miramar, vendo-se frente ao mesmo o conhecido operador Jovino de Melo, quando se iniciava em radiotelefonia, e o transmissor moderno, agora instalado na estação da Rua José Cabalero, aparecendo, novamente, Jovino de Melo, decorridos 20 anos
Imagem: reprodução parcial da matéria original

Rádio Clube de Santos, PRB4

Uma emissora que vem acompanhando, desde 1924, a evolução de nossa cidade, em seus mais variados aspectos

Orientado sempre por pessoas de responsabilidade social, vem o Rádio Clube de Santos cumprindo à risca o programa que traçou, de apresentar constantemente programas escolhidos e artistas de renome.

Essa emissora representa, pode-se dizer, o espelho fiel do progresso da nossa cidade, nos seus 20 anos de existência. Sem alardes, prossegue ela na sua rota, constituindo-se a "pioneira" da radiotelefonia em Santos.

Em diversos momentos de agitações políticas, a B4 cedeu sempre o seu microfone, para que diante dele os oradores pudessem externar os anseios da população.

Foi a 26 de dezembro de 1924 que o Rádio Clube de Santos foi fundado, por um pugilo de homens de boa vontade, desejosos de dotar a nossa cidade de uma emissora à altura dos seus foros de civilização.

Vários empecilhos surgiram, mas todos eles foram vencidos galhardamente, continuando a B4 em sua trajetória brilhante.

Até maio de 1930 funcionou a atual "pioneira" com o transmissor de 50 watts, passando dessa data até hoje a funcionar com o seu possante transmissor de 1.000 watts.

A B4 iniciou-se com o prefixo SQAS, depois mudado para PRAS e presentemente PRB4. Sua frequência era de 1.000 quilociclos, passando a atuar, hoje, com a frequência de 1.450 quilociclos.

Até julho de 1932 funcionou numa das dependências do Miramar, transferindo-se depois para o seu prédio próprio, localizado à Rua José Cabalero n. 60, onde funciona até a data presente, estando já bastante adiantados os planos de reformas e a construção do seu auditório, além de outras inovações a serem introduzidas na veterana emissora santista.

Em 21 de janeiro de 1947, uma terça-feira, o jornal santista A Tribuna assim noticiava na página 4 a participação da emissora na cobertura jornalística das eleições na cidade (grafia atualizada nesta transcrição):


A P.R. B. 4 informa em colaboração com A Tribuna
Imagem: reprodução da matéria original

Serviço informativo do Rádio Clube de Santos e A Tribuna

O Rádio Clube de Santos, PRB-4, em colaboração com esta folha, apresentou domingo, em primeira mão para a cidade, informes sobre a realização das eleições em Santos.

Às 9 horas, com o seu microfone instalado no Cartório Eleitoral, o Rádio Clube deu alguns detalhes de como se processavam as eleições, serviço que teve a superintendência do sr. Paulo Gasgon, escrivão.

À tarde, a emissora da Rua José Cabalero deu outros informes sobre a eleição, tendo ocupado o microfone daquela emissora o nosso repórter, anunciado pelo locutor Horácio Guimarães.

Das 20 até às 22,30 horas, a reportagem da A Tribuna voltou a ocupar o microfone do Rádio Clube, instalado no Cartório Eleitoral.

O serviço informativo da emissora do sr. Rocha Brito prosseguirá até a apuração final.

Convém ainda assinalar que esse serviço foi muito bem recebido pelo povo santista, que tem demonstrado o seu reconhecimento por esse esforço da reportagem do Rádio Clube e da A Tribuna, que vem dando em primeira mão as notícias sobre o pleito.

No Cartório Eleitoral continua a reportagem desta folha em estreita colaboração com a emissora da Rua José Cabalero.

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