HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
MONTE SERRAT
Os bondinhos e o cassino
Quem não quiser subir a pé as mais de quatro centenas de
degraus do Caminho Monsenhor Moreira, conta com um sistema funicular para ir até o prédio do antigo cassino, situado 147 metros do nível do mar. De seu
terraço, é possível ver toda a cidade e partes de Vicente de Carvalho e Guarujá.
O sistema funicular do Monte Serrat
Foto: Secom/Prefeitura Municipal de Santos
Os dois bondes, com capacidade para 70 passageiros cada um (atualmente reduzida para 40 passageiros, para maior
garantia de segurança), percorrem, em quatro minutos, 242 metros de trilhos paralelos, impulsionados por um motor de 100 HP e sustentados por cabos de
uma polegada e meia de diâmetro, com resistência para 90 toneladas. Existe apenas uma linha férrea, com um desvio no centro. Cada bonde pesa
aproximadamente oito toneladas e circula preso a um mesmo cabo de aço, em equilíbrio entre a subida e a descida.
A arquitetura da estação de embarque e do cassino é original, com características do começo do século XX, bem
como a maior parte do equipamento eletromecânico do sistema, de origem alemã. Para transporte de carga, o funicular possui trilhos auxiliares de bitola
estreita, pelos quais corre um carro com capacidade para 400 kg, tracionado por um motor de 30 HP.
Lembra o jornal santista A Tribuna, na edição sobre o Monte Serrat (3/6/1982)
da série de matérias Conheça o seu bairro:
Não resta dúvida: o sistema de segurança é dos mais firmes e só falhou uma vez, no dia 9 de
abril de 1947, às 13h45, 20 anos depois da inauguração. Os bondinhos faziam o trajeto normalmente e, quando faltavam uns 30 metros para chegarem aos
seus destinos, o cabo rompeu. Entre as 30 pessoas que subiam e as seis que desciam, apenas uma mulher morreu.
Quem não se lembra que naquele amplo prédio junto ao qual os bondinhos param funcionava um
famoso cassino? Quem gosta de falar sobre isso é Antônio Ribeiro Vasquez, que guarda na memória a beleza dos salões decorados com cortinas e tapetes
franceses. Havia 25 bailarinas contratadas e até um professor para ensaiar as coreografias. "Era a coisa mais linda", diz o espanhol Antônio
Ribeiro, com ar de satisfação. Quantos strip-teases não assistiu lá?
Os bondinhos eram fechados por cortinas e transportavam a boemia santista, que em geral
acabava a noite no alto do Monte. Conhecida no Brasil e no exterior, a casa noturna servia como ponto de referência para todo visitante que
chegasse. Artistas de renome fizeram temporadas de gala nos salões e muitas festas ali se realizavam. O cassino pertencia à família Vallejo (dona
também dos bondinhos) e, até 1945, quando o jogo foi proibido no Pais, umas 300 pessoas o freqüentavam diariamente.
E prestem atenção ao detalhe lembrado por Antônio Ribeiro Vasquez: depois das 22 horas,
quando o cassino abria, bastava chegar uma pessoa e imediatamente o funicular era posto em movimento, levando o interessado até o alto. Depois desse
horário não se pagava passagem e, pasmem, morador, se quisesse, que subisse a pé! (...)
Ficha de passagem usada no funicular do
Monte Serrat (frente e verso)
Imagem enviada a Novo Milênio por
Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, em 6/1/2008 |
Por sua vez, consta na História de Santos/Poliantéia Santista (de Francisco Martins dos Santos e Fernando
Martins Lichti, 1986, Editora Caudex Ltda., São Vicente/SP):
Os bondinhos do Monte Serrat A tentativa pela instalação dos bondinhos
começou em 1910, embora só viessem a funcionar 17 anos depois. Nesse ano (1910), a prefeitura concedeu a Walace Cócrane Simonsen para instalar e
explorar o serviço. Falhando na tentativa, foi outorgado novo privilégio, desta vez a Vicente Abramo e Adelino Raposo, já em 1912. Estes
concessionários também não conseguiram o seu propósito.
A Companhia Melhoramentos do Monte Serrat tomou todos os encargos por eles assumidos e em 18 de julho de 1923 foi
lavrado novo termo de responsabilidade, desta vez, pela Sociedade Elevadores Monte Serrat, representada pelos srs. Francisco de Negreiros Rinaldi e
Antônio Alonso González, presidente e tesoureiro respectivamente.
Esclarecia esse termo que procedia à transferência da concessão outorgada a Vicente Abramo e Adelino Raposo,
assumiram a responsabilidade do contrato, em todas as suas cláusulas, Domingos Pinto & Cia., de conformidade com a revalidação celebrada, ficando,
portanto, essa firma sujeita à execução do contrato e à instalação do serviço de elevadores no prazo de 2 anos.
Os bondinhos do Monte Serrat só começaram a funcionar em 1927, explorados pela Sociedade Anônima Elevadores Monte
Serrat, dirigida por Antônio Alonso Gonzalez, Ciriaco Gonzalez, Manuel Valejo e irmãos Flores.
Em janeiro de 1946, assumiu individualmente a direção da sociedade, que passou a denominar-se Cassino Elevadores
Monte Serrat S.A., o sr. Manuel Valejo. Com a sua morte, assumiram a responsabilidade da empresa - que agora tem o nome de Monte Serrat - Cassino
Elevadores Ltda. - os filhos Gines, Manuel e Cândido Valejo.
Sendo o funicular inaugurado a 1 de junho de 1927, o Cassino foi inaugurado a 3 de setembro do mesmo ano, e
pertencia à mesma empresa proprietária dos bondinhos.
Este cassino funcionou até 1945, quando foi proibido o jogo neste tipo de estabelecimento, em todo o País.
Atualmente, no alto do edifício do antigo cassino, estão instalados retransmissores de TV da capital e os amplificadores radiofônicos da Secretaria
de Segurança, assim como um posto de observação do Serviço Semafórico de Santos.
Vista do porto santista, desde o alto do
Monte Serrat
Foto: Secom/Prefeitura Municipal de Santos |
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