A partir de 1886, a Pacific Steam Navigation Company (PSNC) passou a dar a seus novos navios nomes de consonância espanhola, que se
iniciavam sempre com a letra "O". Foi assim que apareceram na linha Leste sul-americana o Orellana e o Orcana (de 1893), o Oropesa (I) e o Orissa (de 1895), o Oravia (de 1897), o Orita (de 1903), o
Oriana, o Ortega e o Oronsa (de 1906), o Oropesa (de 1920), o Oruba e o Orcana (de 1921). Além dos acima citados, a PSNC mandou
construir outros transatlânticos que também levaram nomes com a letra "O", mas que nunca serviram a Rota de Ouro e Prata - Oroya, Orizaba, Orotava, Oruba (I), Ortona e Orca -, sendo estes utilizados em
outras linhas, principalmente para a Austrália.
Em 1902, a PSNC teve renovada, por mais 21 anos, a concessão real para o transporte do correio oficial em direção do Médio e Extremo Oriente, bem como para os portos de ambas as costas, Leste e Oeste, da América
Latina, e o símbolo da Coroa Real foi substituído pelo símbolo da Coroa de São Eduardo na bandeira da armadora.
Seus navios, porém, continuavam pintados de preto, seja no casco, nos mastros e nas chaminés, o único toque de cor diferente sendo uma estreita faixa verde na altura da linha de flutuação dos vapores.
Estaleiros - Desde sua fundação, a PSNC mantinha o hábito de encomendar a grande maioria das construções de seus navios a estaleiros escoceses que se situavam no Rio Clyde. Estes estaleiros levavam nomes bem
conhecidos no mundo da navegação anglo-saxônica: Tod & MacGregor, Smith & Rodgers, Robert Napier, Caird & Co., Randolph & Elder, John Reid e John Elder & Co.
No início da última década do século XIX, o tráfego de carga para a América do Sul e a Europa havia assumido tal proporção que os navios mistos (de carga e passageiros) da PSNC não eram mais suficientes para
satisfazerem a demanda crescente.
Foi então decidida, pela direção da empresa, a construção de quatro navios exclusivamente destinados a carga, e ordem em tal sentido foi dada aos famosos estaleiros irlandeses de Harland & Wolff. Tal ordem iniciava
uma proveitosa e duradoura colaboração entre a firma de Belfast e a PSNC, que duraria várias décadas.
Depois da construção desses quatro cargueiros em 1893, o Harland & Wolff entregou, no arco dos três anos seguintes, o Orellana, o Orcana, o Orissa, o Oropesa e o Oravia, todos
sendo transatlânticos com uma tonelagem de arqueação bruta próxima de 5 mil toneladas. Depois do Oravia, lançado em 1896, a PSNC cessou momentaneamente de passar novas ordens ao Harland & Wolff.
O Orita em foto de 1912, saindo do porto francês La Pallice
Foto: cartão postal de José Carlos Rossini
O maior - Em 1901, Lord Pirrie, grande animador e futuro diretor presidente do estaleiro britânico, conseguiu obter da PSNC uma nova ordem de construção, desta vez para um transatlântico de quase 10 mil
toneladas, que levaria o nome de Orita e que na época era o maior jamais encomendado pela armadora.
Construído durante o ano de 1902, o Orita foi lançado ao mar no dia 5 de novembro daquele ano, sendo completado em março do ano seguinte e realizando sua viagem inaugural na rota Liverpool-Valparaíso-Callao
via portos da costa Leste da América do Sul e Estreito de Magalhães. Nesse momento, o Orita era o maior navio de passageiros em termos de tonelagem e comprimento, guardando tal distinção até o aparecimento do Aragon,
em 1905.
O Orita era um belo navio de linhas simples, mas de bom gosto, balanceado em seu perfil de desenho, com uma superestrutura baixa e proporcional em relação aos dois mastros e à chaminé. Possuía três conveses
- o superior, o principal e o inferior - e cinco porões de carga, dois à popa e três à proa.
Tal como outros navios da PSNC, o Orita escalava num grande número de portos intermediários entre Liverpool e Callao. Estes portos de escala eram normalmente Bordeaux, La Coruña, Vigo, Lisboa, Pernambuco,
Bahia, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires, Porto Stanley (Ilhas Malvinas ou Falkands), Punta Arenas, Coronel, Talkahuano e Valparaíso (Chile).
Uma viagem entre Liverpool e Valparaíso custava, na época do lançamento do Orita em serviço, a soma de 65 libras esterlinas para o bilhete de primeira classe, 30 libras para a segunda classe e 18 libras para
a terceira. A viagem redonda Liverpool-Callao levava três meses.
Na concorrência - Em 1910, o controle das ações da companhia PSNC passou para as mãos da Royal Mail, embora fosse conservado o gerenciamento próprio da frota e das rotas por parte da
Pacific Steam.
Criou-se assim uma certa situação anômala, pois se na teoria a PSNC pertencia, a partir daquele ano, à Royal Mail, na realidade era também a sua grande concorrente, sobretudo na Rota de Ouro e Prata.
Dois outros grandes acontecimentos vieram marcar o destino da PSNC em 1914: a inauguração do tráfego marítimo do Canal do Panamá e a eclosão do primeiro conflito mundial.
Durante a guerra, o Orita foi requisitado pelo governo britânico através do serviço oficial do Shipping Controller, organização estatal que controlava a utilização de todos os navios mercantes das frotas
aliadas.
Foi então decidido que o Orita permaneceria em serviço na linha para a América do Sul, transportando cargas essenciais ao reabastecimento da Grã-Bretanha. Esta decisão se baseou na grande capacidade de carga
do navio, assim como na sua alta velocidade de cruzeiro.
Danos na guerra - O Orita atravessou o conflito sem sofrer nenhum dano, ao contrário de outros navios da PSNC. O Orellana (de 1893) foi torpedeado ao largo de Alicante (Espanha) e
considerado perdido, embora não tivesse afundado. O Orcana (também de 1893) foi afundado em junho de 1918 pelo submarino alemão U-82 ao largo da costa inglesa. O Orissa e o Oropesa (ambos de 1895) foram torpedeados e
afundados respectivamente em 1918 e 1917. O Ortona (de 1899) também foi torpedeado e afundado, em abril de 1917, no Mediterrâneo.
Além desses transatlânticos de passageiros, outros cargueiros puros também foram vítimas de ações bélicas. Findo o conflito, a PSNC transferiu o Orita para a linha Liverpool-Canal do Panamá-Callao e, em
fevereiro de 1919, o transatlântico transitou pela primeira vez através das comportas do canal.
Sua permanência nessa nova linha foi, porém, de curta duração, pois no fim do ano reverteria para o serviço de linha, que era o seu tradicional, isto é, ao longo da América do Sul.
Em 1925, os motores do Orita foram retirados e substituídos por novos motores diesel. No aspecto exterior, o transatlântico permaneceu praticamente igual. Dois anos mais tarde, em setembro de 1927, o
Orita realizou sua última viagem na Rota de Ouro e Prata, terminando assim o serviço, quase sem interrupções, de 24 anos nessa linha. Permaneceria inativo até 1931, quando foi finalmente demolido no porto de Morecambe (Inglaterra). |