A Pacific Steam Navigation Company (PSNC) foi uma das companhias de navegação mais gloriosas e famosas a ter navios na Rota de Ouro
e Prata. Fundada no longínquo ano de 1838, com capital de 250 mil libras esterlinas e sede social em Londres, a PSNC deve suas origens a um jovem empresário e homem do mar nascido em 1798, nos Estados Unidos da América.
William Wheelwright, originário de Newbury Port (estado de Massachusetts), realizou sua primeira viagem marítima como marinheiro de um pequeno veleiro de carga pertencente à família. Com apenas 19 anos de idade, já
era capitão de navio!
Cinco anos mais tarde, em 1823, sua barca à vela de comércio, o Rising Empire, naufragou no estuário do Rio da Prata e o jovem Wheelwright logo embarcou num outro veleiro com destino a Valparaíso, no Chile.
Foi seu primeiro contato com o porto e com o país que, anos mais tarde, marcariam seu destino e o nascimento da PSNC.
Dezoito meses depois de sua fundação, a companhia PSNC recebeu a cobiçada autorização da Coroa Britânica para operar e, com dois pequenos navios, o Peru e o Chile, ambos construídos na Inglaterra, foi
inaugurado o serviço na linha Valparaíso-Callao (Peru).
O primeiro Oropesa, num cartão postal da armadora em 1914, afundado na Primeira Grande Guerra
Frota - Em 1860, 22 anos após a sua fundação, a PSNC possuía uma frota de 12 navios de pequena tonelagem, mas todos eles com casco de ferro e máquina a vapor com rodas de propulsão.
Esses navios asseguravam o serviço de ligação entre portos chilenos e peruanos até o Panamá, onde em 1854 havia sido inaugurada a linha férrea ligando o Atlântico ao Pacífico via o Istmo do Panamá.
Esta estrada de ferro, cuja construção foi uma das mais difíceis jamais realizada, era o elo terrestre da rota Europa-Panamá-Costa ocidental da América do Sul e a PSNC era a empresa que tinha virtualmente o
monopólio do transporte marítimo nas águas do Pacífico que banhavam a costa Oeste sul-americana.
Em 1867, os acionistas da PSNC concordaram com a abertura de uma nova linha de navegação para seus navios, linha esta que deveria ligar os portos de Liverpool (Inglaterra) e Valparaíso via Oceano Atlântico, costa
Leste da América do Sul e Estreito de Magalhães.
No ano seguinte, tendo a bordo 170 passageiros, o vapor Pacific realizou a primeira viagem dessa nova rota, com escalas em Bordeaux (França), Lisboa (Portugal), Ilhas do Cabo Verde, Rio de Janeiro,
Montevidéu (Uruguai) e Punta Arenas (Chile).
Durante mais de 50 anos, a partir dessa primeira viagem, a PSNC serviu regularmente essa rota, utilizando nesse período 45 transatlânticos, cada um maior que o precedente, em termos de tonelagem e capacidade de
passageiros.
Letra - Em 1893, o Orellana e o Orcana, recém-construídos, inauguraram na Rota de Ouro e Prata o costume da empresa de dar a seus navios nomes de consonância espanhola, começando com a letra
"O".
Em 1895, surgiu o primeiro Oropesa (I), de 5.203 t.a.b., que em 1915 passaria sob o pavilhão francês com o nome de Champagne e que, dois anos mais tarde, acabaria sendo torpedeado e afundado no Mar da
Irlanda por um submarino alemão.
Para relembrar o original Oropesa (I), a PSNC deu o mesmo nome ao seu primeiro grande transatlântico construído após o fim da Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Foi o estaleiro de Cammel, Laird & Co., de
Birkenhead (Inglaterra), o responsável pela sua construção.
Em dezembro de 1919, o Oropesa (II) foi lançado ao mar e em setembro do ano seguinte realizou a viagem inaugural, entre Liverpool e Buenos Aires, com a clássica pontualidade britânica nos seus horários.
O Oropesa teve um fim trágico no decorrer da Segunda Guerra Mundial
Na concorrente - Arrendado pela PSNC à sua companhia rival, a Royal Mail, o Oropesa, logo em 1921, mudou prioritariamente de rota e serviço, sendo utilizado na linha entre
Hamburgo, Southampton e Nova Iorque até fins de 1922.
Nesse ano e no mês de novembro foi revertido à PSNC, que o colocou novamente na linha para a América do Sul, fazendo de Valparaíso o último porto de escala, ao invés de Buenos Aires.
O Oropesa era um navio de aspecto comum, característica de todos os navios construídos imediatamente após o período bélico, superestrutura baixa e com capacidade de carga equivalente a 15 mil metros cúbicos.
Seus salões interiores, embora confortáveis, nada tinham de excepcional ou luxo, característica de todos os navios construídos imediatamente após o período bélico.
Já em 1924, sua utilização não era muito rentável devido ao grande consumo de carvão, o que levou a empresa armadora a substituir as máquinas a vapor por outras mais modernas, a óleo combustível.
Em outubro de 1926, o Oropesa realizou sua última viagem na Rota de Ouro e Prata, sendo em seguida empregado, até 1931, entre Liverpool e Valparaíso via Canal do Panamá.
Depressão - A crise econômica mundial, provocada pela violenta queda dos preços das ações da Bolsa de Nova Iorque, teve uma seqüela negativa para todo o transporte marítimo, seja o de carga, seja o de
passageiros.
A PSNC não escapou à regra geral e vários navios de sua frota foram imobilizados nos chamados anos de depressão. O Oropesa ficou imobilizado durante sete anos, entre 1931 e 1937, numa curva do Rio Dart
(Inglaterra), esperando tempos melhores.
Antes de ser posto em naftalina, teve, porém, o privilégio de ter a bordo o príncipe de Gales, herdeiro do trono do Reino Unido, e o irmão deste, o príncipe George, que tempos mais tarde se tornaria Sua Majestade,
o rei da Inglaterra.
Em 1937, o Oropesa voltou a navegar, sendo reutilizado na linha para a costa Oeste da América do Sul, via Canal do Panamá.
Ao eclodirem as hostilidades européias em setembro de 1939, o Almirantado britânico requisitou uma série de navios de passageiros para serem transformados em cruzadores-auxiliares da Marinha, ou em
navios-transporte-de-tropas. Foi nessa última condição que o Oropesa foi recondicionado e empregado sucessivamente nas campanhas da Noruega e do Atlântico Norte.
Nos primeiros dias de dezembro de 1939, viajando num comboio de 26 navios com destino a Halifax, o Oropesa entrou em colisão em plena noite, com o cargueiro Manchester Regiment, de bandeira também
britânica. Em conseqüência desta colisão, o navio da Manchester Lines afundou e o Oropesa ficou seriamente danificado.
Afundado - O fim do Oropesa foi trágico. O submarino alemão U-96, do tipo VIIC, de 770 toneladas, zarpou no dia 9 de janeiro de 1941 da base naval de Lorient (na costa francesa), em poder dos
alemães. Seu comandante era o capitão-tenente Lehmann-Willenbrock, que realizava, junto com seu submarino, sua segunda patrulha de guerra. Na primeira, realizada em dezembro de 1940, havia conseguido afundar cinco navios mercantes e danificar
outros dois.
No dia 16 de janeiro, um vigia avista o navio. É pouco mais da meia-noite, o céu é escuro, negro, e o mar, agitado. O navio avança com dificuldade no meio das ondas e da espuma destas. É um solitário e sua rota
indica que ele procede da direção Sul.
Lehmann-Willenbrock avança com cautela à superfície e manobra para se posicionar para o ataque sem provocar seu avistamento. Às 4 horas, dispara um torpedo e atinge à meia-nau o Oropesa. Este pára as
máquinas e aderna para bombordo. O comandante alemão dispara um outro torpedo, mas não acerta o alvo. Às 6 horas, dois outros torpedos dão o golpe de misericórdia ao transatlântico, que desaparece no Atlântico, próximo da Escócia (na posição 56º
30' de latitude Norte e 11º de longitude Oeste).
Das 250 pessoas a bordo, entre as quais 40 passageiros, 106 perderam suas vidas no ataque. O Oropesa havia saído do porto de Mombaça, no Quênia, para o Reino Unido, levando a bordo 9 mil toneladas de carga
geral, milho e cobre. Quanto ao U-96 e seu comandante, estes afundariam no dia seguinte um outro transatlãntico da Rota de Ouro e Prata, o Almeda Star. |