A Compagnie de Navigation Sud Atlantique (CNSA) foi fundada em 1910 por um grupo de armadores franceses associados a dois grandes
bancos do mesmo país, com a finalidade de retomar a concessão dos serviços oficiais do correio francês em determinadas linhas. Esta concessão estava confiada, até então, em regime de monopólio, a outra empresa francesa, a bem conhecida
Messageries Maritimes (MM). O governo francês arbitrou a questão e, após longo período de estudo, decidiu dar à Sud Atlantique os serviços postais para os
países da América do Sul e manter com a MM a concessão de todas as outras linhas mundiais. As autoridades da França coligaram a concessão sul-americana com a obrigação da nova empresa de manter uma ligação quinzenal entre os portos do hexágono
gaulês e aqueles do continente da América Meridional.
A decisão do governo foi ratificada pelo Parlamento em 1911 e, logo no dia seguinte, a Sud Atlantique assinou contrato com o estaleiro Chantiers de L'Atlantique, do porto de Saint Nazaire, para a construção de dois
transatlânticos, que deveriam ser batizados Lutetia e Gergovia.
Ao mesmo tempo, ordenou-se, a outro estaleiro francês, o Forges & Chantiers de La Mediterranée, de La Seyne (Norte da França) a construção de mais dois navios, o Gallia e o Massilia.
Esses quatro vapores de passageiros deviam, por cláusula do contrato de concessão postal, ter mais de 14 mil toneladas, 175 metros de comprimento e capacidade de desenvolver, no mínimo, 18 nós de velocidade.
O La Champagne teve sua vida útil terminada por um encalhe em 1915
na entrada do porto de Saint Nazaire, onde fora construído
Aquisições - Mas, enquanto esses quatro transatlânticos eram construídos, a Sud Atlantique devia servir a rota e, para tanto, um número relativamente grande de navios de segunda mão deveriam ser adquiridos,
isto malgrado houvesse poucos navios disponíveis no mercado.
A Orient Line, britânica, vendeu o seu Ormuz, rebatizado Divona pela CNSA; a Compagnie Generale Transatlantique (CGT), armadora francesa, vendeu o La Gascogne e o La Bretagne; a Union
Castle Line, inglesa, cedeu o Tintagel Castle e o Avondale Castle, rebatizados respectivamente Liger e Garonna; a Bibby Line, também inglesa, se desfez do seu veterano navio Staffordshire, que recebeu o nome de
Samara, enquanto a City Line negociou o City of Corinth, batizado Sequana pela Sud Atlantique.
Outras aquisições se seguiram em breve espaço de tempo, e assim foi incorporado o Burdigala (ex-Kaiser Friedrich, da NDL alemã) e o La Champagne, afretado à CGT (sendo
este navio gêmeo do La Gascogne e do La Bretagne). Uma das características do maquinário de propulsão do La Champagne era a sua disposição vertical no interior do casco, alcançando a altura do convés superior do navio.
A viagem inaugural da Sud Atlantique para a Rota de Ouro e Prata foi realizada, no entanto, por um navio afretado, o Atlantique, que pertencia à empresa rival, a MM, e que em setembro de 1912 partiu de
Bordeaux com destino ao Atlântico Sul.
Em ordem cronológica de saídas, o Atlantique foi seguido pelo Burdigala, em 5 de outubro do mesmo ano; pelo Liger, em 12 de outubro; Divona, em 19 de outubro; Garonna, 26 de
outubro; La Gascogne, em 2 de novembro; La Bretagne, em 16 de novembro; Sequana, em 23 de novembro; La Champagne, em 30 de novembro de 1912.
Acidentes - O curioso da história do La Champagne é que, ao realizar sua primeira e única viagem na Rota de Ouro e Prata, ele quase afundou, abalroado, no porto de escala de Lisboa, pelo vapor
Desna, da Royal Mail.
Não foi, porém, este o único acidente de sua longa carreira. Lançado ao mar em 17 de abril de 1885, o La Champagne parou na rampa, bloqueado por um cabo. Só um mês depois, em 15 de maio, é que entrou
finalmente em contato com a água. Completado e entregue um ano depois, o navio efetuou a sua primeira viagem, inaugurando, ao mesmo tempo, o serviço postal entre Le Havre e Nova Iorque por conta de sua proprietária, a CGT. Esta linha era assegurada
pelos "quatro magníficos", como eram chamados os navios La Champagne, La Bretagne, La Bourgogne e La Gascogne.
No dia 7 de maio de 1887, outro acidente, quando o navio a vapor da Chargeurs Reunis, o Ville de Rio de Janeiro, colidiu e foi afundado pelo La Champagne. O desastre ocorreu nas proximidades de
Barfleur, e o La Champagne acabou encalhando em um banco de areia, próximo daquele porto, de onde foi retirado alguns dias mais tarde e levado a reboque para Le Havre.
Onze anos mais tarde, em dezembro de 1898, quando navegava ao lado de Terra Nova (Canadá), o transatlântico perdeu seu único hélice e ficou à deriva, fora das rotas principais, com mais de mil passageiros a bordo.
Seis dias depois, o vapor inglês Roman avistou o La Champagne à deriva e o rebocou até o porto canadense de Halifax. A tragédia havia sido evitada por pouco.
Outro acontecimento na sua história: transportou, em agosto de 1900, da França para a China, 1.200 homens voluntários para a Guerra dos Boxers.
Em 1905, foi retirado da linha de Nova Iorque para servir à ligação entre os portos de Saint Nazaire e de Veracruz (México), recebendo, nessa ocasião, uma reforma total e um novo convés.
Saint Nazaire, em cartão postal francês do início do século XX:
ali começou e terminou a história do La Champagne
Final - Após sua viagem de retorno da América do Sul, em janeiro de 1913, o La Champagne voltou a fazer a linha de Antilhas e México, por conta da CGT. O início da Primeira Guerra Mundial não alterou
o seu uso, porém a má sorte era companheira do transatlântico, e isto iria provocar o seu fim.
No dia 28 de maio de 1915, ao retornar de uma viagem à América Central, o La Champagne encalhou na entrada do porto de Saint Nazaire e seu casco se abriu em duas partes. Os 950 passageiros a bordo foram
retirados sem maiores problemas, mas, não foi mais possível salvar o transatlântico, pois a brecha era grande demais. Meses mais tarde, ele seria desmontado in loco, no chamado Recife de Cassino, não longe do estaleiro de onde havia sido
lançado ao mar. |