O navio pertencia à Compagnie de Navigation Sud Atlantique, da França. Ele começou a atuar em 1913 e foi afundado na 1ª Guerra Mundial Foram construídos para serem os três mosqueteiros franceses da Sud Atlantique na linha da América do Sul: Lutetia, Gallia e Massilia. Do trio,
lançado em serviço entre novembro de 1913 (os dois primeiros) e em setembro de 1902 o terceiro, só o Gallia não teve a sorte de poder levar por muito tempo o galo de suas chaminés (galo este que era o símbolo da armadora e ao mesmo tempo de
seu país) até as águas do Brasil e do Prata.
O Gallia tinha 175 metros de comprimento e foi construído na França
Foto: acervo de cartões postais do autor, José Carlos Rossini, publicada com a matéria
Sua vida útil como transatlântico de passageiros na Rota de Ouro (Brasil) e Prata (Argentina) foi curta, exatamente apenas nove meses.
Tal como o pioneiro Lutetia, fora construído, dentro de padrões de requinte e de luxo, por um estaleiro francês, o Forges Chantiers de la Mediterranée, na localidade de La Seyne.
Dotado de maquinário a vapor de expansão tríplice, possuía três hélices de bronze, uma central e duas laterais. Sua velocidade máxima podia alcançar os 20 nós (37 quilômetros horários), enquanto a velocidade de
cruzeiro situava-se entre 17 e 18 nós (31,5 quilômetros horários).
Foi lançado ao mar no dia 26 de março de 1913, seu nome uma homenagem ao apelativo que os conquistadores romanos deram ao Hexágono francês. Seis meses depois, já pronto, realizava sua viagem inaugural na forma de
um cruzeiro marítimo pelas águas do Mediterrâneo e entre tantos personagens importantes convidados para a ocasião encontrava-se a bordo o doutor De Monzie, secretário de Estado da Marinha Mercante da França.
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Os doqueiros recebiam os vapores com gritos imitando o canto do galo
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Em 27 de novembro do mesmo ano, zarpava de Bordeaux, França, com destino à costa Leste da América do Sul, realizando sua primeira viagem nesta linha, precedido por apenas três semanas, pelo Lutetia. O par
tornou-se rapidamente favorito entre os clientes facultosos da América do Sul, pois a bordo reinava francamente uma atmosfera tipicamente latina, isto é, descontraída e festiva.
Este fator, aliado ao tradicional bom gosto da cozinha francesa e ao charme das senhoras e senhoritas daquele país, fizeram do Lutetia e do Gallia dois navios de travessia transatlântica por
excelência, embora ambos tivessem realizado poucas viagens no ano de 1914.
As escalas entre Bordeaux e Buenos Aires (Argentina) e vice-versa eram somente três: Dacar (Senegal), na África; Rio de Janeiro e Montevidéu (Uruguai), o par não realizando escalas em Santos, porto este que era
servido pelos navios de segunda linha da Sud Atlantique. A travessia oceânica entre Bordeaux e o Rio durava apenas oito dias.
Logo após realizar sua viagem inaugural, o Gallia (cujo maquinário havia acusado alguns problemas) foi recolhido ao estaleiro construtor para que fossem realizados trabalhos de acerto nas máquinas.
Aproveitou-se a ocasião para aumentar o número de cabinas de primeira classe, visto a demanda inicial, e para retirar das três chaminés as enormes figuras de galo que as ornavam.
A propósito desses galos, uma pequena anedota... A cada escala nos portos sul-americanos das viagens inaugurais do Lutetia e do Gallia, os doqueiros não deixavam por menos e recebiam os vapores que
atracavam com grandes gritos, imitando o canto da ave e levantando os braços em guisa de asas.
O cômico dessas recepções não foi a gosto, nem dos oficiais franceses, nem dos passageiros embarcados, o que levou a armadora à decisão de suprimir os galos vermelhos das chaminés!
Terminados os trabalhos de reforma, o Gallia retornou à Rota de Ouro e Prata, realizando, no total, mais sete viagens redondas, antes da declaração de guerra entre os Aliados (Inglaterra, França e
Rússia) de um lado e a Alemanha e o Império Austro-Húngaro do outro. Suspenso o serviço de linha de todos os navios batendo bandeira francesa, o Gallia foi logo requisitado pelas autoridades navais e transformado em cruzeiro auxiliar com
acomodações para o transporte de tropas, função que passou a realizar a partir de outubro de 1914.
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A combinação do torpedo e do submarino
deu origem à mais temida arma naval
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A utilização da arma submarina revolucionou a guerra no mar, já a partir do início do conflito.
Os primeiros passos em direção da construção de uma embarcação submergível, que pudesse navegar sob as águas e que fosse controlada na profundidade, foram dados nos anos finais do século 18. Um dos pioneiros no
desenvolvimento da idéia do submarino foi o engenheiro norte-americano Robert Fulton. Os protótipos construídos no decorrer do século 19 eram limitados em suas capacidades operacionais e não possuíam o desenho ideal, sendo muito largos e pesados!
No início do nosso século, isto é, o 20, John Philip Holland já havia desenhado e feito construir submarinos que eram perfeitamente operacionais, dotados de torpedos do tipo locomotiva, isto é, movidos por seu
próprio hélice de propulsão.
A invenção deste tipo de torpedo deve-se a outro engenheiro naval, britânico, o senhor Robert Whitehead. Este engenho bélico, possuindo hélices que giravam entre si em sentido inverso e que era movido por um motor
com sistema de relógio, teve sua produção em série iniciada pelo Arsenal Real da Marinha Britânica em meados da década de 1870.
A combinação do desenvolvimento paralelo do submarino e do torpedo deu origem à mais temida arma naval de toda a história marítima do homem, pois se os poderosos canhões de superfície dos navios de guerra haviam
dominado os mares durante séculos, a ameaça invisível do par submarino-torpedo exacerbava o perigo, pois que o adversário não podia nem ser avistado e nem ser evitado.
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O Gallia foi requisitado pelo governo e transformado em cruzador auxiliar
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A guerra naval do período 1914-1918 apresentou, em relação a todos os outros conflitos que a precederam, uma diferença capital. Ela se desenrolou no espaço de três dimensões: nos ares, na superfície dos mares e nas
profundezas do mesmo. Pela primeira vez na história da humanidade, foram utilizados aviões e submarinos em grande escala num conflito bélico de dimensões planetárias.
O primeiro sucesso no emprego do submarino na guerra aos navios mercantes foi conseguido pelo submarino alemão U-17, cujo comandante, tenente Feldkirchner, interceptou o pequeno cargueiro britânico Glitra,
em outubro de 1914, e ordenou que sua tripulação abandonasse o navio e provocou seu afundamento, abrindo as válvulas internas do vapor.
O Glitra foi para o fundo com sua carga de máquinas de costura e centenas de caixas de bom uísque escocês, a 14 milhas (26 quilômetros) a Sudoeste de Stavanger (Noruega), para onde se dirigia.
Este sucesso do U-17 não deve ser confundido com o do U-21 (do comandante Hersing), que em 5 de setembro atingiu, com o disparo de um torpedo, o cruzador de guerra britânico Pathfinder. Este
tornou-se a primeira unidade naval bélica afundada por um submarino em todos os tempos.
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A capacidade de transporte de passageiros do navio Gallia era de 1.086
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O ás dos ases da arma submarina alemã na Primeira Guerra Mundial foi o comandante Lothar von Arnauld De La Perière, que, de janeiro de 1916 até o fim do conflito, em novembro de 1918, conseguiu, com dois U-boats
(submarinos alemães) postos sob seu comando (o U-35 e o U-139), um impressionante recorde de afundamentos de vapores que não seria batido nem durante o conflito de 1939-1945.
Lothar De La Perière afundou nada mais, nada menos do que 200 navios, representando mais de 500 mil toneladas! Entre esses navios, dois se destacavam na sua lista de sucessos: os transatlânticos de luxo Provence
e Gallia. Este último foi despachado para o fundo do mar com um único torpedo, no dia 4 de outubro de 1916, ao largo da costa Oeste da Sardenha, na altura da Ilha de San Pietro, quando na ocasião era utilizado como transporte de tropas.
O Gallia havia zarpado de Toulon (França) para Salônica (Grécia), levando a bordo 2.300 soldados franceses e sérvios, que se destinavam ao combate pela causa aliada na campanha da Grécia, e 450 tripulantes.
Além dessas 2.750 pessoas, o Gallia transportava também grande quantidade de artilharia, ligeira e pesada, mas sem as munições, estas tendo sido embarcadas em outro vapor.
De La Perière avistou o transatlântico, navegando em alta velocidade, 18 nós (33 quilômetros horários), e realizando curso em zigue-zague, o que praticamente o tornava impossível de ser atingido.
Foi somente por circunstâncias de sorte que, em dado momento, a rota em ziguezague levou o Gallia face ao U-35. De La Perière estimou então a distância e escolheu um bordo no qual estaria após a
próxima manobra de zigue-zague.
Quando o Gallia iniciou o movimento, De La Perière lançou o único torpedo de que ainda dispunha em direção à rota que ele imaginou ia ser feita. Deu certo. O impacto, a boreste (lado direito), a três quartos
de popa (ré), revelou-se ser fatal para o grande navio, que começou a adernar.
O pânico eclodiu a bordo, junto com o torpedo. Numa total confusão, todos procuravam alcançar um salva-vida. Centenas de homens jogavam-se ao mar e muitos botes, abaixados na precipitação, viraram de bordo na água.
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Os sobreviventes foram recolhidos por diversas embarcações que acorreram em socorro
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Cerca de 1.500 soldados e oficiais não sobreviveram à tragédia, além de 250 homens da tripulação. Silhuetado contra o sol poente, o Gallia mergulhou de popa no mar, com a proa (frente) subindo lentamente aos
ares, para mergulhar em seguida na vertical e desaparecer para sempre.
Os sobreviventes foram recolhidos por diversas embarcações que acorreram em socorro.
O comandante Lothar von Arnauld De La Perière, da Alemanha,
foi o recordista de afundamentos de navios
Foto: reprodução, publicada com a matéria
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