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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Massilia

1920-1944

A Compagnie de Navigation Sud Atlantique, a fim de fazer face às exigências do governo da França para a concessão de um serviço postal oficial para a América do Sul, mandou construir, em 1912, quatro novos transatlânticos com 14 mil toneladas e velocidade superior a 18 nós (33 km/h), ordenados a dois estaleiros franceses.

O primeiro a ser entregue foi o Lutetia, de 14.783 toneladas, construído pelo Chantier de L'Atlantique, em Saint Nazaire, e que realizou sua viagem inaugural, para o Brasil e o Prata, em 1º de novembro de 1913. Ao retornar dessa viagem, o Lutetia colidiu, ao sair do porto de Lisboa, com o cargueiro grego Dimitrius, afundando-o. O próprio Lutetia ficou danificado e teve que retornar à capital portuguesa para pequenos reparos.

O segundo da série foi o Gallia, de 14.966 toneladas, que saiu dos estaleiros Forges, em setembro de 1913, para um cruzeiro inaugural no Mediterrâneo. Zarpou em 27 de novembro para a América do Sul.

Dificuldades - Um ano após a inauguração dos seus serviços na Rota de Ouro e Prata, a CNSA já estava em dificuldades técnicas e financeiras. É preciso ressaltar que essas dificuldades provinham não da incapacidade administrativa, mas sim, da sorte adversa, que havia provocado acidentes com nada menos do que seis de seus navios. Em dezembro de 1913, a direção operacional da frota da CNSA foi entregue à Compagnie Generale Transatlantique (CGT).

Com o advento das hostilidades na Europa, em agosto de 1914, o tráfego de passageiros no Atlântico, feito por navios de bandeira francesa, foi interrompido e vários transatlânticos daquele país foram transformados, ou em navios de transporte, ou em cruzadores-auxiliares-navais.

O Lutetia e o Gallia passaram a operar na primeira condição, e o destino do Gallia foi selado por um torpedo disparado pelo U-35, submarino alemão comandado pelo famoso capitão Lothar von Arnauld de la Perière, o ás dos comandantes alemães e que afundou o maior número de navios inimigos no decorrer da Primeira Grande Guerra.

Era o dia 4 de outubro de 1916, no fim da tarde, ao largo da costa da Sardenha (Itália). O Gallia transportava 2.750 pessoas, a maioria sendo tropas francesas e sérvias, para o porto de Salônica (Grécia).

Apesar de estar navegando em alta velocidade, 18 nós, foi alcançado pelo disparo desse torpedo e afundou em meio ao pânico e à desordem dos que estavam a bordo, 1.500 dos quais desapareceram junto com o navio.

O Lutetia foi, por sua vez, transformado, em 1915, em cruzador auxiliar e conseguiu sobreviver à guerra.


O Massilia era um dos maiores transatlânticos na Rota de Ouro e Prata, na década de 1920

Cinco anos parado - O Massilia, terceiro da série, foi lançado no porto de La Seyne (França), em 10 de abril de 1914, isto é, dois meses antes do início do conflito. Tal acontecimento fez com que o término do transatlântico fosse interrompido, e o Massilia permaneceu no estaleiro por cinco anos, inacabado.

Foi somente no final de 1919 que os trabalhos recomeçaram e foram necessários ainda mais dez meses para completá-lo. Em 30 de setembro de 1920, o Massilia realizou as provas de mar, quando registrou uma velocidade máxima de 21 nós (30 km/h).

Um mês mais tarde, o Massilia saiu de Bordeaux, com destino aos portos da costa Leste sul-americana. Nessa viagem inaugural, bateu o recorde na travessia entre Lisboa e o Rio de Janeiro, realizando a passagem em 9 dias e 19 horas. Chegou ao Rio de Janeiro em 13 de novembro e, voltando do Prata, nova escala na capital brasileira da época, em 27 do mesmo mês, não escalando em Santos.

Prestígio - O Massilia e o Lutetia elevaram, na década de 20, o prestígio da Sud Atlantique de tal modo que seu emblema, representado pelo galo francês, passou a ser símbolo de qualidade de serviço na linha transatlântica para a América do Sul.

Reinava, nesses anos de folia, uma atmosfera leve, luminosa e graciosa a bordo desses dois transatlânticos, atmosfera essa bem diferente da dos grandes navios ingleses ou alemães que faziam a mesma rota, onde predominavam o rigor, a sobriedade, a retenção e a formalidade pessoal.

O par, Massilia e Lutetia, manteve durante a década de 20 uma imagem de "navios do sol", de toque humano, onde a alegria e a descontração eram espontâneas. Essa atmosfera era reforçada pelo próprio desenho desses transatlânticos, onde a luz natural penetrava em grande quantidade nos salões, terraços, apartamentos de luxo e cabinas.

Nos anos 20, a CNSA utilizou, além do Massilia e do Lutetia, mais três navios de passageiros na Rota de Ouro e Prata. Um deles, o Alba, ex-Sierra Ventana. que se encontrava em Bremen na data do início da Primeira Guerra Mundial, fora requisitado pela Marinha de Guerra alemã e transformado em navio-hospital. Nessa função sobreviveu às hostilidades e, no fim do conflito, foi devolvido ao armador alemão, que por sua vez decidiu vendê-lo à Sud Atlantique em 1920.

Os outros dois navios foram construídos por ordem da CNSA em 1922 e 1923, recebendo respectivamente os nomes de Mosella e Meduana, dois transatlânticos de média tonelagem, com capacidade mista, de passageiros e carga.

O Massilia permaneceu na Rota de Ouro e Prata até o início da Segunda Guerra Mundial, tendo o Lutetia, no entretempo, sido retirado de serviço em 1931, substituído pelo super-transatlântico L'Atlantique, de 40.945 toneladas - navio tragicamente destruído por um incêndio, dois anos após o seu lançamento.

Na guerra - Em abril de 1940, por ocasião da Campanha da Noruega, o Massilia foi transformado em navio-transporte-de-tropas, saindo de Brest para Narvick com 3.000 militares a bordo, sob escolta e em comboio.

Em junho de 1940, quando as tropas alemãs se encontravam às portas de Paris, e após a dissolução do gabinete do primeiro-ministro Reynaud, o Massilia embarcou 150 deputados do governo francês que tentavam escapar para Casablanca (Marrocos), onde não conseguiram receber autorização para desembarcar, sendo obrigados a retornar a Marselha no mesmo navio.

Logo em seguida a esse episódio, o Massilia realizou uma viagem, de ida e volta, para Liverpool, a fim de embarcar milhares de soldados franceses que haviam escapado para a Inglaterra, via Dunquerque, e que retornavam à pátria após a criação do governo de Vichy. O agravar-se da guerra no Mediterrâneo forçou o navio a permanecer inativo por um tempo, atracado no porto de Marselha, aguardando os acontecimentos.

Em 1942, quando as tropas alemãs penetraram também no Sul da França, o Massilia foi transformado em alojamento para os soldados da Wehrmacht e, nessa situação de hotel flutuante, permaneceu até agosto de 1944.

Nesse mês, os soldados lançaram a Operação Dragão, que consistia no desembarque de 400 mil homens, 69 mil veículos militares e 500 mil toneladas de material na costa meridional da França, entre os portos de Cannes e Toulon. Em um gigantesco esforço para libertar a França, fizeram um movimento de "pinça", com tropas desembarcando ao Norte, na Normandia, e no Sul, na Provença.

Antes de fugirem do porto de Marselha, face à ofensiva das tropas aliadas, os alemães fizeram implodir o "ex-hotel" Massilia, como forma pouco elegante de pagar a conta final.


"Massilia - Este é um navio cheio de histórias. A começar por sua entrega ao tráfego. Construído em 1914, a Compagnie de Navigation Sud Atlantique esperou pelo fim da I Guerra Mundial, para lançá-lo ao mar só em 1920, na rota entre Bordeaux, Vigo, Lisboa, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires. Era um navio imponente, de 15.147 toneladas, 175 metros e três chaminés. Na época bateu o recorde de travessia do Atlântico, entre Lisboa e Rio, em 9 dias e 19 horas. Em novembro de 1928 protagonizou no Porto de Santos o famoso Crime da Mala, em que o italiano Giuseppe Pistone matou a mulher, Maria Mercedes Féa, a colocou em uma grande mala e tentou embarcá-la com destino à França. Na II Guerra transportou em 1940 os membros do Parlamento Francês, até Casablanca, para conferência mundial. Na volta, recebeu soldados franceses em Dunquerque. Os alemães, que ocuparam a França, o transformaram em navio-hotel para suas tropas, em Marselha. Em 1944, os alemães fizeram rombos em seu casco para que afundasse. No final da guerra, foi reflutuado mas, logo depois, demolido".

Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 13/3/2006)

Massilia:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: francesa
Armador: Compagnie de Navigation Sud Atlantique
País construtor: França
Estaleiro construtor: Forges & Chantiers de La Mediterranée (porto: La Seyne)
Ano da viagem inaugural: 1920
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 15.147
Comprimento: 176 m
Boca (largura): 19 m
Chaminés: 3
Mastros: 2
Velocidade média: 21 nós
Máquina: tríplice, com potência de 26.000 HP
Tripulantes: 410
Passageiros: 943 (chegando a 1.930 após a reforma)
Classes: 1ª - 464
                2ª - 129
                3ª - 350

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 10/9/1992