Por volta do início do século XX, a SGTM já havia atingido crescimento considerável, sua frota em 1900 consistia de 22 navios, com uma tonelagem total
superior a 550 mil toneladas de arqueação bruta. O início do primeiro conflito mundial em 1914 encontrou uma frota reduzida em tonelagem, mas não no número de unidades, respectivamente 150 mil
toneladas de arqueação bruta para 25 navios.
Nesta época, o Salta, de 7.384 toneladas, era o maior vapor da SGTM para a linha da América do Sul. Convertido em 1914 em navio-hospital sob o pavilhão britânico, o Salta afundou em abril de 1917,
após chocar-se com uma mina no porto de Le Havre (França).
Outros seis navios de passageiros ou mistos e mais cinco de carga pertencentes à SGTM seriam vítimas do conflito, representando mais do que a metade da tonelagem total da armadora antes da guerra.
Findo o conflito em 1918, foi necessária uma reorganização das linhas face à escassez de tonelagem disponível. Das destinações da empresa, foram asseguradas as viagens para os portos da Argélia e os da América do
Sul, estas duas linhas tendo sempre sido o esteio das suas atividades.
Para compensar as perdas bélicas da SGTM, o governo francês entregou-lhe alguns navios ex-alemães, mas, mais importante do que isto, decidiu subvencionar a construção de sete novos navios de passageiros ou mistos
(que também transportam produtos) e outros seis destinados exclusivamente para carga geral.
Foram assim construídos, em vários estaleiros britânicos e franceses e no decorrer da segunda década, os seguintes navios da SGTM:
Mendoza, transatlântico de passageiros de 8.199 t.a.b.,
Mont Angel, cargueiro de 4.572 t.a.b.,
Mont Viso, cargueiro de 4.531 t.a.b.,
Alsina, de passageiros, de 8.404 t.a.b.,
Guaruja, misto de 4.282 t.a.b.,
Ipanema, misto de 4.282 t.a.b.,
Capitaine Paul Lemerle, cargueiro de 4.945 t.a.b.,
Florida, de passageiros, de 9.331 t.a.b.,
Sidi Aissa, cargueiro de 2.576 t.a.b.,
Sidi Okba, cargueiro de 2.824 t.a.b.,
Sidi Bel Abbes, cargueiro de 4.392 t.a.b.,
Campana, de passageiros, de 10.816 t.a.b.
Terminados e entregues todos os navios mencionados, a SGTM havia reconquistado um lugar de honra entre as maiores empresas armadoras francesas, sendo só superada pelas três grandes de sempre: a CGT, a
Messageries Maritimes e a Chargeurs Reunis.
O Florida, com duas chaminés, no início de sua longa carreira
Marca - Os transatlânticos Mendoza, Alsina, Florida e Campana possuíam todos o mesmo desenho de base, construção sólida, mas de linhas não-estéticas. Tinham a tradicional marca da
austeridade britânica nas construções da década de 20, desenho sóbrio e extremamente funcional, com sete decks (conveses ou andares), dos quais três em superestrutura do casco.
O Mendoza tinha a menor tonelagem dos quatro e foi o protótipo da série. Todos tinham popa do tipo cruzador e só o Florida, dos quatro, não foi construído em Newcastle, sendo um produto dos estaleiros
de Saint Nazaire.
Construído especificamente para a Rota de Ouro e Prata, o Florida foi lançado ao mar em janeiro de 1926. Onze meses mais tarde, realizou sua viagem inaugural entre Gênova, Marselha, Barcelona, Cádiz, Dacar,
Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires.
Após a entrada em serviço do Campana em outubro de 1929, a Société Générale de Transports Maritimes assegurava, com seus quatro transatlânticos, duas saídas mensais de cada um dos portos na rota, e isto, é
claro, nos dois sentidos (Norte-Sul e Sul-Norte) do tráfego.
Acidentes - A carreira do Florida foi marcada por acidentes. No dia 2 de abril de 1931, quando navegava com neblina ao largo do porto de Málaga (Espanha), teve uma colisão com o porta-aviões britânico
HMS Glorius, que o investiu a grande velocidade.
Em consequência do acidente, o Florida sofreu uma importante avaria e perderam a vida 32 pessoas nele embarcadas. O transatlântico só não foi perdido graças à intervenção de dois contratorpedeiros que
escoltavam o porta-aviões e que o rebocaram de urgência até o porto de Málaga. Foi reparado mais tarde em Marselha.
No período bélico (1939-1945), o Florida foi quase afundado em duas ocasiões: na primeira escapou por pouco a dois torpedos que lhe foram disparados pelo submarino italiano Provana. Era o dia 16 de
junho de 1940 e o transatlântico viajava no Mediterrâneo, de Orã (Argélia) a Marselha. O estado de beligerância entre a França e a Itália datava de poucos dias antes, e o Florida viajava sob escolta naval. A corveta francesa La Curieuse
reagiu ao ataque e afundou, nas horas seguintes, o Provana, do comandante Marcello.
No segundo acidente de guerra, o Florida foi bombardeado, incendiado e afundado no porto de Bougie, por aviões alemães. Este bombardeamento foi o mesmo que vitimou o Alsina.
Com o novo nome Ascania e uma só chaminé, em cartão postal da época
Recuperado - Mas o Florida teria um destino final diferente. Retirado do fundo do mar em maio de 1944, seria levado à base naval de Toulon (França), onde seria totalmente reconstruído, saindo quase
novo do estaleiro. Voltou à Rota de Ouro e Prata com os aspectos externos e internos totalmente diferentes do que eram antes do início da guerra. Superestrutura mais compacta, alojamentos mais espaçosos, decoração moderna, uma grossa chaminé com o
novo emblema da SGTM pintado entre as duas faixas negras e vermelha central.
Era o mês de dezembro de 1948. O Florida faria então em seguida algumas viagens por conta da Organização Internacional de Refugiados entre a Europa e a América Latina, e sob as cores da Chargeurs Reunis, que
o afretava esporadicamente.
Quatro anos mais tarde, com a entrada em serviço dos novos transatlânticos da SGTM, o Provence e o Bretagne, a armadora decidiu afretar o Florida para a companhia Paquet.
Foi assim transferido para a linha entre Marselha e o Marrocos, substituindo o Djenne, que em agosto de 1952 havia sofrido danos de monta em uma colisão no Estreito de Gibraltar.
No ano seguinte, passou, também afretado, para a linha entre a França e a Indochina, e em 1954, sempre na mesma condição, realizou uma viagem até Jeddah (Arábia Saudita) por conta da companhia Fabre.
Em maio de 1955, foi vendido à Siosa Line e teve seu nome mudado para Ascania, sua bandeira passando para a italiana. Realizou algumas viagens, transportando tropas francesas no Mediterrâneo. A Siosa Line
(ou Sicula Oceanica S.p.A.) pertencia aos armadores italianos Grimaldi. O Ascania serviu aos interesse do grupo tendo Palermo como porto de registro e Gênova como base operacional. Em 1957, foi reformado e passou a operar na ligação entre a
Itália, a Venezuela e o Caribe.
Sua carreira continuou como navio-cruzeiro e isto a partir de 1966. Dois anos mais tarde, com a respeitável idade de 42 anos, desapareceu sob as tochas de acetileno dos demolidores de navios do porto de La Spezia.
"Florida - O navio Florida aparece neste cartão-postal oficial da armadora francesa Société Générale de Transports Maritimes (SGTM), com seu desenho original de quando foi
construído pelo Ateliers & Chantiers de La Loire, de Saint Nazaire, em 1926. Fazia a linha entre Marselha e portos sul-americanos. Em 1931 colidiu com o porta-aviões britânico Glorious, perto do Estreito de Gibraltar, devido a um nevoeiro
repentino. Foi rebocado para Málaga por dois destróieres britânicos e depois retornou a Marselha, onde sofreu reparos. Durante a II Guerra Mundial, em 1942, foi bombardeado e afundado por um avião Axis, em Bone, na Indonésia. Em 1944 foi reflutuado
e recondicionado em Toulon. Em 1948 passou por ampla reforma, reduzindo de duas para uma chaminé e remodelando suas acomodações internas. Em 1951 foi vendido para a companhia Chargeurs Reunis, mantendo o nome. Nele, como muitos imigrantes do
pós-guerra, veio de Gênova o amigo Vittorio Serafin, com os pais Francesco e Cristina, embarcando no dia 13 de janeiro de 1952 e chegando ao porto do Rio de Janeiro no dia 31. Em 1955 o navio foi vendido para a italiana Grimaldi Siosa lines e foi
rebatizado como Ascania. Em 1968 foi demolido em estaleiro italiano".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
13/3/2006) |