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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Bahia

1872-1916 - depois Cremon,  Dalmatia e Fides

Charles Mitchell nasceu na escócia em 1820 e, desde muito jovem, empregou-se numa fundição de sua cidade natal, Aberdeen, onde fez seu aprendizado. Aos 22 anos de idade, mudou-se para Newcastle (Inglaterra), indo trabalhar num dos estaleiros pioneiros na construção naval em ferro da época, estaleiro este pertencente ao sr. John H.S. Coutts, também ele originário de Aberdeen.

Após 1844, C. Mitchell fez de novo sua bagagem, desta vez para morar e trabalhar em Londres, num outro estaleiro, o de Maudslay, Son & Field. Por conta destes, o jovem Mitchell teve oportunidade, no decurso de suas funções, de viajar extensivamente pela França, Itália e Alemanha.

Este último país teria grande influência no decurso de seu futuro. Ao voltar à Inglaterra em 1850, Mitchell decidiu montar seu próprio estaleiro de construção naval e, dois anos mais tarde, estabelecia-se por conta própria em Newcastle, abrindo as portas para o desenvolvimento de seus próprios negócios.

Seu novo estaleiro, situado em Low Walker, às margens do Rio Tybe, iniciou em 1853 os trabalhos num pequeno vapor de cabotagem (linha de navegação doméstica) destinado à Austrália, sendo o primeiro de nada menos do que outros 450 navios que seriam construídos por John C. Mitchell & Co. até o ano de 1888.

Em 1869, C. Mitchell associou-se aos armadores Watts e Milburn, ambos de Newcastle, e ao sr. August Bolten, originário de Hamburgo (Alemanha)  e intermediário de negócios marítimos, para a criação de uma nova empresa armadora, que levou o nome de Hamburg Brasilianische D.G. (HBDG). Esta nova companhia marítima tinha por finalidade - como seu próprio nome indicava - estabelecer um serviço de linha de vapores entre a Alemanha e o Brasil.

Primeiro no nome - Foi assim que, em 1869, C. Mitchell construiu em seu estaleiro o pequeno vapor batizado Santos, o primeiro a levar este nome, jamais até então utilizado, e que realizou viagem inaugural entre Hamburgo e Santos em junho de 1869. Neste mesmo ano, outros dois vapores foram entregues à HBDG, o Brazilian e o Rio, ambos também produtos do estaleiro de C. Mitchell.

Chegamos então ao ano de 1871, quando os três sócios da HBDG, apoiados por substancial financiamento por parte do Commerz & Disconto Bank de Hamburgo, puderam estabelecer uma nova empresa, que se sucederia à HBDG e na qual seriam incorporados os três vapores citados e outros ainda a serem construídos.

A nova companhia recebeu o nome de Hamburg-Südamerikanischen D.G. (HSDG) e ficaria conhecida mundialmente como Hamburg-Süd, armadora que, mais de um século depois de sua fundação, é uma potência de primeiro plano no mundo dos negócios e transportes marítimos.

Em 1872, incorporando os três vapores da antiga HBDG, a Hamburg-Süd iniciou suas operações para a costa Leste da América do Sul com a famosa bandeira da casa (quatro triângulos invertidos, dois em campo branco e dois em campo vermelho) e com seus navios levando chaminé inteiramente em cor negra. Tão logo formada, a HSDG providenciou a compra de um vapor que se encontrava em construção no estaleiro de J.Laing, de Sunderland.


Em quadro de Benedito Calixto, o Bahia, em frente à curva do antigo cais do Paquetá, 
deixando o porto de Santos
Imagem: reprodução do quadro, publicada com a matéria

Navios - Em 27 de março de 1872, este vapor foi-lhe entregue e, um mês mais tarde, em 6 de maio, zarparia em viagem inaugural para os portos do Brasil e pela primeira vez também Buenos Aires (Argentina), em cujo porto chegou em 14 de julho.

O Bahia seria seguido por um quarteto de novos vapores construídos durante o ano de 1872 e que realizariam suas viagens inaugurais no decurso de 1873. Eram estes o Buenos Aires, Montevideo, Argentina e Valparaiso, dos quais o segundo e o terceiro mencionados eram produtos dos estaleiros de C. Mitchell.

O Bahia permaneceu na Rota de Ouro (Brasil) e Prata (Uruguai/Argentina) de 1872 a 1885, realizando inúmeras viagens entre Hamburgo e Buenos Aires e escalando nos tradicionais portos brasileiros de Bahia e Pernambuco (como eram denominados, na época, os atuais portos de Salvador e Recife), Rio de Janeiro e Santos.

Em 1885, a Hamburg-Süd possuía uma frota de 16 vapores, metade dos quais tinha menos do que quatro anos de existência. Nesse mesmo ano foi entregue o Desterro, de 2.011 toneladas de arqueação bruta, e a HSDG, para completar o pagamento ao estaleiro construtor deste vapor (estaleiro que era o Blohm & Voss, de Hamburgo), cedeu-lhe em troca o Bahia, que contava já então 13 anos de serviço.

Poucos meses antes deste fato, e no decurso de uma das suas derradeiras visitas a Santos, o Bahia foi objeto de uma tela do mestre pintor Benedicto Calixto, que o imortalizou em plena navegação, saindo pelo canal do estuário e passando em frente à curva do antigo cais do Paquetá.

No estaleiro - O estaleiro Blohm & Voss decidiu então reformá-lo antes de proceder a uma nova venda, e o Bahia recebeu novo maquinário de tríplice expansão, que substituiu a máquina a vapor de dois cilindros originais, dando-lhe uma velocidade superior.

Em fevereiro de 1887, foi vendido à armadora alemã Hansa, que o utilizou nas rotas do Mar do Norte e do Atlântico setentrional, com o nome de Cremon, durante cinco anos. Em junho de 1892, a Hansa vendeu seu Cremon para a Hapag, juntamente com outros quatro vapores que eram de sua propriedade.

A Hapag colocou estes cinco navios na sua linha ligando Hamburgo a Montreal (Canadá) e dois anos mais tarde procedia a uma mudança de nomes. Assim, o Cremon passou a ser chamado sob o nome de Dalmatia e os outros quatro tiveram seus nomes de registro mudados para Canadia (ex-Steinhoft), Scotia (ex-Grimm), Hispania (ex-Wandrahm) e Dalecarlia (ex-Grasbrook).

Subseqüentemente, a Hapag compraria mais outros quatro vapores da Hansa. Tais transações eram devidas ao término de um contrato de colaboração entre a Hapag  e a Hansa, a primeira reforçando assim sua frota, que já contava então com mais de 50 navios.

Em 1897, nova passagem de venda a um outro armador alemão, D. Furhmann, de Albis, que reteve seu nome de Dalmatia e o utilizou entre a Alemanha e os países escandinavos por cerca de três anos.

Passou em seguida (1900) para a propriedade de uma pequena armadora italiana, a Raimondo Mollinari, que o rebatizou Fides e utilizou o antigo vapor nas linhas mediterrâneas até 1916, quando foi vendido para demolição em Gênova (Itália).

Bahia:

Outros nomes: Cremon (1887), Dalmatia (1893), Fides (1900)
Bandeira: alemã
Armador: Hamburg-Brasilianische DG (HBDG)
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: J. Laing (porto: Sunderland)
Ano da viagem inaugural: 1872
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 1.988
Comprimento: 92 m
Boca (largura): 10 m
Velocidade média: 10 nós
Chaminés: 1
Mastros: 3
Passageiros: 200
Classes: 1ª -   40
                3ª - 160

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 12/5/1994