Santos se torna
a Terra da Melhor Idade
Qualidade de vida é
um dos principais atrativos
Carlos Pimentel Mendes (*)
Santos
ostenta, entre outros títulos, o de cidade mais esportiva do mundo
e o de cidade-dormitório, além de ser uma das cidades brasileiras
com melhores índices de qualidade de vida. Fatores assim vêm
definindo as condições para que aos poucos Santos vá
se transformando também na "Melhor (C)idade", ou "Cidade da
Melhor Idade".
Numa época em que os idosos
começam a descobrir que aposentadoria não significa fim de
carreira, muito pelo contrário - e vão à universidade,
e iniciam novas atividades, e aprendem computação, e começam
a realizar turismo ecológico, por exemplo -, suas atenções
se voltam para uma cidade quase toda plana (e portanto fácil de
percorrer), com praias ajardinadas (ótimas para um final de tarde),
muitas atividades esportivas (para manter a forma) e de lazer, bom clima,
além de inúmeros serviços e confortos nem sempre existentes
em outras cidades.
É Santos, que em tempos recentes
era chamada de cidade-dormitório, pois muita gente reside junto
à praia e se desloca diariamente à capital paulista para
trabalhar ou estudar. Gente que prefere fazer essas viagens diárias
serra acima e serra abaixo a enfrentar o enfumaçado trânsito
paulistano. Gente que, ao se aposentar, continua residindo na planície
e indo à capital apenas quando precisa de algum serviço ou
produto específico não encontrado na região.
Dadas as explicações
para esse comportamento, vejamos as causas e como ele se reflete sobre
a própria cidade. Nas estatísticas, encontramos os primeiros
indícios: a média de idosos em Santos (14,5% da população
tem pelo menos 60 anos de idade) já é substancialmente superior
à do resto de São Paulo (6%). Desses idosos de Santos, 80%
têm renda superior a 1,5 salário mínimo.
República
Bem Viver (E) e Espaço Meninas (abrigo de adolescentes grávidas
com apoio de idosos) Fotogramas:
TV Cultura/SP - Programa Caminhos & Parcerias - Idosos
Causas – A princípio,
parecia que, apenas por falta de melhores oportunidades locais de trabalho,
os jovens deixavam a Cidade, que ficava assim entregue aos cidadãos
já radicados e geralmente com mais idade. Causa ou efeito, isso
fez com que, aos poucos, a cidade fosse se amoldando a esse cada vez mais
numeroso grupo de munícipes: guias rebaixadas, gratuidade e facilidade
de acesso nos transportes urbanos (lei 115
de 25/2/94, alterando legislação anterior), desenvolvimento
de serviços voltados às faixas etárias mais elevadas.
Com exemplos assim, em algum momento
da década de 90, essa tendência começou a aflorar no
surgimento de atividades específicas para a Terceira Idade, até
mesmo uma universidade especial - a Universidade da Terceira Idade, iniciativa
da Universidade Católica de Santos (Unisantos).
O antigo Asylo dos Invalidos se reciclou,
mudou para um lugar melhor e agora completa seu centenário, com
a nova denominação de Casa
do Sol. Ali não há um "depósito de velhos", como
ainda são encontrados em outras cidades, mas um grupo de pessoas
com atividades apropriadas e monitoradas, com todo o acompanhamento necessário
de geriatras e especialistas em enfermagem, nutrição, fisioterapia,
lazer etc.
Foi em Santos que surgiu uma experiência
pioneira: a República Bem Viver, criada em 1996 pela Secretaria
de Ação Comunitária da prefeitura santista, em parceria
com a Cohab. O projeto adaptou para a Terceira Idade o tradicional estilo
de vida dos estudantes de poucos recursos, criando habitações
comunitárias para pessoas com renda a partir de um salário
mínimo
e idade a partir dos 60 anos.
Na virada do século, novos
projetos avançaram nessa direção, como o Vovô
Sabe-Tudo: criado pela lei 1663 de 11/3/1998,
tem por fim a valorização do idoso, permitindo que pessoas
de baixa renda nessa faixa etária sejam contratadas pela Municipalidade
para transmitir sua experiência aos adolescentes, atuando como contadores
de histórias, artesãos e até como guias turísticos
e motorneiros/cobradores de bonde).
E os projetos vão ficando
mais ousados: o mais recente (iniciado em 2004) é o de inclusão
digital para a Terceira Idade, que proporciona aulas de informática
específicas para os mais idosos, além de acesso gratuito
à Internet.
Na
página Web de um programa
de televisão, um exemplo do que vem acontecendo em Santos Imagens: TV
Cultura/SP - Programa Caminhos & Parcerias - Idosos
Efeitos – Os especialistas
em análise de consumo já advertiram há mais de uma
década: com os avanços médicos e sanitários
que permitem cada vez a mais pessoas uma vida mais longa e saudável,
está se criando um grupo de consumidores já livres dos encargos
de formação do patrimônio familiar e da criação
dos filhos, e portanto com mais tempo e dinheiro livres para investirem
em si mesmos. Pessoas com disposição para viajar, participar
de atividades artísticas (ou ao menos assisti-las), complementar
estudos... - enfim, fazer tudo o que não tiveram oportunidade de
fazer nas primeiras décadas de sua vida.
São pessoas exigentes, que
querem qualidade, atenção, variedade. Sabem escolher e sabem
o que querem. Mas também precisam de serviços formatados
para elas e suas necessidades - facilidades para locomoção
e acesso, nível de esforços (visual, auditivo, de movimentação)
adequado à sua idade, facilidades médicas e de emergência
sempre à disposição.
Santos reúne diversas facilidades
assim: tem clima geralmente ameno, a locomoção é facilitada
por ser uma cidade de planície quase absoluta, já tem a tradição
de ser uma cidade com abundante oferta de serviços. Nos últimos
anos, um bonde circulando por um centro
histórico revitalizado é um atrativo para todas as idades,
mas principalmente para aqueles que, na melhor idade, querem recordar cenas
de sua infância.
Enquanto isso, outro grupo de idosos,
que busca atividades físicas e de lazer,
surpreende cada vez mais com sua vitalidade os organizadores de eventos
originalmente destinados a pessoas mais novas: muitas vezes, num evento
esportivo para jovens, pode-se descobrir que mais da metade dos participantes
tem (muito) mais de 60 anos de idade. Para eles, a festa não é
só no dia 28 de setembro (pela lei
1.857 de 6/4/2000, é o "Dia Municipal do Idoso"), mas todos
os dias do ano.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo
Milênio.
Uma
das páginas Web da Universidade da Terceira Idade
Veja mais: Leis
santistas para idosos Tempo
de inclusão social |