Engenharia
Prédios
inclinados: seminário apresentou soluções
Evento
trouxe a experiência da Torre de Pisa Foto: Sandra
Netto
Cerca
de 300 pessoas participaram nos dias 17 e 18/11/2003 do seminário
Passado,
Presente e Futuro dos Edifícios da Orla Marítima de Santos,
no Centro de Convenções Mendes, em Santos. O evento, realizado
pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado
de São Paulo (SindusCon-SP) e pela Associação Brasileira
de Mecânica dos Solos (ABMS), foi aberto pelo prefeito Beto Mansur,
e reuniu construtores, projetistas, consultores, autoridades e estudantes
para discutir os diversos aspectos relacionados aos edifícios inclinados
da orla.
O
italiano Michele falou sobre o caso da Torre de Pisa Foto: Sandra
Netto
O
destaque da programação foi a palestra do consultor italiano
Michele Jamiolkowsky, que expôs sua experiência como coordenador
geral das obras de estabilização da Torre de Pisa, na Itália.
Segundo ele, os dois problemas são semelhantes apenas aparentemente,
já que as causas são diferentes. "Na orla de Santos a inclinação
foi causada pela interação entre os prédios. A Torre
de Pisa é isolada, é um fenômeno completamente diferente.
Entretanto, o mesmo método de recuperação poderia,
em alguns casos, ser utilizado em Santos", afirmou.
Outra palestra que gerou interesse
foi a do especialista em reforço de fundações, o mexicano
Efraím Ovando Séller. Ele apresentou as técnicas de
fraturamento hidráulico e injeção de calda de cimento,
utilizadas para renivelamento de edifícios na Cidade do México,
onde, assim como Santos, é péssima a qualidade do solo. Diretor da Regional Sul do SindusCon-SP,
o engenheiro João Batista de Azevedo, dono da Engecon, encerrou
o evento com a palestra Viabilidades econômicas de renivelamento
de edifícios.
Jack Rafal
e João Batista, diretor do SindusCon-SP Foto: Sandra
Netto
Engenheiro faz avaliação
do evento
Para
o engenheiro Jack Rafal, da Fundações Penna Rafal, foi muito
bom o seminário organizado pela ABMS e SindusCon-SP. Ele ressaltou
a participação dos principais consultores em mecânica
dos solos de São Paulo, empresas executoras de fundações,
projetistas estruturais e representantes da Prefeitura de Santos, relacionando
como principais temas abordados as causas dos recalques, a maneira de reaprumar
os edifícios, as melhores formas de fazer pesquisa geotécnica
profunda, a instrumentação das novas estruturas a serem executadas,
os mecanismos de financiamento dos serviços, os custo de reparos
e reaprumos e valorização dos imóveis corrigidos.
Ele salientou ainda o interesse despertado
pelas palestras que informaram sobre a experiência internacional,
na Itália e no México. Segundo foi possível constatar,
os custos das correções estão caindo e hoje já
são menores de que o acréscimo do valor dos imóveis
proporcionado pelo reaprumo. "Alguns prédios não poderão
ser corrigidos, mas não apresentam risco de ruína. Provavelmente,
serão demolidos e substituídos quando o desaprumo se tornar
intolerável para os moradores", afirmou.
Como principais conclusões,
Rafal considerou a necessidade de caracterizar melhor os solos através
de ensaios geotécnicos profundos; instrumentar o maior número
possível de edifícios durante a construção
de maneira obter séries de dados sobre o funcionamento das estruturas
ao longo do tempo; criar um grupo de trabalho para sistematizar os estudos
relativos ao assunto e orientar a Prefeitura de Santos numa metodologia
de acompanhamento; evitar soluções via legislativa, tendo
em vista a diversidade das configurações dos solos e a concentração
dos problemas mais críticos na orla entre o Gonzaga e o Canal 5;
valorizar a atuação do engenheiro, pois cada caso é
um caso e deve ser tratado por empresas especializadas e profissionais
do ramo.
Beto Mansur:
sensibilizar o governo para o problema social Foto: Sandra
Netto
Prefeitura busca linha de crédito
especial
A Prefeitura
de Santos acompanha atenta a questão dos prédios inclinados
e segundo informaram o prefeito Beto Mansur e o secretário de Obras,
Antonio Carlos Gonçalves Filho, estão sendo desenvolvidas
gestões para equacionar o problema. O prefeito informou que a Municipalidade
busca junto à Caixa Econômica Federal a viabilização
de uma linha de crédito para a recuperação dos edifícios.
"Temos que considerar que muitos proprietários dessas edificações
não têm recursos para arcar com as despesas de recuperação.
Temos que sensibilizar o governo para este grave problema social, considerando
que Santos é o único lugar no Brasil que sofre com esse problema",
frisou.
Para Gonçalves Filho, um dos
entraves para a demora de uma posição da CEF refere-se à
formatação da linha de crédito solicitada pela Prefeitura.
Ele explicou que atualmente as linhas de crédito imobiliário
existentes no País colocam o imóvel como garantia do financiamento,
mas, em Santos, o imóvel é o risco.
O prefeito salientou que hoje existem
inúmeras tecnologias que podem ser aplicadas na recuperação
dos prédios, citando o caso do Núncio Malzoni, e algumas
esbarram nos altos custos. "O Núncio foi um dos prédios
pioneiros e custou caro sua recuperação. Acredito que os
próximos prédios vão poder ser recuperados com um
custo menor”. Sobre a opção, recuperar ou demolir, Beto Mansur
considerou que isso vai depender do interesse econômico de quem vive
no prédio: "De nossa parte, estamos buscando uma forma de obter
recursos".
Paralelamente, conforme acrescentou
o secretário de Obras, são necessários estudos mais
aprofundados para saber a condição de cada um dos 100 edifícios
que estão comprometidos na orla. "É importante que tenhamos
esses estudos rapidamente, para saber a vida útil de cada uma dessas
edificações e poder fazer um planejamento até de longo
prazo para recuperá-las", disse, lembrando que a Prefeitura está
viabilizando um convênio com a Universidade de São Paulo (USP),
para, em parceria com universidades locais, fazer a leitura dessas edificações,
para que se conheça efetivamente o grau de inclinação
de cada uma delas e o comportamento do solo.
Edison
Lelli, da Engemix, Júlio Coelho e Walter Roberto Iorio Foto: Sandra
Netto
Tecnologia nacional resolve o problema
Congregando
45 das principais empresas do setor no País, a Associação
Brasileira das Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia
(ABEF), foi uma das entidades que apoiou o seminário. Para o presidente
do Conselho, José Luiz Saes, proprietário da Anson S/A –
empresa que atua há 42 anos no ramo de Fundações e
Geotecnia –, o Brasil detém hoje todas as tecnologias utilizadas
no mundo no que se refere a fundações, como resultado de
pesquisas desenvolvidas por empresas nacionais a partir da década
de 70, na execução de obras como o Metrô, Rodovia dos
Imigrantes e as grandes barragens. "O Brasil é um dos poucos países
da América do Sul, no qual as empresas brasileiras resolvem os seus
próprios problemas, não precisando importar, como Argentina,
Chile, Venezuela, Colômbia e outros", frisou.
Ele salientou que o esforço
que as empresas brasileiras fizeram no período, através da
criatividade e empenho, trouxe uma grande economia de divisas para o País.
"Para se enfrentar o problema dos prédios inclinados da orla de
Santos, há várias tecnologias nacionais e todas podem ser
usadas, dependendo de cada caso. As empresas brasileiras são suficientemente
capazes de resolver esse problema", enfatizou. Ao ser questionado sobre
a opção discutida em Santos, demolir ou recuperar os prédios
inclinados, Saes é pragmático: "Vai depender de estudos que
levem em consideração o valor do empreendimento, valor da
recomposição e o problema social. Cada caso é um caso".
Nicolau
e Carine Hartmann, da Engemix, e Franco Pagani, da Teste Engenharia Foto: Sandra
Netto
O Bloco B do Núncio Malzoni
Uma das
palestras do seminário foi proferida pelo superintendente da Brasfond
fundações especiais, Armando Negreiros Caputo, que apresentou
o resultado de provas de carga a compressão em “estaca-teste”, realizada
previamente à execução da obra que permitirá
o renivelamento do Bloco B do Edifício Núncio Malzoni. A
"estaca-teste" é uma estaca raiz de grande diâmetro de 40
cm e comprimento de 55 metros. Ele detalhou que também foi executada
outra "estaca-teste", estaca raiz curta, e que foi ensaiada a tração
para avaliar-se a contribuição por atrito lateral, da camada
de areia superficial.
Numa das conclusões do trabalho,
o especialista frisou que, em se tratando de estacas longas e imersas em
solo de baixa resistência, a armadura soldada ou com luvas (quer
seja tubo ou gaiola) tende a ter um comportamento estrutural melhor que
a armadura feita por transpasse. "É importante enfatizar que a preocupação
técnica sempre norteou as decisões e, por se tratar de solução
não convencional, os testes realizados, através de estacas-teste,
foram fundamentais para o embasamento da solução e, ao nosso
ver, uma prática saudável em situações similares
futuras", enfatizou Caputo.
Sob o ponto de vista do tipo de fundação,
o Bloco B, pela sua característica, teve um tratamento diferente
do adotado no Bloco A. Através da Brasfond, o Bloco B já
recebeu as novas fundações e está preparado para a
próxima fase, de renivelamento. A Brasfond tem realizado uma série
de trabalhos no Litoral Paulista, tanto na implantação de
fundações profundas em prédios novos quanto no reforço
de edificações.
Antonio
Soares (Brasfond), Nelson Tobal (Solotec) e Frederico Falconi (ZF Construção) Foto: Sandra
Netto
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