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Edição 126 - Nov/Dez/2003

Engenharia

Prédios inclinados: seminário apresentou soluções

Evento trouxe a experiência da Torre de Pisa
Foto: Sandra Netto

Cerca de 300 pessoas participaram nos dias 17 e 18/11/2003 do seminário Passado, Presente e Futuro dos Edifícios da Orla Marítima de Santos, no Centro de Convenções Mendes, em Santos. O evento, realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), foi aberto pelo prefeito Beto Mansur, e reuniu construtores, projetistas, consultores, autoridades e estudantes para discutir os diversos aspectos relacionados aos edifícios inclinados da orla.

O italiano Michele falou sobre o caso da Torre de Pisa
Foto: Sandra Netto
O destaque da programação foi a palestra do consultor italiano Michele Jamiolkowsky, que expôs sua experiência como coordenador geral das obras de estabilização da Torre de Pisa, na Itália. Segundo ele, os dois problemas são semelhantes apenas aparentemente, já que as causas são diferentes. "Na orla de Santos a inclinação foi causada pela interação entre os prédios. A Torre de Pisa é isolada, é um fenômeno completamente diferente. Entretanto, o mesmo método de recuperação poderia, em alguns casos, ser utilizado em Santos", afirmou.

Outra palestra que gerou interesse foi a do especialista em reforço de fundações, o mexicano Efraím Ovando Séller. Ele apresentou as técnicas de fraturamento hidráulico e injeção de calda de cimento, utilizadas para renivelamento de edifícios na Cidade do México, onde, assim como Santos, é péssima a qualidade do solo.
Diretor da Regional Sul do SindusCon-SP, o engenheiro João Batista de Azevedo, dono da Engecon, encerrou o evento com a palestra Viabilidades econômicas de renivelamento de edifícios.


Jack Rafal e João Batista, diretor do SindusCon-SP
Foto: Sandra Netto

Engenheiro faz avaliação do evento

Para o engenheiro Jack Rafal, da Fundações Penna Rafal, foi muito bom o seminário organizado pela ABMS e SindusCon-SP. Ele ressaltou a participação dos principais consultores em mecânica dos solos de São Paulo, empresas executoras de fundações, projetistas estruturais e representantes da Prefeitura de Santos, relacionando como principais temas abordados as causas dos recalques, a maneira de reaprumar os edifícios, as melhores formas de fazer pesquisa geotécnica profunda, a instrumentação das novas estruturas a serem executadas, os mecanismos de financiamento dos serviços, os custo de reparos e reaprumos e valorização dos imóveis corrigidos.

Ele salientou ainda o interesse despertado pelas palestras que informaram sobre a experiência internacional, na Itália e no México. Segundo foi possível constatar, os custos das correções estão caindo e hoje já são menores de que o acréscimo do valor dos imóveis proporcionado pelo reaprumo. "Alguns prédios não poderão ser corrigidos, mas não apresentam risco de ruína. Provavelmente, serão demolidos e substituídos quando o desaprumo se tornar intolerável para os moradores", afirmou.

Como principais conclusões, Rafal considerou a necessidade de caracterizar melhor os solos através de ensaios geotécnicos profundos; instrumentar o maior número possível de edifícios durante a construção de maneira obter séries de dados sobre o funcionamento das estruturas ao longo do tempo; criar um grupo de trabalho para sistematizar os estudos relativos ao assunto e orientar a Prefeitura de Santos numa metodologia de acompanhamento; evitar soluções via legislativa, tendo em vista a diversidade das configurações dos solos e a concentração dos problemas mais críticos na orla entre o Gonzaga e o Canal 5; valorizar a atuação do engenheiro, pois cada caso é um caso e deve ser tratado por empresas especializadas e profissionais do ramo.


Beto Mansur: sensibilizar o governo para o problema social
Foto: Sandra Netto

Prefeitura busca linha de crédito especial

A Prefeitura de Santos acompanha atenta a questão dos prédios inclinados e segundo informaram o prefeito Beto Mansur e o secretário de Obras, Antonio Carlos Gonçalves Filho, estão sendo desenvolvidas gestões para equacionar o problema. O prefeito informou que a Municipalidade busca junto à Caixa Econômica Federal a viabilização de uma linha de crédito para a recuperação dos edifícios. "Temos que considerar que muitos proprietários dessas edificações não têm recursos para arcar com as despesas de recuperação. Temos que sensibilizar o governo para este grave problema social, considerando que Santos é o único lugar no Brasil que sofre com esse problema", frisou.

Para Gonçalves Filho, um dos entraves para a demora de uma posição da CEF refere-se à formatação da linha de crédito solicitada pela Prefeitura. Ele explicou que atualmente as linhas de crédito imobiliário existentes no País colocam o imóvel como garantia do financiamento, mas, em Santos, o imóvel é o risco.

O prefeito salientou que hoje existem inúmeras tecnologias que podem ser aplicadas na recuperação dos prédios, citando o caso do Núncio Malzoni, e algumas esbarram nos altos custos. "O Núncio foi um dos prédios pioneiros e custou caro sua recuperação. Acredito que os próximos prédios vão poder ser recuperados com um custo menor”. Sobre a opção, recuperar ou demolir, Beto Mansur considerou que isso vai depender do interesse econômico de quem vive no prédio: "De nossa parte, estamos buscando uma forma de obter recursos".

Paralelamente, conforme acrescentou o secretário de Obras, são necessários estudos mais aprofundados para saber a condição de cada um dos 100 edifícios que estão comprometidos na orla. "É importante que tenhamos esses estudos rapidamente, para saber a vida útil de cada uma dessas edificações e poder fazer um planejamento até de longo prazo para recuperá-las", disse, lembrando que a Prefeitura está viabilizando um convênio com a Universidade de São Paulo (USP), para, em parceria com universidades locais, fazer a leitura dessas edificações, para que se conheça efetivamente o grau de inclinação de cada uma delas e o comportamento do solo.


Edison Lelli, da Engemix, Júlio Coelho e Walter Roberto Iorio
Foto: Sandra Netto


Tecnologia nacional resolve o problema

Congregando 45 das principais empresas do setor no País, a Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia (ABEF), foi uma das entidades que apoiou o seminário. Para o presidente do Conselho, José Luiz Saes, proprietário da Anson S/A – empresa que atua há 42 anos no ramo de Fundações e Geotecnia –, o Brasil detém hoje todas as tecnologias utilizadas no mundo no que se refere a fundações, como resultado de pesquisas desenvolvidas por empresas nacionais a partir da década de 70, na execução de obras como o Metrô, Rodovia dos Imigrantes e as grandes barragens. "O Brasil é um dos poucos países da América do Sul, no qual as empresas brasileiras resolvem os seus próprios problemas,  não precisando importar, como Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia e outros", frisou.

Ele salientou que o esforço que as empresas brasileiras fizeram no período, através da criatividade e empenho, trouxe uma grande economia de divisas para o País. "Para se enfrentar o problema dos prédios inclinados da orla de Santos, há várias tecnologias nacionais e todas podem ser usadas, dependendo de cada caso. As empresas brasileiras são suficientemente capazes de resolver esse problema", enfatizou. Ao ser questionado sobre a opção discutida em Santos, demolir ou recuperar os prédios inclinados, Saes é pragmático: "Vai depender de estudos que levem em consideração o valor do empreendimento, valor da recomposição e o problema social. Cada caso é um caso".


Nicolau e Carine Hartmann, da Engemix, e Franco Pagani, da Teste Engenharia
Foto: Sandra Netto


O Bloco B do Núncio Malzoni

Uma das palestras do seminário foi proferida pelo superintendente da Brasfond fundações especiais, Armando Negreiros Caputo, que apresentou o resultado de provas de carga a compressão em “estaca-teste”, realizada previamente à execução da obra que permitirá o renivelamento do Bloco B do Edifício Núncio Malzoni. A "estaca-teste" é uma estaca raiz de grande diâmetro de 40 cm e comprimento de 55 metros. Ele detalhou que também foi executada outra "estaca-teste", estaca raiz curta, e que foi ensaiada a tração para avaliar-se a contribuição por atrito lateral, da camada de areia superficial.

Numa das conclusões do trabalho, o especialista frisou que, em se tratando de estacas longas e imersas em solo de baixa resistência, a armadura soldada ou com luvas (quer seja tubo ou gaiola) tende a ter um comportamento estrutural melhor que a armadura feita por transpasse. "É importante enfatizar que a preocupação técnica sempre norteou as decisões e, por se tratar de solução não convencional, os testes realizados, através de estacas-teste, foram fundamentais para o embasamento da solução e, ao nosso ver, uma prática saudável em situações similares futuras", enfatizou Caputo.

Sob o ponto de vista do tipo de fundação, o Bloco B, pela sua característica, teve um tratamento diferente do adotado no Bloco A. Através da Brasfond, o Bloco B já recebeu as novas fundações e está preparado para a próxima fase, de renivelamento. A Brasfond tem realizado uma série de trabalhos no Litoral Paulista, tanto na implantação de fundações profundas em prédios novos quanto no reforço de edificações.


Antonio Soares (Brasfond), Nelson Tobal (Solotec) e Frederico Falconi (ZF Construção)
Foto: Sandra Netto 

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