Engenharia
Efeito dominó,
desabamento, abalo de prédios vizinhos e outras lendas...
Carlos Pimentel Mendes (*)
Em todo
esse debate, surgiram algumas lendas e situações a esclarecer.
A hipótese do efeito dominó - um prédio cair sobre
o vizinho, derrubando-o sobre o seguinte e assim por diante - não
existe, pois o prédio em tal situação se desmancha
sobre si mesmo, sem força para provocar o desmoronamento do prédio
ao lado.
Edifício
Excelsior, na esquina com o canal 4: recalque acentuado Foto: Luiz
Carlos Ferraz
Existe agora o temor de abalos estruturais
nos prédios vizinhos provocados pelas novas edificações
de maior altura ora em construção. Não é verdade,
pois como elas se apoiam diretamente no subsolo rochoso, não deslocam
as camadas intermediárias com seu peso.
As pessoas também falam muito
em velocidade de recalque constante, que "é bom quando ela se estabiliza
em 1 a 1,5 mm ao mês, mesmo sendo considerável". Isso não
significa que o prédio parou de inclinar, apenas que ele mantém
um padrão de inclinação. É a diferença
entre um carro estacionar ou rodar sempre na mesma velocidade. O grande
problema é o diferencial de recalque: se o prédio afundasse
por igual, na vertical, seria menos ruinoso, pois a diferença de
recalque faz com que partes da estrutura sofram cada vez mais esforços,
para os quais não foi prevista. Aliás, na maioria dos casos
perdeu-se a memória dos cálculos estruturais (a Prefeitura
tem apenas o projeto arquitetônico); não se sabe a quantidade
e a posição do aço usado em cada viga, por exemplo.
Os prédios inclinados também
não cairão repentinamente. Algumas semanas antes do colapso,
começam os avisos, na forma de trincas e rachaduras cada vez mais
rápidas, e aumento na velocidade do recalque, o que dá tempo
de evacuar o local. O problema é quando os moradores começam
a maquiar o prédio, corrigindo a aparência e não a
causa do problema, até por falta de condições financeiras
para arcar com as obras necessárias.
"A princípio - cita o engenheiro
José Eduardo Carvalho Pinto, que atuou na recuperação
do Edifício Núncio Malzoni -, não havia financiamento
porque não se sabia se a verticalização poderia ser
executada. Provamos que podia ser feita, mas os bancos tinham normas, precisaria
ser criado um pacote financeiro para os prédios inclinados, o que
envolve forças políticas. Com a grande dificuldade dos proprietários
executarem as obras, seria fundamental ter uma linha de financiamento a
longo prazo, para que as pessoas - que na época não sabiam
o que estavam comprando - passem a morar em edificações seguras
e confortáveis".
José Eduardo enfatiza a importância
de uma solução logo: "Um prédio inclinado pode precisar
de uma obra mais urgente. Se nenhuma providência for tomada, em algum
momento uma edificação dessas entrará em colapso.
Esperamos que não precise ocorrer a catástrofe para serem
tomadas as providências. Está mais do que demonstrado que
o problema existe e precisa ser resolvido".
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
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