Editorial
Efeitos do
cartel
Luiz Carlos Ferraz
A figura
da ponta visível do iceberg não é nova, mas
se adequa perfeitamente ao que está acontecendo na indústria
da construção civil no Brasil, com as recentes investigações
sobre a cartelização em diferentes segmentos que envolvem
o fornecimento de insumos, como aço, areia e brita. O
assunto foi capa da edição de junho
do Perspectiva e registrou número recorde de cartas e e-mails
à redação.
O que esperamos é a ação
enérgica do governo, através da Secretaria de Direito Econômico,
do Ministério da Justiça – seja através de iniciativa
própria, seja impulsionada por denúncias de sindicatos de
construtores, como a feita pelo SindusCon-SP –, para não deixar
dúvidas de que não serão toleradas práticas
desleais no mercado, como a manipulação na distribuição
e nos preços de matéria-prima, que impedem a livre concorrência
num setor que é fundamental para o desenvolvimento do País.
Além de desafiar a autoridade
do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois há um flagrante
boicote aos programas oficiais que visam debelar problemas sociais, por
inviabilizar a produção de moradias, encarecer obras de infra-estrutura
e impedir a geração de empregos, a estratégia desse
tipo de empresário que é investigado, sobre o qual paira
a pecha de criminoso, deve ser repudiada por toda a sociedade, especialmente
pela mídia.
Dia desses, por exemplo, um dos citados
de envolvimento no cartel do aço apareceu impávido na Imprensa,
criticando os juros altos e a política econômica do governo,
sem que, pelo menos, fosse contextualizada sua situação.
Entendemos que tal cidadão é inocente, até prova em
contrário. Na mesma medida, que sejam ouvidos Fernandinho Beira-mar
sobre a violência urbana; o outro Fernando sobre a ética na
gestão pública; o Nicolau sobre a reforma da Previdência... |