Opinião
Apenas a queda
dos juros não basta
Artur Quaresma Filho (*)
Se os
juros continuarem caindo, investidores voltarão a aplicar em empreendimentos
imobiliários, industriais, comerciais. A aquisição
de imóveis se transformará numa alternativa real aos investimentos
financeiros. A sonhada casa própria ficará mais tangível.
A arrecadação aumentará. O governo poderá contratar
mais obras públicas e de habitação popular.
Acontece que apenas uma queda dos
juros não basta. A razão é simples e assustadora.
Enquanto a renda das famílias e a demanda por obras caíram,
os preços dos insumos estratégicos da construção,
fabricados por setores oligopolizados, dispararam. De junho de 2000 a maio
de 2003, quando a inflação medida pelo IPCA foi de 35,2%,
o preço do vidro subiu 137,9%; o aço, 109,8%; e o cimento,
93,1%.
A construção civil
não pode agir como os supermercados, que se recusam a sancionar
aumentos despropositais de seus fornecedores. Os escassos fabricantes dos
insumos da construção vão subindo os preços
praticamente juntos. Quando um deles aumenta num mês, os demais o
fazem no seguinte. A alternativa teoricamente seria importar. Mas o câmbio
inviabiliza importações. Ou a construtora compra dos fornecedores
nacionais ou não faz obras.
Também é impossível
a construtora repassar esses aumentos aos clientes. Os contratos do setor
têm reajustes apenas a cada doze meses. É por isso que as
construtoras se encontram de tal modo combalidas que, se o governo apenas
baixar os juros, ainda não reunirão as condições
para uma grande retomada de obras públicas e privadas.
Há diversas medidas que podem
ser tomadas. A primeira é agir com todo o rigor contra aumentos
abusivos de preços dos fornecedores da construção.
O setor não quer a volta do monitoramento de preços, mas
uma atuação permanente do governo, no sentido de assegurar
uma concorrência efetiva entre seus fornecedores, de forma a acabar
com os reajustes abusivos.
Exemplo dessas ações
é a medida preventiva que a SDE (Secretaria de Direito Econômico)
do Ministério da Justiça acaba de tomar contra as empresas
Gerdau, Belgo-Mineira e Barra Mansa. Investigadas pelo governo por indícios
de prática de cartel no mercado de vergalhões de aço,
as siderúrgicas precisarão comunicar ao Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) as datas e o percentual de aumento de seus produtos.
E foram proibidas de usar tabelas ou quaisquer outros meios de divulgação
antecipada de preços. O objetivo, segundo a SDE, é evitar
ações concertadas entre as siderúrgicas, que receberão
multas diárias de R$ 106 mil caso não cumpram a decisão.
Providências de defesa permanente
da concorrência como essas, junto com a queda dos juros, a desoneração
tributária das empresas e uma política que efetivamente estimule
a construção civil, darão condições
ao setor de bancar o desenvolvimento do país.
(*) Artur
Quaresma Filho é presidente do Sindicato da Indústria
da Construção do Estado de São Paulo (SindusCon-SP),
coordenador da Comissão da Indústria da Construção
da Fiesp. |