Opinião
Carga pesada
Artur Quaresma Filho (*)
Finalmente
chega ao Congresso o projeto de reforma tributária preparado pelo
governo. Mais uma vez, o espírito das medidas merecerá apoio,
como ocorreu nos últimos oito anos, quando propostas semelhantes
foram apresentadas e depois lamentavelmente engavetadas pelo governo anterior.
Nesse período, a carga tributária apenas aumentou, situando-se
hoje em elevados 36,5% do PIB.
Desonerar a produção
industrial, acabar com a guerra fiscal e facilitar as exportações
são metas contra as quais não se pode colocar qualquer reparo.
Entretanto, não se vislumbra, ao menos nesse projeto, uma substancial
redução da carga tributária.
Ao contrário, os sinais são
de que esse fardo tende a ficar mais pesado para as empresas de serviços.
Afetado pelos aumentos do PIS e da Cofins, sobrecarregado pelos encargos
crescentes instituídos pelo INSS, espremido por alíquotas
de ISS que nunca caíram apesar da diminuição da inflação,
esse setor poderá ser obrigado, via aumentos de tributos, a pagar
a conta da desoneração da agricultura e da indústria.
Exemplo disso foi a aprovação
pela Câmara dos Deputados, na semana passada (N.E.:
em abril de 2003), da MP 107, com a previsão de um aumento
de 12% para 32% da base de cálculo da CSLL para empresas do setor.
A matéria ainda passará pelo Senado.
Serviços consistem de uma
ampla gama de atividades, que vão desde o prosaico barbeiro da vizinhança
até o todo-poderoso setor financeiro. Obrigar todos esses segmentos
a recolher ainda mais aos cofres públicos implicará uma injustificável
elevação do custo de vida, uma vez que os aumentos de tributos
acabam sendo repassados cedo ou tarde, apesar dos protestos dos consumidores.
Dentro de Serviços, o setor
da construção vem sendo excessivamente penalizado. Impostos
mais encargos hoje já representam uma fatia substancial do produto
do setor. A atividade da construção precisa ser cada vez
mais barateada. Não custa lembrar que estamos falando da edificação
de habitações, obras públicas, obras de infra-estrutura
e construções industriais e comerciais.
Desonerar a construção
de habitação popular, equipamentos de infra-estrutura, escolas,
hospitais e obras públicas em geral significa permitir mais rapidamente
o acesso da população ao desenvolvimento. Reduzir o custo
de empreendimentos imobiliários possibilita acesso de maior parcela
da classe média à casa própria. Se indústria
e comércio gastarem menos com construção, terão
alívio substancial em seus custos.
Espera-se que a mesma vontade política
demonstrada pelo governo na aprovação das reformas se imponha
para desonerar a construção. Como já observou o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, quanto mais essa atividade for estimulada,
maior será o acesso ao desenvolvimento e ao emprego.
Isso poderá ser obtido sem
provocar inflação e contribuirá significativamente
para reduzir a violência urbana.
(*) Artur
Quaresma Filho é presidente do SindusCon-SP e coordenador da
Comissão da Indústria da Construção da Fiesp. |